COPA, OLIMPÍADA E VÍCIOS FATAIS


Segundo dados colhidos de fontes fidedignas, nos próximos seis anos, em funçãos dos preparativos para a Copa do Mundo 2014 e Olimpíadas 2016, os três níveis de governo desembolsarão uma soma fabulosa. Estimada, preliminarmente, em R$ 130 bilhões de reais, eles serão empregados em transporte rodoviario, metroviário e ferroviário, em mobilidade urbana, saneamento básico, lógica e infraestrutura aeroportuárias, segurança pública, saúde e educação.

Tais gastos requererão um planejamento a curto, médio e longo prazos. Um hábito que, no nosso país, anda com uma efetividade um tanto menosprezada nos últimos tempos. Segundo informações credenciadas, o planejamento da Copa do Mundo 2014 já se encontra defasado, tudo fazendo crer que poderão se repetir os atropelos verificados por ocasião dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro. Que estão sendo zelosamente auditados pelo Tribunal de Contas da União.

Atrasos em qualquer etapa da meta estabelecida acarretam tropeços nas licitações e nos contratos, tornando-se indispensável a criação de uma Rede de Fiscalização e Auditoria, integradas pelo TCU e pelos Tribunais de Contas dos Estados e Municípios envolvidos nos dois eventos. Uma Rede que assegure à sociedade o direito de conhecer como estará sendo desenvolvida o cumprimento da programação físico-financeira.

Nos próximos dias, um Portal deverá ser implantado na Internet, favorecendo a ampliação da transparência das iniciativas propostas, orçamentos e execuções financeiras, prazos e cronogramas.

Os dois eventos grandiosos seguramente irão modificar a imagem do Brasil no exterior. As duas importantes conquistas alavancarão o desenvolvimento socioeconômico, possibilitarão a captação de recursos, ampliarão o fluxo turístico, intensificarão a internalização de dinheiro novo; ensejarão ampliação do mercado de trabalho; efetivarão a realização de obras de infra-estrutura e ampliarão a capacitação profissional de muitos milhares de brasileiros. E evitarão a repetição de crítica recente, assinada por Mathias Fifka, docente de Economia e Política Internacional da Universidade Erlangen-Nuremberg, na Alemanha, editada na Folha de São Paulo: “Até que ponto é digno de crédito um país que se tornou defensor da paz e da cooperação internacionais, se ele não consegue garantir a segurança e o bem-estar de seus cidadãos?”

Um balizamento, entretanto, deverá estar sempre presente no dia-a-dia programático dos executores dos dois eventos esportivos. Ele é da autoria de George Bernard Shaw: “O progresso é impossível sem a mudança e aqueles que não conseguem mudar sua mente não conseguem mudar nada”.

Quais seriam as mudanças necessárias para o nosso país? Creio que as principais seriam um combate sistemático ao analfabetismo funcional, fortalecendo o Ensino Fundamental; a erradicação da impunidade e dos seus efeitos multiplicadores terríveis, onde muitos não possuem currículos, apenas longos prontuários; uma disciplina mínima para os profissionais das mais diversas áreas, eliminando-se as “culturas de fingimento”, mais blá-blá-blá que fazer concreto; a redução das apoliticizações cínicas que ensejam a perpetuação de uma mesma tecnocracia nunca desinstalada dos cocurutos do mando; a contenção das práticas populistas que amortecem a tesão pelo fazer e a vontade de vencer; refreamento dos assistencialismos com ausência de profissionalização; maiores conscientizações midiáticas sobre os perigos dos fundamentalismos moralistas e puritanos; repúdio às classificações dadas ao civismo como coisa superada, ultrapassada; e continuados alertas sobre individualismos cínicos e individualidades miméticas.

Diante dos desafios portentosos que se afiguram para os amanhãs esportivos brasileiros, necessário se torna ampliar a capacidade estratégica das instituições envolvidas na formatação dos cenários futuros pós-eventos, fortalecendo uma capacidade associativa indutora de coalizões suprapartidárias, fomentadoras de criatividades nunca nostálgicas.

E sempre levar na mais alta conta a advertência de um gênio lusitano chamado Fernando Pessoa: Fiz de mim o que não soube,/ E o que podia fazer de mim não o fiz,/ O dominó que vesti era errado (…)Quando quis tirar a máscara,Estava pregada à cara./ Quando a tirei e me vi no espelho,/ Já tinha envelhecido.

O desenvolvimento brasileiro anseia pelo sucesso dos dois grandiosos eventos.

(Portal da Globo Nordeste, 04.02.2010, Blog BATE & REBATE)
Fernando Antônio Gonçalves