EDUCAÇÃO E DESILUSÃO, RIMA TRÁGICA


Lamentavelmente, os dados mostram a realidade: o Brasil é o país que menos está crescendo na América do Sul. E o mais dramático: é o país que em 2011 cresceu menos que a média de toda a América Latina, com um “pibinho” (PIB bundão) de 2,7%, distanciado do 4% da média geral. A consequência é inevitável: o Brasil é um dos últimos países latinoamericanos em trabalho produtivo. E o trabalho produtivo se mede pelo quociente entre bens e serviços produzidos no país e o pessoal ocupado. E o Brasil fica atrás da Argentina, Chile e Venezuela, entre outros.

Recentemente, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) tornou público relatório sobre a situação dos adolescentes brasileiros. Na área da educação, o órgão aponta que 20% dos adolescentes entre 15 e 17 anos estão fora da escola. Quando analisada a faixa de 6 e 14 anos a situação é mais amena, com apenas 3% fora da escola. O documento também traz uma análise das políticas públicas desenvolvidas no Brasil e propõe um conjunto de ações para garantir a realização dos direitos de todos e de cada adolescente. Para não falar na indecência praticada pelo Rio Grande do Sul, quando um governador petista se arvora de cão de guarda reacionário e enquadra o professorado estadual numa faixa inferior à do Piso Nacional Docente.

O outro lado da moeda também é revelado: em relação aos homícidios, o Unicef aponta que, em 2009, a taxa de mortalidade entre adolescentes de 15 a 19 anos era de 43,2 para cada grupo de 100 mil adolescentes, enquanto a média para a população como um todo era de 20 homicídios para cada 100 mil. Uma calamidade amplamente anunciada pelos especialista da matéria. E mais: segundo o relatório, um adolescente negro tem quase quatro vezes mais risco de ser assassinado do que um adolescente branco. E ainda mostra que um adolescente indígena tem três vezes mais possibilidade de ser analfabeto do que os adolescentes em geral.

Enquanto isso, o Congresso Nacional, com uma maioria sempre cinicamente famélica na busca de levar vantagens em tudo, ainda não aprovou o II Plano Nacional de Educação, mais preocupado em atender suas bases num ano de eleições municipais, pouco se lixando diante de uma certeza historicamente comprovada: sem professores, não há educação. Sem educação, não há produtividade. Sem produtvidade, não haverá crescimento. E sem crescimento, o país tornar-se-á refém de políticos moleques, que apenas desejam sombra e água fresca para suas iniciativas espúrias, que apenas irritam os mais conscientes, infelizmente uma minoria que ainda não pode dar conta de uma pacífica ação restauradora.

Com Eduardo Galeano, também acredito que, num futuro próximo, a nossa educação não será privilégio de quem possa pagá-la, nem a polícia não será a maldição de quem não possa comprá-la. E a Justiça e a Liberdade, irmãs siamesas condenadas a viverem separadas, voltarão a se juntar. E os analista não mais acreditarão que os brasileiros gostam de ser classificados como incompetentes, com uma juventude classificada em Matemática, Português e Ciências nos derradeiros postos mundiais, como se fôssemos um país de coitadinhos, alguns dos quais até endinheirados, mas tão abilolados como os demais, infelizes iguais a eles.

Duas denúncias feitas pela filósofa Susan Haack, com livro lançado recentemente no Brasil, deveriam servir de balizamentos maiores para alguns professores e pesquisadores das nossas “falcudades”. A primeira: “Muitos escrevem somente para seus pares dentro da profissão ou para outros membros de sua panelina; e em um estilo de escrita profissional pseudotécnico e enfadonho”. A segunda, baita cutucada: “Muitos professores, cientes de que o sucesso de suas carreiras depende de publicações e não de competência em sala de aula, dão cada vez menos atenção ao ensino”.

Pensando um pouquinho mais, quando se noticia que o ministro do STF José Antônio Dias Toffoli não se sente impedido de ser relator de três ações impetradas contra o deputado federal José Abelardo Camarinha (PSB-SP), das quais ele e sua namoradinha Roberta Maria Rangel foram advogados, é sinal visível de algo de muito podre persiste pairando sobre os poderes desta ainda não muito séria república.

(Publicada em 26/03/2012, no Portal da Revista ALGOMAIS, Recife – PE)
Fernando Antônio Gonçalves