DO BIG BANG AO HOJE EM EXPANSÃO!


Convidado por uma associação comunitária, travei recentemente um papo prá lá de interessante com cento e tantos jovens que estavam inscritos no seminário Despertando para a Vida, a caminho do vestibular 2013. E quase todos eles ficaram espantados quando souberam que, se o universo tivesse começado há 13 anos, no dia de hoje a Terra existiria há 5 anos, os grandes organismos com muitas células existiriam há 7 meses, os asteróides que mataram os dinossauros teriam colidido há 3 semanas, os hominídios existiriam há apenas 3 dias, o homo sapiens existiria há 53 minutos, as sociedades agrícolas existiriam há 5 minutos, toda história da civilização existiria há 3 minutos e as sociedades industriais modernas concretizaram-se há apenas 6 segundos. E os cinco mil anos da história humana não passavam mais que um milionésimo da vida da Terra. E que tudo tinha começado a partir da explosão de um ponto do tamanho de um átomo.

Diante das curiosidades manifestadas por inúmeros adolescentes, disse-lhes mais: que alguma mutação ocorreu num macaco ancestral, há 7 milhões de anos, favorecendo o surgimento dos macacos bípedes, as mutações continuando em evolução até o surgimento do moderno Homo sapiens, estes surgindo entre 250 mil e 130 mil anos atrás, em alguma parte do leste da África.

Foi então que uma adolescente, namorada de um pré-vestibulando, perguntou se eu tinha religião. E eu lhe disse que acreditava num Ser Superior, uma Energia Primeira, mas que fazia uma diferença significativa entre religião e espiritualidade. E explicitei as diferenças, através de um escrito que tinha apanhado na casa de uma antropóloga amiga: “A religião não é apenas uma, são centenas, milhares, a espiritualidade é apenas uma; a religião é para os que dormem, a espiritualidade é para os que estão despertos; a religião é para aqueles que necessitam que alguém lhes diga o que fazer e querem ser guiados, a espiritualidade é para os que prestam atenção à sua Voz Interior; a religião tem um conjunto de regras dogmáticas, a espiritualidade te convida a raciocinar sobre tudo, a questionar tudo; a religião ameaça e amedronta, a espiritualidade lhe dá Paz Interior; a religião fala de pecado e culpa, a espiritualidade lhe diz ‘aprenda com com o erro’; a religião reprime tudo, te faz falso, a espiritualidade transcende tudo, te faz verdadeiro!; a religião não é Deus, a espiritualidade é Tudo e, portanto, é Deus; a religião inventa, a espiritualidade descobre; a religião não indaga nem questiona, a espiritualidade questiona tudo; a religião é humana, é uma organização com regras, a espiritualidade é Divina, sem regras; a religião é causa de divisões, a espiritualidade é causa de União; a religião lhe busca para que acredite, a espiritualidade você tem que buscá-la; a religião segue os preceitos de livros sagrados, a espiritualidade busca o sagrado em todos os livros; a religião se alimenta do medo, a espiritualidade se alimenta na Confiança e na Fé; a religião faz viver no pensamento, a espiritualidade faz Viver na Consciência; a religião se ocupa com fazer, a espiritualidade se ocupa com Ser; a religião alimenta o ego, a espiritualidade nos faz transcender; a religião nos faz renunciar ao mundo, a espiritualidade nos faz viver em Deus, não renunciar a Ele; a religião é adoração, a espiritualidade é meditação; a religião sonha com a glória e o paraíso, a espiritualidade nos faz viver a glória e o paraíso aqui e agora; a religião vive no passado e no futuro, a espiritualidade vive no presente; a religião enclausura nossa memória, a espiritualidade liberta nossa Consciência; a religião crê na vida eterna, a espiritualidade nos faz consciente da vida eterna; a religião promete para depois da morte, a espiritualidade nos faz encontrar Deus em nosso interior durante a vida.”

Também distribuí um trecho de Dietrich Bonhoeffer, cristão que foi assassinado pelos nazistas. Que vai ser mote para um próximo papo, depois da Semana Santa: “nossa maioridade nos conduz a um verdadeiro reconhecimento de nossa situação diante de Deus. Deus quer que saibamos que devemos viver como quem administra sua vida sem ele. O Deus que está conosco é aquele que deserta de nós. O Deus que nos permite viver no mundo sem a hipótese funcional de Deus é aquele diante do qual permanecemos continuamente. Diante de Deus e com Deus, vivemos sem ele”.

Ao final da tarde, perguntei a todos se desejavam crescer como pessoa e como profissional, auxiliando o seu derredor e Pernambuco como um todo. Os aplausos entusiasmantes confirmaram a vontade férrea de uma juventude em buscar seu lugar ao sol, agigantando-se cada um na sua crença religiosa, mas sempre percebendo a importância do conhecimento, para fortalecimento de uma profissionalidade cidadã, aquela que sabe fazer a hora sem esperar acontecer, sob as bênçãos do Homão da Galileia, Irmão Libertador, um transreligioso por natureza e missão. Que antecipava o que diria, muito tempo depois, Santa Catarina de Gênova: “Meu eu é Deus”.
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Fernando Antônio Gonçalves é professor universitário e pesquisador social.

(Publicada em 28.05.2012, no Jornal da Besta Fubana, Recife, Pernambuco.
Fernando Antônio Gonçalves