DESAFIOS DA ACADEMIA


Leituras várias ampliaram minha “enxergância” sobre os atuais problemas do ensino superior brasileiro, que se encontra fortemente debilitado pelas alterações tecnológicas, sociais e econômicas acontecidas nos últimos quarenta anos, também desafiado diante das sequelas da atual crise financeira mundial, desestruturadora por derradeiro.

Os desafios do terceiro grau de ensino estão a exigir um aprender-desapreender-reaprender continuado, intrinsecamente dialético, intensamente binoculizador, mais que nunca multidisciplinar, levando na mais elevada consideração a “fotografia” feita por Cláudio de Moura Castro sob um ângulo muito sincero: “O ensino superior brasileiro é confuso e variado. Há cursos bons e cursos péssimos. Os cursos bons são prejudicados por serem tratados de cambulhada com os péssimos. E os péssimos não podem ser consertados com o remédio dos bons. Pior, há cursos que poderiam ser bons se fossem tratados como precisam. Há imensa diversidade no ensino superior, daí a grande necessidade de um tratamento diferenciado, em vez de fingir que são todos iguais”.

Os analistas cidadanizados estão convergindo para dois pontos considerados indissociáveis para a melhoria do ensino superior. O primeiro vincula-se à importância da educação fundamental, considerada estratégica nos países comprometidos com um desenvolvimento socioeconômico sustentável. Um segundo, atrelado umbilicalmente ao primeiro, se relaciona com a revalorização do processo de ensino-aprendizagem, concentrando-se num soro caseiro lê-escreve-conta-e-pensa eficaz, excelente fomentador do binômio cidadania-profissionalidade.

Temos que reconhecer, com a humildade dos que buscam modificar o atual estado de coisas, que a Universidade Brasileira está aquém dos padrões mínimos de excelência internacional. O atual momento nacional, onde milhões de brasileiros ultrapassaram a linha da miséria, exige alavancagens efetivas, capazes de superar os muitos ontens navegados com irresponsáveis alienações.

A posição da atual classe média brasileira será decisiva para os destinos pátrios, às vésperas de horizontes mundiais ainda pouco definidos. Lamentavelmente, nas décadas últimas, a classe media brasileira tem vivido acorrentada a duas visões equivocadas. A primeira, quando defende privilégios despropositados de um sofisticadíssimo consumo, como se ele fosse benéfico para o todo nacional. A segunda, mais alienante ainda, é a de exigir sacrifício dos privilegiados de sempre, como se eles estivessem dispostos a desprendimentos solidários para com os menos favorecidos.

Uma pós-modernidade sadia deve reincorporar as vantagens das relações perdidas, dos gostos relegados, dos níveis culturais despedaçados por um consumismo asneirento dos endinheirados de final-de-semana, culturalmente apatetados, presas fáceis dos preocupados tão somente com o amealhado nos seus cofrinhos. Que deveriam estar mais atentos diante de um notável provérbio iídiche: “Para o verme num rabanete, o mundo inteiro é um rabanete”.

Parece estar com seus dias contados, pelo menos nas instituições não caça-níqueis, a era de um espúrio compadrio docente/discente, sempre prejudicial aos melhores alunos, todos nivelados por baixo. O mérito não deve ser menosprezado jamais numa vida acadêmica. Os salários devem ser compensadores, as pósgraduações, sem os pernósticos phdeísmos, estimuladas, as bibliotecas ampliadas e atualizadas, a atenção com o derredor comunitário redobrada, sem os assistencialismos baratos nem os populismos cavilosos que apenas engabelam os abobados e os academicamente abiotróficos.

Resguardadas as individualidades e abjurando os individualismos, faz-se mister um repensar do ensino superior brasileiro, apreendendo com eficácia a advertência de Ortega y Gasset, um espanhol de notável saber: “Como é possível as rãs discutirem sobre mar , se nunca sairam do brejo?”. Nós, às vezes, no ensino superior, ficamos muito seguros dos aprendizados do passado. E sentimo-nos bem fundeados sobre coisas que aprendemos quando éramos moços, hoje perdendo o bonde da história. Porque o bonde sempre está em movimento e com uma velocidade cada vez maior. E quando as pessoas perdem tal bonde, começam só a olhar para o passado, nostálgicas, sem qualquer reoxigenação.

Em Pernambuco, inúmeros já estão conscientes de que o inimigo maior somos nós mesmos, com a capacidade de muitos de azedar tudo, desde que a vitória e o sucesso não sejam deles. Uma tradição perversa, mórbida, que nos foi legada por ancestrais certamente muito mal acostumados. Que desconheciam a existência das forças motivadoras que impulsionam os empreendimentos bem sucedidos: o trabalho participativo, o sistema de reconhecimento, o comportamento racional, a força da emoção e a eficácia de um lastro cultural.

O educador baiano Anísio Teixeira posicionava-se admiravelmente : “Eu não tenho responsabilidade nenhuma com as minhas idéias. Eu tenho, sim, uma responsabilidade com a verdade”. Quem tem esse grau de maturidade, sabe caminhar. Quem não tem, apenas continua sobrevivendo mal, atrelado ao me-disseram antissocialmente mundano. E desfilando no Galo da Madrugada, no sábado de Zé Pereira, na turma do tabaco leso.

PS. A minha apreendência educacionaL muito se ampliou após uma manhã de bate-papo técnico com o prof. Antônio Carlos Maranhão de Aguiar, Secretário do Trabalho, Qualificação e Empreendedorismo de Pernambuco, uma das pilastras vigorosas do dinâmico governador Eduardo Campos.

(Publicada em 27/02/2012, no Portal da Revista ALGOMAIS, Recife – PE)
Fernando Antônio Gonçalves