DESNUDANDO O ECONOMÊS
Ratifico o pensar da jornalista Miriam Leitão, meia chatosa na comunicação televisiva e muito competente em seus comentários: “A vida é curta demais para entender tanta confusão que o governo tem feito nas contas públicas”. Segundo ela, o BNDES muda seus estatutos a cru, sem manteiga alguma, apenas para possibilitar a transferência de mais dividendos para a Fazenda, ensejando o recebimento de uns trocados de QUINZE BILHÕES do Tesouro Nacional. A Caixa também recebendo mais de OITO BILHÕES. E a Eletrobras terá ainda seu capital de giro coberto pelo BNDES, que emprestará DOIS E MEIO BILHÕES para operações polêmicas, apesar da estatal ter tido um prejuízo de quase SETE BILHÕES, em 2013.
Para entender melhor as estrepolias estratégicas do economês, quando, para cada dado divulgado, gasta-se um tempo enorme para entender um pouquinho o truque efetivado, recomendo ter sempre ao alcance das mãos um livro esclarecedor: O Livro da Economia, SP, editora Globo, 2013, escrito por gente especializada em descomplicar o grego economístico dos tecnocratas que, sempre em busca de novos eufemismos embromatórios, principiam a sentir-se incomodados com a maneira excelentemente pedagógica daqueles que buscam esclarecer as lideranças comunitárias sempre vitimadas por manobras capitalistas propiciadoras de mais-valias abusivas elkebatistianas, para ficar só numa vertente que, em passado muito recente, foi tida e havida pelos babaovistas compulsivos como uma das riquezas pilastras dos negócios nacionais.
Alguns dos capítulos do livro merecem uma atenção mais acurada, principalmente nestas épocas de retumbantes manifestações de rua, quando áreas cada vez mais numerosas principiam a perceber o cinismo estratégico-comportamental dos que desconhecem, por ignorância ou má fé, duas advertências basilares do economista Celso Furtado, um nordestino paraibano de muita dignidade política e saber técnico. A primeira: “Só haverá verdadeiro desenvolvimento – que não se deve confundir com ‘crescimento econômico’, no mais das vezes resultado de mera modernização das elites – ali onde existir um projeto social subjacente. É só quando prevalecem as forças que lutam pela efetiva melhoria das condições de vida da população que o crescimento se transforma em desenvolvimento”. A segunda: “Nas estruturas subdesenvolvidas mais complexas – onde já existe um núcleo industrial ligado ao mercado interno – podem surgir reações cumulativas, tendentes a provocar transformações estruturais no sistema”.
As advertências acima careceriam de maior atenção dos estrategistas políticos, sob o mantra “melhorar a vida de um, sem fazer mal aos outros”, se lessem os capítulos seguintes do livro: Os trabalhadores devem lutar juntos pelo que é seu; A economia está inserida na cultura; A globalização não é inevitável; Países ricos empobrecem os pobres; A maioria dos carros é “abacaxi”; As promessas dos governos são inacreditáveis; Redes sociais são um tipo de capital; Sociedades igualitárias crescem mais rápido, entre outros.
No final do livro, um glossário explicita definições que fortalecerão a enxergância dos indignados, proporcionando-lhes um debater mais consequente. Sem jamais rejeitar o pensamento de um notável economista canadense-americano, John Kenneth Galbraith: “Na economia, esperança e fé coexistem com grande pretensão científica e também um desejo profundo de respeitabilidade”.
Reflexão de um docente amigo nos oxigeniza: “Que tal começarmos por uma boa revisão de nós mesmos, sem preconceitos e no estilo positivo de quem, objetiva e diretamente, olha e procura ver com base nos fatos e nas experiências? Que tal nos encararmos a nós mesmos, ao ser humano que somos, como um fenômeno?”
O livro foi estruturado sob um prisma capitalista, não falando em subdesenvolvimento, populismo, corrupção e impunidade, condicionantes que nos fazem ser classificados internacionalmente como um país não-sério, ainda vigorando a definição histórica do presidente francês Charles de Gaulle.
(Publicado no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco, 27.07.2013
Fernando Antônio Gonçalves