DICIONÁRIO DE INSULTOS
Com não rara frequência, notícias e reportagens tentam agredir minhas esperanças e humores. Canalhices parlamentares, imorais pensões vitalícias concedidas a governadores, mediocridades televisivas, hipocrisias religiosas, documentos sem honestidade analítica, exibicionismos das elites ansiosas por cinco minutos de fama e fuxiquismos políticos ampliados pela mídia ampliam protestos interiores que muito me incomodam. Porque sei que o conjunto de tudo isso está a favorecer a emersão, nos quatro recantos do planeta, de manifestações fascistoides dos metidos a salvadores da pátria, a la Sarah Palin, aquela direitíssima norte-americana metida a bonitona moralista que está induzindo acerbações mórbidas, tal e qual as que se manifestaram na República de Weimar, na Alemanha. Amostrações e atitudes idióticas sequelas de um enxergar pequeno e imensamente descidadanizador das edificações políticas consequentes, que não ampliam as ilusões dos menos cidadanizados, tampouco conscientizando aqueles que imaginam que tudo está acontecendo “porque Deus quer e consente”. Como se tudo de ruim sobre a face do mundo não ocorresse por isenção de responsabilidade dos seres humanos desde tempos imemoriais, quando uma mulher de nome Eva foi na onda de uma cobra grossa e de bom tamanho, que concorria com Adão, até então o único exemplar disponível pelas redondezas.
O João Silvino da Conceição, meu irmão caminheiro de muitas décadas, observando as minhas irritações, me presenteou com um “livro aliviador”, da autoria de um pesquisador brasileiro, Altair J. Aranha e intitulado Dicionário Brasileiro de Insultos, editado em 2002 pela Ateliê Editorial, Cotia, SP. A pesquisa do Aranha deveria ser considerada de utilidade pública, por trazer um notável levantamento de insultos e xingamentos, demonstrando a imensa capacidade do mundo de língua portuguesa de criar xingamentos ao próximo, com uma inventividade e precisão de fazer inveja aos pesquisadores do CNPQ, um dos quais, há mais de dois anos, vem pesquisando sobre os “resíduos energéticos dos dejetos fecais emitidos pelos cupins”, que lhe têm valido a classificação de “pesquisador carapeteiro”, aquele que pratica mentirinhas leves e grossas sobre os fiofós até agora nunca cientificamente observados dos pequeninos insetos da ordem dos isópteros.
Aproveitando a temporada de férias, reunimos alguns Gonçalves na casa de um deles em Candeias para uma brincadeira bolada pelo João Silvino com o dicionário do Aranha. Um escolhia um “insulto” do dicionário, cabendo ao grupo a identificação de uma personalidade viva, brasileira ou estrangeira ao “insulto” bem ajustada. O Edinho anotando tudo, vez por outra dando pitacos inteligentes, ampliando em muito decibéis a risibilidade do ambiente. Repasso para os queridos leitores em férias a lista dos “insultos” e seus respectivos patronos, para as considerações finais.
Na categoria deslavado (descarado, sem-vergonha) um monte de parlamentares foi citado, principalmente aqueles possuidores de contas no estrangeiro e que continuam circulando por aí com a cara mais cínica do planeta.
No tocante aos fimícolas (que vivem no estrume, a consagração foi de dar inveja aos ibopes do Lula. À unanimidade, elegeu-se a parte fisiológica do PMDB, por sinal a mais substantiva dele, de matar de vergonha os seus históricos fundadores.
Intitulados de onzenários (comerciantes sem escrúpulos) foram apontados os negociantes que se aproveitam das desgraças alheias, pouco dando bolas às revoltas populares, aquelas que seguramente os deixariam nas profundezas do desprezo humano, se Inferno não existisse.
Como iludentes (aquele que ilude, que logra), os meliantes da FUNASA, que merecem punições exemplares, na ausência dos serviços técnicos profissionais do Dr. Guilhottin.
Quando chegou o momento de diplomar os joões-ninguém (pobres coitados), o que apareceu de candidato não estava na folha de votação: políticos, professores, entrevistadores de jogador de futebol, farofeiros(as) socialites que enviam fotos pela internet para colunistas, sonhando com uma referência como destaque. Como já era tarde, as escolhas do mais representativos ficaram para uma próxima oportunidade.
Durante a brincadeira, alguns “insultos” foram postos de lado por não serem muito conhecidos pelos nordestinos. Uma relação foi construída, sendo prioridade para o próximo encontro. A lista é a seguinte: adamado, alergênico, babilonisado, berdamerda, cabrião, concho, cutruca, descocado, empecedor, farrombeiro, ginecófobo, jirigote, esteatopígico, emético, logorreico e nubívago. Os agraciados serão conhecidos numa das próximas prévias carnavalescas, acontecidas nas próximas semanas em nossa capital, onde se poderá frevar até o dia amanhecer.
(Publicada em 14.04.2011, no Portal da Globo Nordeste, blog BATE & REBATE)
Fernando Antônio Gonçalves