DEMOCRACIA E CANALHICE


Tenho o maior respeito por movimentos grevistas convincentes, que buscam pressionar pela paralisação quando o diálogo entre as partes tornam-se impossibilitados. Tudo acontecendo sem sectarismos nem vandalismos. Diante dos impasses surgidos durante as negociações preliminares, muitas vezes uma paralisação acelera as negociações ou ocasiona o dissídio coletivo na Justiça do Trabalho. Capitalismo sem direito de greve não é capitalismo, é canibalismo financeiro ou trogloditismo empresarial, ambos de nefastas consequências para as atividades tidas e havidas como empreendedoras.

Também acredito que alguns postos de comando em algumas instituições públicas devem ser preenchidos através de escolhas emanadas de um consenso político entre as partes envolvidas, cada uma delas plenamente cônscia das suas funções e das suas responsabilidades perante a sociedade.

Entretanto, há tipos de manifestações grevistas e de escolhas de dirigentes de instituições públicas absolutamente achincalhantes, provocativas, eleitoreiras, populistas e demagógicas. Estupidificantes. Que deprimem a consciência nacional, que agride os mais democráticos princípios hierárquicos estabelecidos entre comandantes e comandados. E que açulam os nostálgicos reacionários de plantão, aqueles que só enxergam soluções coturnais para os problemas nacionais.

As invasões de gabinetes ministeriais, centrais elétricas, instalações hospitalares e educacionais, depredando um patrimônio que é da sociedade brasileira, não podem ser consideradas, por hipótese alguma, como legítimas manifestações grevistas. Muito pelo contrário, devem ser classificadas como posturas delinquentes, criminosas a maioria delas, a merecer enérgicos pronunciamentos punitivos do Poder Judiciário.

As imagens de algumas manifestações são por demais esclarecedoras e estão merecendo o repúdio da esmagadora maioria da sociedade brasileira, aquela que luta pelos seus mais elementares direitos de cidadania, sem resvalar para grotescas atitudes molequeiras, despojadas de criatividade, esculachadas, apenas para fazer aparecer três ou quatro dinossauros metidos a esquerdistas, alguns deles até descendentes ideológicos diretos do cabo Anselmo, de triste memória.

Recentemente, numa estatal que trata de estudos bio-energéticos, deram uma prensa num diretor escolhido pela cúpula da capital federal, que ao pobre coitado só restou pedir o boné, por telefone, antes mesmo da posse. E mais aconteceu: um sirigaita messiânico, travestido de liderança, deslocando-se até a Capital Federal, ditou alto e bom som o nome daquele que o sindicato desejava na direção do empresa estatal. E o pior da novela aconteceu: o indicado, técnico notoriamente lambisgóia e de conceito muitos furos abaixo do mínimo desejável, foi nomeado. E as coisas estão indo de mal a pior por aquelas bandas.

As emoções do descambar principiam-se com a experiência apreendida pelas ameaças do cair, eis uma lição que muitos ajuntadores de dinheiro e “otoridades” públicas ainda não perceberam. Empresário que ainda não se esborrachou, que sempre viveu comendo da banda oficial, se abeberando dos cofres públicos, desconhece a experiência do arriscar, preferindo o ti-ti-ti do bem-bom diário, bajujatório por derradeiro, rejeitando a travessia “de lagarta a borboleta”. E sempre aplaudindo para inglês ver o mercado, desde que não perca suas fartas tetas na área pública.

Estudos recentes demonstraram que os principais fatores de sucesso são a capacidade de tomar decisões e a habilidade em saber comunicar-se. A Onda da Produtividade sinaliza para o imprescindível fortalecimento do humanware, muito mais importante que os softwares e os hardwares dos tecnocratas e modernosos. Que ainda não assimilaram a lição de Heráclitus, 500 aC: “A única coisa permanente é a mudança”.

Um país que mostra para o mundo acanalhamentos pouco democráticos não merece o respeito internacional, continuando parte de uma latrinoamérica terceiro(i)mundista.

(Publicada em 19/09/2011, no Portal da Revista ALGOMAIS, Recife – PE)
Fernando Antônio Gonçalves