ESCURIDÃO COM MUITA LUZ


Forte emoção senti, num sábado passado à tarde, numa livraria recifense de excelentes ofertas técnico-científicas e culturais, quando me deparei com A História da Minha Vida, autoria de uma das minhas maiores admirações terrestres: Helen Adams Keller, aos 18 meses de nascida tornada surda, muda e cega, depois de acometida por uma violenta febre.

Eternizada em 1968, aos 87 anos, com 14 livros publicados, traduzidos em mais de 50 idiomas, ela foi agraciada com títulos e diplomas honoríficos por inúmeras instituições do mundo inteiro, tendo sido condecorada, no Brasil, com a Ordem do Cruzeiro do Sul; na França nomeada Cavaleiro da Legião de Honra; e no Japão agraciada com a Ordem do Tesouro Sagrado. Uma amostra das significativas homenagens prestadas por inúmeras instituições científicas e humanitárias.

Os testemunhos sobre Helen Keller são profundamente significativos. Apenas dois aqui: “A maior mulher de nossa época” (Winston Churchill) e “Ela será famosa daqui a mil anos como é agora” (Mark Twain). Consagração a comprovar que as deficiências físicas dela não obstaculizaram sua caminhada de sucesso como pensadora e ativista de nobilitantes causas humanas.

A história de Helen Keller foi lançada em 1903 e narra sua trajetória de vida até o terceiro ano do Radelife College, onde para ingressar prestou exames, nos dias 29 e 30 de junho de 1899, com 19 anos, em grego elementar, grego avançado, geometria, álgebra e latim avançado, tendo sido a primeira deficiente visual a se graduar naquela instituição. Em 1904, conseguiu o bacharelado cum laude (com louvor) em Letras.

Peço licença aos leitores da Besta Fubana para transcrever três cartinhas de Helen Keller. A primeira carta foi por ela redigida com 7 anos de idade para a prima Anna: “helen escreve ana george vai dar helen maçã simpson vai atirar numa ave vai dar helen um doce médico vai dar remédio mildred mãe vai fazer vestido novo mildred”. A segunda foi escrita com 11 anos para o rev. Phillips Brook: “… Minha professora acaba de me contar que o senhor se tornou bispo e que seus amigos em toda parte estão contentes porque alguém que eles amam foi grandemente honrado. Não entendo muito bem qual o trabalho de um bispo, mas tenho certeza de que deve ser bom e útil e fico contente que meu querido amigo seja corajoso e sábio e bastante amoroso para realizá-lo. É muito bonito pensar que o senhor possa falar a tantas pessoas sobre o terno amor do Pai celestial por todos os Seus filhos, mesmo quando eles não são gentis e nobres como Ele deseja que fossem. …”.

A terceira carta, a última explicitada no livro editado pela José Olympio Editora, que é a versão brasileira da edição de 2003 norte americana, ressalta a impressionante evolução do pensar de Helen Keller, ela então com apenas 21 anos, dirigida ao senador George Frisbie Hoar: “… Eu pensava que quando estudasse governo civil e economia, todas as minhas dificuldades e perplexidades iam florescer em belas certezas, mas ai de mim, vejo que há mais joio que trigo nesses férteis campos do conhecimento. …”

De parabéns a diretoria do Lions Club International, que declarou o dia 1º de junho como o “Dia de Helen Keller”. Uma excepcional iniciativa. A provocação de Helen tendo acontecido em junho de 1925, durante a Convenção do Lions Club Internacional, realizada em Cedar Point, Ohio, EUA, quando ela desafiou os Leões a se tornarem “paladinos dos deficientes visuais na cruzada contra a escuridão”. Proclamando com uma paciência histórica nunca vitimista: “Eu sou sua oportunidade. Estou batendo à sua porta.”

No Helen Keller Memorial Park, em 1971, situado no mesmo local onde ela nasceu, há um busto de Hellen Keller com uma placa gravada com os seguintes dizeres: “Eu sou sua oportunidade”.
A leitura de A História de Minha Vida alavanca entusiasmos, multiplica compromissos e agiganta as mentes mais conscientes na luta pela ampliação das “enxergâncias” físicas e mentais do mundo contemporâneo, sempre carente de muito mais luz.

PS. CONFRATERNIZAÇÃO DE ARROMBA
Ontem, na mansão do Papa Berto, em Apipucos, um almoço de gente muito amada e animada. De Zé Paulinho a Jessier Quirino, sem falar no próprio Papa, mil e trocentos causos foram contados para senhoras e convidados que nem eu. Ao som de um Conjunto de Bandolins pra ninguém botar defeito, tudo aconteceu às mil maravilhas, assuntos políticos sendo defenestrados desde a portaria do Prédio. Um dia muito arretado para mim, que não sou muito chegado às alegrias numa época de Natal, motivos estritamente pessoais. Entre os causos contados, reproduzo um, acontecido em Campina Grande, Paraíba. Ei-lo, sem tirar nem pôr:

ACONTECEU EM CAMPINA GRANDE, PARAÍBA
Uma mulher viaja de férias para Campina Grande, uma das capitais juninas do Brasil. Lá, conhece um negro lindo e muito sedutor. Do papo, surgiu uma paixão avassaladora, tudo terminando num motel, embora ele sempre negasse dizer o seu nome. Após uma semana de muitas transas, ele confessa:
– Não vou dizer meu nome porque você vai morrer de rir.
Quinze dias depois, nova insistência da mulher:
– Pode dizer seu nome, amor.
– Meu nome é Neve!
Nem bem ouve o nome, a mulher cai na gargalhada.
O negro fica furioso:
– Está vendo? Você está gozando com a minha cara!!
– De jeito nenhum, amorzinho! Não estou rindo do seu nome. Estou rindo só de imaginar a cara que o meu marido vai fazer quando eu disser a ele que, apesar do calor de Campina Grande, eu tive de aguentar 25 cm de neve.
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Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social.

(Publicado no Jornal da Besta Fubana, Recife, Pernambuco, 23.12.2013
Fernando Antônio Gonçalves