DESTRUIÇÃO DE DRESDEN


Um fato histórico impressionante: às 22 horas do dia 13 de fevereiro de 1945, uma terça-feira, a 84 dias do final da Segunda Guerra Mundial, a cidade alemã de Dresden principiava ser bombardeada pelas forças aliadas. Até ao meio-dia do dia seguinte, 14 de fevereiro, a cidade mais famosa da Europa, admirada pela sua riqueza cultural tornava-se ruína em quase sua totalidade. E passou a simbolizar, no apogeu da guerra de bombardeio convencional, um crime sem o menor sentido, tornando-se a grande mancha no histórico de guerra dos Aliados, para a qual não existia explicação. No curto período de tempo acima citado, em quatro ataques-surpresa, mais de 700 bombardeiros pesados Lancaster lançaram milhares de toneladas de dispositivos incendiários e bombas altamente explosivas na cidade, a capital barroca do estado alemão na Saxônia, a tempestade de fogo resultante destruindo 33,7 quilômetros quadrados do centro.

Múltiplas versões foram escritas de lá para cá sobre o bombardeio, parciais todas, até que Frederick Taylor, com especialização na história da extrema direita alemã no início do século XX, hoje vivendo na cidade inglesa de Cornwall, escreveu Dresden, editado no Brasil pela Record. Um documentário de alta relevância histórica, livre de jargões estéreis, uma narrativa que deixará o leitor inglês, e agora o de língua portuguesa, capaz de efetivar um exame equilibrado sobre destruição tão chocante.

Para quem aprecia relatos sobre acontecidos ao longo da Segunda Guerra Mundial, alguns dados são preliminarmente necessários. Dresden, atualmente, é a capital e maior cidade do estado da Saxônia, situada às margens do rio Elba, com 535 mil habitantes segundo o censo de 2013. A cidade tem origem num povoado eslavo de nome Drezdane, que começou a ser germanizado no século XIII. Dresden tem uma longa história como capital e residência dos Reis da Saxónia e é possuidora de séculos de extraordinária cultura e esplendor artístico.

O bombardeamento de Dresden foi um bombardeamentomilitar efetuado durante a Segunda Guerra Mundial pelos aliados da Força Aérea Real (RAF) e da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos da América (USAAF) entre 13 e 15 de fevereiro de 1945. Um relatório da Força Aérea dos Estados Unidos escrito em 1953 por Joseph W. Angell defendeu a operação como o bombardeamento justificado de um alvo militar, industrial e centro importante de transportes e comunicação, sediando 110 fábricas e 50.000 trabalhadores em apoio aos esforços nazistas. Em contrapartida, diversos pesquisadores argumentaram que nem toda a infraestrutura comunicacional, como pontes, foram de fato alvo do bombardeio, assim como extensas áreas industriais distantes do centro da cidade. Alega-se que Dresden era um marco cultural de pouca ou nenhuma significância militar, uma “Florença do Elba”, como era conhecida, e que os ataques foram um bombardeio indiscriminado e desproporcional aos comensuráveis ganhos militares.

O controverso bombardeamento de Dresden na Segunda Guerra Mundial, em 1945, mudou a face da cidade dramaticamente. Desde a reunificação, Dresden tem sido um importante centro cultural politico e económico na parte este da República Federal Alemã.

Nas primeiras décadas após a guerra, estimativas de mortos chegavam a 250.000, número atualmente considerado absurdo. Uma investigação independente encomendada pelo conselho municipal de Dresden em 2010 chegou a um total mínimo de 22.700 vítimas, com um número máximo de mortos em torno de 25.000 pessoas. Em comparação direta com o bombardeio de Hamburgo em 1943, que criou uma das maiores tempestades de fogo provocadas pela RAF e a Força Aérea dos Estados Unidos, matando aproximadamente 50.000 civis e destruíndo praticamente toda a cidade, e o bombardeio de Pforzheim em 1945, que matou aproximadamente 18.000 civis, os ataques aéreos contra Dresden não podem ser considerados os mais graves da Segunda Guerra Mundial. No entanto, eles continuam conhecidos como um dos piores exemplos de sacrifício civil provocado por bombardeio estratégico, ocupando lugar de destaque entre as causes célèbres morais da Segunda Guerra. Discussões pós-guerra, lendas populares, revisionismo histórico e propagandismo da Guerra Fria levantaram debates entre comentaristas, oficiais e historiadores a respeito da fundamentação ou não do bombardeio, e se sua realização teria constituído um crime de guerra.

Apesar de nenhum dos envolvidos no bombardeio de Dresden jamais ter sido acusado, muitos defendem que o bombardeio foi um crime de guerra. Segundo o Dr. Gregory H. Stanton, advogado e presidente da Genocide Watch: “O Holocausto nazista está entre os genocídios mais perversos da história. Mas o bombardeio de Dresden pelos Aliados e a destruição nuclear de Hiroshima e Nagasaki também foram crimes de guerra.”

Segundo Taylor, “menos de três meses após sua destruição, Dresden trocou um conjunto de governantes totalitários por outros, quando os comunistas substituíram os nazistas. … O momento libertador veio em 1889, com o colapso da União Soviética e o fim do comunismo na Alemanha Oriental.”

Um livro que analisa equilibradamente uma das tragédias do século passado. Oferecendo aos cidadãos contemporâneos, a liberdade de julgar as razões da destruição de Dresden, a “Florença do Elba”, que por mais de dois séculos atraíra artistas, escultores, estetas e amantes da cultura de toda a Europa, Grã-Bretanha e Américas. E que se imaginava preservada, por Churchill ter tido uma tia adorável que por lá vivera.

(Publicado em 26.01.2015, no site do Jornal da Besta Fubana – www.luizberto.com)
Fernando Antônio Gonçalves