CORAJOSOS E GABAROLAS


Numa página de jornal, com pose de exterminador do futuro, dirigente posa de rasgador de regulamento de uma entidade esportiva. Em outra folha, artista conquista seus minutos de glória ao arquitetar um artefato explosivo de mentira que mobiliza deus-e-o-mundo, seguramente gastando tempo e alguns milhares de reais públicos na operação. Mais adiante se revela que diretor da Uniban, aquela instituição repleta de dinossauros carnívoros de ambos os sexos, possui problemas com a Justiça. E uma outra parte revela que alunos da Universidade de Brasília ficaram pelados em solidariedade à jovem de mini-saia que foi agredida numa instituição, ansiosos para demonstrar competência em abundância. Para não falar nos bilhetes anônimos que estão perambulando por todo o país, informando que fulano metido a sério está enrabichado pelo genro, já tendo ido aos finalmentes; uma senhora de oitenta anos foi seduzida por vizinho adolescente, por querência dela própria e sem uso de qualquer preservativo. Além das novas tentativas de concessão de um terceiro mandato para o presidente Lula, uma manobra bajulatória digna de figurar no Guinness Book, na área relacionada às Maiores Cafajestadas Mundiais, versão 2010.
Conversando com o João Silvino da Conceição, minha outra metade há mais de meio século, ele me forneceu uns esclarecimentos oportunos, gramscianos todos, sempre consultando seus rabiscos críticos. E me presenteou com cópia de um artigo da Sra. Maria Helena Rubinato Rodrigues de Souza, enviado para o Ricardo Noblat, jornalista aplaudido e meu amigo de longa data, em junho do ano passado. Um texto radicalmente oportuno às vésperas de um ano eleitoral e das construções projetadas para os eventos 2014 e 2016. O artigo se refere às impulsividades verbais do presidente Lula. Sob título Moralismo ou Moralidade, transcrevo suas partes mais significativas:
“Faz falta um conselheiro que lembre ao presidente Lula que é melhor pensar cinco vezes antes de falar. Não é vergonha não ter tido oportunidade de estudar em criança. Vergonha é não ter estudado até hoje, não se informar, não perguntar antes a quem sabe mais. …. Custo a crer que não haja um bom dicionário no Planalto. Para mostrar ao presidente a diferença entre moralismo e moralidade. ‘O senhor com certeza quer dizer que a nossa Lei Eleitoral é de moralidade falsa?’.
No que ele concordasse, entusiasmado, o assessor devia explicar-lhe que moralidade é a qualidade do que é moral. E que ‘moral é o conjunto de regras de conduta consideradas como válidas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupo ou pessoa determinada’. Bem ensinado, creio que o presidente certamente compreenderia que a Lei Eleitoral ainda é o último bastião antes da esbórnia total. ……… O Lula anda extrapolando. Leva seu palanque esquisito até para o exterior. Arma a geringonça mesmo em conferências internacionais. Esquece que não está mais na porta de uma fábrica e parece não saber que elegância não são ternos e gravatas de grife, cabelos tratados e pele escovada. Elegância é sobretudo boas maneiras………… Alguém precisa explicar ao Lula que até a Revolução Industrial o mundo pensava que os recursos naturais eram inesgotáveis. A noção de que o meio ambiente deve ser preservado, sob pena das novas gerações virem a sofrer catástrofes pavorosas, só recentemente se infiltrou nas mentes das pessoas instruídas e civilizadas. Em termos históricos, foi ontem.
Cuidando de nossa soberania, devemos procurar aprender com os erros dos outros e ouvi-los. Mas antes é melhor cuidar do nosso quintal. Mostrar que somos capazes de respeitar nossas leis, inclusive e sobretudo a Lei Eleitoral, para que eles finalmente acreditem que somos capazes de cuidar do que é nosso. Mas sempre com bons modos, se faz favor”.
Os fatos acima, demonstrando uma descidadanização nacional espantosa, a boataria e as impulsividades presidenciais, que deseja a todo custo entronizar no Planalto a madrasta autoritária dos contos infantis, fantasiada de apagão da natureza, retratam um caldo cultural que bem poderá descambar para moralismos e puritanismos cavilosos, sediciosos até, favorecendo a emersão de posturas nazi-fascistas das mais diferenciadas espécies.
Quem sabe faz a hora, nunca espera acontecer…