CUTUCADAS PRO HOMÃO


Se perguntassem sobre coisas que detesto, uma delas seria o faniquitismo de pessoas travestidas de religiosas, mais puras que o próprio Filho de Deus, preocupadas em aparecer ou fingir-se de mais realista que o próprio Rei. Chiliquentas, mostradoras de sovacos e reviradoras orgásmicas de olhos, nunca perceberam as advertências do Homão, nosso Irmão Libertador, muitas vezes interpretadas por analistas sérios, também crentes.

Outro dia, o Gabriel, filho adotivo de pessoa muito amada, 16 anos, me fez uma provocação pra lá de oportuna: – Tio Nando, relacione algumas cutucadas que deixariam alguns cristãos sepulcros caiados com todos os cabelos em pé.

Depois da gargalhada dada, imaginando a astúcia do Gabriel de “deixar de pé todos os cabelos”, norte a sul, frente e verso, disse-lhe que iria responder através de um texto exposto no JC, do meu amigo Ivanildo Sampaio, diretor de redação do jornal mais lido da região Norte-Nordeste.

A primeira cutucada é com relação à palavra herege. Tem gente que imagina ser herege aquele que pensa cruelmente, ofendendo fatos sagrados e outras denominações religiosas. A palavra herege significa apenas “aquele que escolhe”. Em inúmeros momentos da nossa vida, fazemos escolha que evidenciam “a coragem de ser”, expressão feliz de Paul Tillich, um teólogo e filósofo teuto-americano (1886-1965), para quem Deus é “a base da nossa existência”. E que o caminho se faz quando nós o escolhemos, como seres livres para pensar e agir. Segundo ele, o fundamentalismo e a ortodoxia desfavorecem a teologia, quando confundem verdade eterna com uma expressão temporal dessa verdade. E o pior dos argumentos é aquele argumento emitido a partir da ignorância.

Uma cutucada que também muito aprecio é da lavra da fenomenal poeta Cecília Meireles: “Em que espelho perdi minha face?” Feliz daquele, Gabriel amigo, que consegue fazer tal pergunta, quando se percebe um fingidor que faz dos cultos religiosos apenas um momento de apresentar-se na moda para os demais, recebendo elogios dos que também não sabem enfrentar as duras renúncias de uma caminhada cristã. E não pressente o real significado da letra do genial Chico Buarque: “Vai trabalhar, vagabundo!”

Carlyle, pensador já eternizado, tinha uma cutucada na ponta da língua: “A maior falta é estar consciente de possuir nenhuma!” E eu complementaria, Gabriel, usando as reflexões explicitadas pelo pastor Jonas Rezende, com um pensar de Maurice Maeterlinck: “Os que sabem, nada sabem se não possuem a força do amor, porque o verdadeiro sábio não é o que vê, mas o que, vendo mais longe, ama com mais profundidade. Ver sem amor é olhar nas trevas”.
Até a próxima cutucada, Gabriel!!. Um abração bem grandão na sua madrinha por nós muito aplaudida!!.

(Publicado no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco, 08.11.2014
Fernando Antônio Gonçalves