1596 – CRIATIVIDADE NÃO CONSAGRADA


O notável historiador cultural pernambucano Leonardo Dantas (1945-2023), que brilhantemente integrou a equipe de pesquisadores da Fundação Joaquim Nabuco, costumava dizer que inúmeros talentos criativos, no Brasil, não são aplaudidos merecidamente pela intelectualidade nacional, talvez pelas origens populares deles. Um dos seus livros mais admirados é o ARRUANDO PELO RECIFE, 2ª. edição revisada e ampliada, editada pela CEPE. Recife, em 2021. Um excelente guia orientador para os daqui e os que nos visitam, que amplia o amor de todos pelas áreas recifenses.

Quando visitado, Leonardo costumava mostrar textos de autores não consagrados, embora eivados de muita criatividade. Um dos textos que ele gostava de apresentar aos seus visitantes, eu explicito abaixo, encarecendo o reconhecimento do autor pelos leitores pensantes deste Brasilzão de meu Deus. Ei-lo:

AS ROSAS DO CUME

Laurindo Rabelo

No cume daquela serra

Eu plantei uma roseira.

Quanto mais as rosas brotam,

Tanto mais o cume cheira.

À tarde, quando o sol posto,

E o cume o vento adeja,

Vem travessa borboleta

E as rosas do cume beija.

No tempo das invernadas,

Que as plantas do cume lavam,

Quanto mais molhadas eram,

Tanto mais no cume davam.

Mas se as águas vêm correntes,

E o sujo do cume limpam,

Os botões do cume abrem,

As rosas do cume brincam.

Tenho, pois, certeza agora

Que no tempo de tal rega,

Arbusto por mais mimoso

Plantado no cume, pega.

Vem porém o sol brilhante

E seca logo a catadupa;

O mesmo sol a terra abrasa

E as águas do cume chupa.

A rosa do cume fica

no mais alto da montanha

A rosa do cume pica

A rosa do cume arranha

As rosas do cume espreitam

entre as folhagens d’além

trazidos na fresca brisa

os cheiros do cume vêm.

No cume duma montanha

tem um olho d’água à beira.

É uma água tão cheirosa

que a multidão ansiosa

o olho do cume cheira.

Saibamos identificar as mentes de QI alto dos quatro cantos do Brasil, independentemente de escolaridade, gênero, classe social e conta bancária. QIs que bem ilustram nossos passados culturais.