DEGRADAÇÃO DE VALORES


O mundo inteiro necessita principiar a apreender, pelas redes sociais mais cidadanizadas, a vida das pessoas mais pobres que estão servindo de cobaias às manobras políticas espúrias de uma engenharia social governamental fantasiada de progressista, muitas vezes engendrada em confortáveis gabinetes de trabalho por uma elite tecnocrática fantasiada de especializada na formulação de textos para revistas tidas como politicamente corretas e consideradas como formadoras de opinião pelos aplaudidores anestesiados por ideologias sectárias as mais diferenciadas, esquerdeiras e direiteiras, cínicas umas, recheadas de hipocrisias religiosas outras. Perpetuadoras, todas elas, de práticas domesticadoras nunca libertárias por derradeiro.

Conversando com amiga muito querida, paulista quatrocentona, especializada em Ciências Humanas na USP, uma leitura me foi recomendada: Nossa Cultura ou o que Restou Dela, de Theodore Dalrymple, SP, É Realizações, 2015. O autor, cujo nome verdadeiro é Anthony Daniels, é um médico psiquiatra inglês, nascido em 1949 em Londres, que já trabalhou nos quatro continentes, seus escritos sempre denunciando gente que deliberadamente, há décadas, deseja destruir em vez de criar. Ele, segundo a apresentação feita por Rodrigo Constantino, “é um dos mais influentes pensadores da atualidade. Com um viés conservador, e por isso mesmo avesso às ideologias e fórmulas mágicas ou abstratas”. Que mantém contato direto com “as vítimas do esquerdismo, que sofreram os efeitos práticos das ‘lindas’ e ‘nobres’ ideias colocadas no papel por intelectuais muitas vezes alienados, vivendo em suas bolhas teóricas”.

Dalrymple define civilização como “a soma total daquelas atividades que permitem ao homem transcender a mera existência biológica e alcançar uma vida espiritual, mental, estética e material mais elevada”. Indo mais além: “restringir instintos básicos e apetites é fundamental nessa empreitada civilizatória. Fracassar nisso é liberar a besta dentro de nós, o que nos torna piores do que os animais, pois temos a capacidade de agir diferente, de forma mais refinada, civilizada”.

O apresentador Rodrigo Constantino não alivia: “Vivemos, hoje, uma situação pior: os homens civilizados, em vez de nada fazer, têm ativamente colaborado com a destruição dos valores civilizados. Eles têm negado qualquer distinção entre o melhor e o pior, quase sempre preferindo o último. Eles têm rejeitado as grandes conquistas culturais em troca de diversões efêmeras e puro entretenimento vulgar. Eles têm colaborado com o avanço da barbárie e com a destruição da civilização. E vale lembrar que Roma não foi destruída em um só dia; foi obra de contínuos ataques, tanto de fora como de dentro”.

Denunciando que “a amoralidade se tornou a forma superior de moralidade” e que “o paternalismo cria uma legião de ‘crianças’ mimadas, petulantes, que demandam mais e mais e nunca aceitam se implicar em seus problemas”,

Dalrymple também analisa Shakespeare, quando este ressalta a realidade, concluindo que não há consertos técnicos para a humanidade, um tipo de panaceia capaz de nos livrar do nosso “pecado original”. Sempre nos alertando sobre a importância dos freios nos apetites humanos. Segundo ele, “o mal estará sempre à espreita, dentro de nós, pronto para ser despertado quando a vigília cai em sonolência”. E mostra como Shakespeare ressaltava que praticar o bem recai sempre numa escolha moral, um contínuo exercício de controlar nossos apetites mais básicos e instintivos.

Recomendaria uma leitura mais atenciosa dos seguintes ensaios do livro: A Frivolidade do Mal, Por que Shakespeare é Universal, Como Amar a Humanidade e Como Não a Amar, Imaginação Distópica, O Que Temos a Perder?, Como Ler uma Sociedade, As Conveniências da Corrupção, Não Legalizem as Drogas, Quem Matou a Infância?, Quando o Islã Desmoronou e Os Bárbaros nos Portões de Paris.

O final da apresentação do Rodrigo Constantino é advertência de primeiro grau para todos nós, que amamos muito nosso rincão nacional: “Quando olhamos para o Brasil de hoje, com uma total degradação de valores estéticos e morais, com tudo que é porcaria sendo elogiada pelos ‘formadores de opinião’, com a periferia completamente arrasada pelo lixo ideológico vendido por elites culpadas ou oportunistas, fica mais fácil entender por que ler Dalrymple não é apenas importante; é necessário!”

Confesso que estou lendo Dalrymple pela vez segunda. O livro ficando cada vez mais rabiscado. O senso crítico que possuía abalado por algumas bofetadas muito oportunas!

(Publicado em 29.06.2015, no site do Jornal da Besta Fubana – www.luizberto.com)
Fernando Antônio Gonçalves