DESAFIOS EDUCACIONAIS


Em plena metade da segunda década do século 21, para muitos a educação transformou-se num vetor capaz de qualificar ou desqualificar países, estados, cidades e famílias, favorecendo ascensões e quedas de regiões e mercados profissionais. E a experiência da consagrada jornalista norte-americana Amanda Ripley, colaboradora do Times e de outros periódicos de relevância no mundo desenvolvido, merece ser resumidamente contada aqui.

Em sua caminhada jornalística, Amanda sempre teve uma taluda aversão a fazer reportagens sobre educação, pois considerava os textos que tratavam o assunto frouxos, pegajosos, inconsistentes e fantasiosos, carentes de análises mais críticas diante das evidências concretas apuradas. Até que um dia, ela recebeu uma pauta que estabelecia uma entrevista com uma polêmica figura pública, Michelle Rhee, liderança das escolas de Washington, “que usava sapatos com salto agulha e costumava dizer a palavra ‘merda’ uma porção de vezes, em suas entrevistas”. Conversando com muita gente que também pesquisava temas inovadores e criativos sobre educação, Amanda percebeu que Rhee era interessante, mas que também não sabia qual era o mistério mais significativo de uma sala de aula. E o questionamento maior logo aflorou: por que alguns estudantes estavam aprendendo muito e outros tão pouco?

Mergulhada num monte de dados quantitativos, Amanda observou altos e baixos gigantescos no nível de conhecimento de crianças em regiões ricas e pobres, em bairros de negros e brancos, em escolas públicas e particulares. E os dados também explicitavam picos e depressões, como, segundo expressão por ela usada, “uma extensa e nauseante montanha-russa, que podiam ser explicada em parte pelas costumeiras narrativas sobre dinheiro, questões de raça ou etnia”. Embora, segundo ela, houvesse mais alguma coisa em jogo.

Apaixonando-se pelas pesquisas educacionais, Amanda constatou alto desempenho discente em bairros norte-americanos onde, semanalmente, alguém era assassinado, contendo uma taxa de desemprego situada na faixa dos 18%. Enquanto em outros lugares menos sofridos, observou meninos e meninas morrendo de tédio, miúdos que clamavam por alguma distração que os salvassem de horas de vazio e inutilidade, mesmo com docentes se esforçando junto aos quadros, buscando agradar, tal e qual palhaços de circos mambembes.

Certo dia, Amanda deu de cara com um gráfico que a deixou mais embatucada ainda. Ele mostrava a dança educacional de quinze países ricos, onde os níveis de educação se alteravam drasticamente em poucos anos, para melhor ou para pior. E ela escolheu dois países vizinhos para maior atenção: a Finlândia e a Noruega, de 1960 a 2010, que haviam se submetido a testes de avaliação. Em relação à Finlândia, o país tinha tido uma rápida e vertiginosa evolução, enquanto a Noruega, país vizinho, parecia ter desabado no mesmo período, apesar de também não ter problema de pobreza infantil. E ela também verificou a evolução do Canadá, alçado de um nível medíocre para índices semelhantes aos do Japão.

Suas conclusões são verdadeiros despertadores para os responsáveis pelos destinos educacionais brasileiros, em todos os níveis. Resumo-as: 1. No mundo, os níveis de conhecimento e habilidade das crianças aumentam e despencam de maneira misteriosa em intervalos de curtos períodos; 2. A ampla maioria dos países não está sendo capaz de proporcionar a todas as crianças uma educação nos níveis mais altos, nem mesmo em se tratando de estudantes em melhor situação financeira; 3. Em algumas nações, a situação não sendo beneficiária para os Estados Unidos, todas as crianças vinham desenvolvendo a capacidade de raciocínio crítico em matemática, ciências e leitura, não apenas memorizando, mas aprendendo a sobreviver na economia moderna; 4. Nos Estados Unidos, os adolescentes privilegiados, filhos de pais com alto grau de instrução e originários das escolas mais ricas do mundo, quando comparados com pares privilegiados de outros países, ocupavam a 18ª. posição no ranking do desempenho em matemática, inferiores às crianças ricas da Nova Zelândia, Bélgica, França e Coreia do Norte, entre outros; 5. Quando entravam na adolescência, os estudantes norte-americanos amargavam a 26ª. posição nos testes de raciocínio crítico em matemática, abaixo da média do mundo desenvolvido; 6. Em Oklahoma, executiva RH de uma empresa não estava conseguindo encontrar gente capaz de ler, solucionar problemas e relatar o que tinha se passado em seu turno de trabalho e as escolas da área não estavam conseguindo formar mão de obra qualificada; 7. Sem um diploma de nível médio ninguém consegue arranjar emprego de lixeiro em Nova York; 8. Uma questão que angustia: numa época onde o conhecimento se tornou mais importante que nunca, por que os jovens norte-americanos sabem menos do que deveriam?; 9. Se a pobreza era o principal problema educacional, o que dizer da Noruega, que possui uma das mais baixas do mundo?; 10. E por que, na década de 1950, apenas 10% dos adolescentes finlandeses concluíam o ensino médio?

A jornalista Amanda Ripley ficou tão impressionada com os dados colhidos que escreveu um livro em 2013, no ano passado editado no Brasil pela editora Três Estrelas, São Paulo. Intitulado As Crianças Mais Inteligentes do Mundo, o livro interessa a todos aqueles que se preocupam com o futuro da meninada, sejam eles pais, professores, pedagogos, políticos, ministros e secretários estaduais e municipais. Que deveriam enfrentar os atuais desafios educacionais brasileiros, universitários inclusive, favorecendo um melhor índice de uma Educação Cidadã, através da viabilização efetiva do Plano Nacional de Educação e dos Planos Estaduais e Municipais, bem imbricados todos, sem demagogias nem slogans marqueteiros fantasiosos que apenas iludem os coitadinhos mentais, que esperam sempre mais luz, embora persistam em contemplar a escuridão, menosprezando o profeta (Isaías, 59,9).

Educar é para talentosos. Jamais válvula de escape para incapazes de conseguir empregos mais bem pagos em outros campos profissionais.

PS. O ministro Renato Janine Ribeiro, da Educação, é uma personalidade talentosa. Esperemos que ele saiba como conviver com as estroinices da Senhora Presidente, uma dirigente pública comprovadamente incapaz de gerenciar um meninão gigante chamado Brasil.

(Publicado em 23.03.2015, no site do Jornal da Besta Fubana – www.luizberto.com)
Fernando Antônio Gonçalves