CONHECER E COMBATER PSICOPATAS


Pedem-me uma indicação de leitura que possibilite identificar pessoas insensíveis, manipuladoras, perversas, transgressoras de regras sociais, impiedosas, imorais, sem consciência e desprovidas de sentimento de compaixão, culpa ou remorso. Autênticos predadores sociais, tais e quais aqueles cafajestes de um clube de futebol que, das arquibancadas, torciam contra o Chapecoense, reproduzindo um avião em chamas com requintes de crueldade, caindo e se despedaçando, numa imitação acanalhada da tragédia acontecida há pouco mais de um ano com aquele time de futebol. Encarecem uma referência bibliográfica que favoreça rapidamente a identificação dos portadores de transtornos de personalidade, homens e mulheres classificados como psicopatas.

Um manual de sobrevivência, para todos aqueles que habitam um mundo conturbado como o atual, repleto de psicopatas dos mais variados quilates, deve ser lido vagarosamente por aqueles que possuem responsabilidade social, sejam pais, professores, dirigentes sociais, autoridades públicas, religiosos, animadores comunitários e executivos de Recursos Humanos: Mentes Perigosas: o psicopata mora ao lado, Ana Beatriz Barbosa Silva, São Paulo, Globo, 2014, 232 p.

Logo na Introdução, a autora narra uma conhecida fábula que deveria ser propagada aos quatro ventos, desabobalhando aqueles que imaginam todo mundo bonzinho, pronto para ser ajudado. Peço permissão para aqui reproduzi-la:

“O escorpião aproximou-se do sapo, que estava à beira do rio. Como não sabia nadar, pediu carona para chegar à outra margem. Desconfiado, o sapo respondeu: – Ora, escorpião, só se eu fosse tolo demais. Você é traiçoeiro, vai me picar, soltar o seu veneno, e eu vou morrer.
Mesmo assim, o escorpião insistiu, com o argumento lógico de que, se picasse o sapo, ambos morreriam. Com promessas de que poderia ficar tranquilo, o sapo cedeu, acomodou o escorpião em suas costas e começou a nadar. Ao final da travessia, o escorpião cravou o seu ferrão mortal no sapo e saltou em terra firme.
Atingido pelo veneno e já começando a afundar, o sapo, desesperado, quis saber o porquê de tamanha crueldade. E o escorpião respondeu friamente:
– Porque essa é a minha natureza!”

No capítulo I, a Ana Beatriz afirma que “a consciência é algo extremamente complexo que pode gerar controvérsias por anos a fio. Isto porque ela está acima de teorias religiosas ou mesmo psicológicas e científicas.” E conclui: “A meu ver, ter consciência ou ser consciente trata-se de possuir o mais sofisticado e evoluído de todos os sentidos da vida humana: o sexto sentido. Atrevo-me a afirmar que tal sentido foi o último a se desenvolver na história evolutiva da espécie humana. … Ela influencia e determina o papel que cada um terá na sociedade e no universo.”

Uma leitura bastante atenta deve ser feita no capítulo que trata dos psicopatas frios, desprovidos de consciência, muitos deles convivendo conosco diariamente nos mais variados ambientes, inclusive familiares e religiosos, profissionais e comunitários. Eles são classificados por diferenciadas denominações: sociopatas, personalidades antissociais, personalidades psicopáticas, personalidades dissociais. São portadores de uma ou mais das seguintes características: frios, calculistas, inescrupulosos, dissimulados, mentirosos, sedutores, incapazes do estabelecimento de vínculos afetivos, desprovidos de culpa ou remorso, inúmeras vezes revelando-se violentos, verdadeiros predadores sociais.

Além de descrever alguns casos acontecidos na sociedade brasileira, Ana Beatriz, solicita aos pais atenção especial para os sinais de psicopatia ressaltados desde a infância até a fase adulta. Antes dos dezoito anos, o problema é denominado transtorno de conduta, e são as seguintes as características principais apresentadas: Mentiras frequentes; Crueldade com os animais, coleguinhas, irmãos; Condutas desafiadoras às figuras de autoridade (pais e professores); Impulsividade e irresponsabilidade; Baixíssima tolerância à frustração, com acessos de irritabilidade ou fúria; Evidência a culpar os outros por erros cometidos por si mesmos; Preocupação excessiva com seus próprios interesses; Insensibilidade ou frieza emocional; Ausência de culpa ou remorso; Falta de empatia ou preocupação pelos sentimentos alheios; Falta de constrangimento ou vergonha quando flagrados em erro; Dificuldade de manter amizades; Faltas constantes sem justificativas na escola; Violação às regras sociais através de atos de vandalismos, destruição da propriedade alheia ou do patrimônio público; Participação em fraudes; Sexualidade exacerbada, muitas vezes, levando outros a sexo forçado; Introdução precoce no mundo das drogas e do álcool; Cometimento de homicídio.

Indispensável que as escolas promovam eventos especializados, favorecendo os pais numa maior compreensão das disfunções dos seus filhos, buscando auxílio de profissional especializado, evitando os agravamentos provocados pelas omissões e procrastinações.

A psicopatia não tem cura, posto que se tata de uma transtorno da personalidade, muito embora tal transtorno apresente formas e graus diversos de manifestações. E que sempre saibamos perceber, mesmo em época de folia carnavalesca, onde se fecha os olhos para uma série de excessos, como lidar com os psicopatas, sabendo com quem está convivendo, percebendo que as aparências enganam, sempre considerando na mais alta valia a voz da sua intuição, tendo cuidado com as pessoas excessivamente bajuladoras, redobrando a atenção em determinadas circunstâncias, jamais entrando no jogos das intrigas e nunca tentando mudar o que não pode ser mudado, sempre buscando ajuda profissional, caso necessário.

Lembrando-se sempre que a harmonia do desenvolvimento tecnológico deve sempre estar associada ao combate sistemático ao estilo psicopático de ser e de viver.

(Publicado em 19.02.2018 no site do Jornal da Besta Fubana (www.luizberto.com) e em nosso site www.fernandogoncalves.pro.br)
Fernando Antônio Gonçalves