1532 – DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA


No próximo 16 de novembro, como acontece toda 3a. quinta-feira de novembro de cada ano, a UNESCO comemora o DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA. Uma maneira de incentivar jovens e adultos, espiritistas, espiritualistas, agnósticos e céticos, a compreenderem melhor o significado da reflexão feita pelo filósofo Merlau-Ponty: “A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo.”

Quero entender que essa data reforça a ideia de que a filosofia não está morta. Ela somente será banida no dia que o último ser humano não mais existir. Porque a filosofia tem, como essência de sua razão de ser, a capacidade humana de usar a própria complexidade cognitiva para representar o mundo e a vida concreta nele inserida.

A utilidade e a importância da atitude filosófica podem residir nos atos que avaliam os diversos dogmatismos que assombram o mundo atual e que são impermeáveis ao diálogo, bem como as operações ideológicas dos seres humanos que buscam manipular o real, os fanatismos que cegam e as ações destrutivas ao redor do planeta que colocam em risco de extinção as manifestações de uma vida plena e abundante.

A filosofia não deve ser só discurso. Tampouco mera contemplação. Nem puro ócio. Como disse Sêneca nas Cartas a Lucílio: “A filosofia ensina a agir, não a falar”.

Atualmente, pensando na Declaração Universal dos Direitos Humanos, feita pela Organização das Nações Unidas (ONU), talvez seja urgente pensar numa Declaração Universal dos Deveres Humanos, tal como Kant teria sugerido, quando pensou em um imperativo universal para estabelecer a união planetária entre os povos.

Em um complexo mundo globalizado, a urgência de se saber conviver com as diferenças e a premência em se praticar o respeito e uma convivialidade civilizada são valores humanos universais que poderiam consubstanciar aquela declaração de deveres, pois esses são valores fundamentais.

Os índices do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), sobre as faces da pobreza no mundo, dão a dimensão da atual irracionalidade humana, no que se refere à justiça social e mostram os obstáculos para uma união planetária de nações: a. Dois bilhões e setecentos milhões de homens e mulheres com menos de dois dólares para manutenção diária; b. Uma crescente analfabetização mundial; c. Crescente desarrumação climática; d. Aumento da ansiedade coletiva global por um mundo mais humano.

O Dia Mundial da Filosofia foi instituído para fazer com que a consciência humana aprofunde a própria criticidade em relação a si mesma, aos julgamentos que tem participado em nossa época e às ações que tem realizado no mundo, sempre buscando ampliar o nível da dignidade coletiva. E como a economia, a política e a cultura atuais devem estar a serviço da dignidade humana coletiva, jamais escravizando ela.

Se uma declaração de direitos não nos acrescentou humanismo, uma declaração de deveres resolverá os nossos desatinos? Será possível fazer com que, por meio de deveres, todos os povos do mundo se unam em torno de valores humanos que lhes traga a paz e a concórdia? Busquemos alcançar tal meta, disseminando modos de saber pensar e agir com humanismo solidário.

Enquanto a economia for empregada na produção de desigualdades, enquanto o uso do poder for feito para sacramentar privilégios e desrespeitar valores e enquanto a cultura for utilizada para embrutecer e cegar, mais se tornará indispensável o ensino de Filosofia em todas as comunidades e nos diferenciados níveis de ensino.

Na situação em que nos encontramos, o máximo filosófico a ser feito é fazer as pessoas que amam saber voltar os olhos para a realidade que nos circunda e gritar, alto e bom som, igual ao personagem infantil do dinamarquês Hans Christian Andersen: “o rei está nu”. Essa é a tarefa hercúlea da filosofia. E que os pretensos reis do mundo não fujam e que possam assumir suas responsabilidades sociais, percebendo nus, de fio a pavio. Pois a Vida não pode continuar agonizando a cada dia que passa.

O psicanalista Carl Gustav JUNG já pontificava:

As crises, os transtornos, a doença não surgem por acaso. Eles nos servem como guias para retificar uma trajetória, explorar novas orientações, experimentar um outro caminho de vida.”

Saibamos pensar para sobreviver sem sacrificar ninguém. Potencializemos nossas resiliências, aprendendo a pensar com racionalidade, sem mimimis vitimistas, percebendo com serenidade evolutiva que “quem sabe faz a hora, nunca espera acontecer”, como cantava famoso menestrel brasileiro.


Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social