COMPREENSÕES


Ao findar a leitura do livro-reportagem da jornalista Adriana Mabilia, especialista em assuntos do Oriente Médio pela PUC-SP, denominado Viagem à Palestina – prisão a céu aberto, RJ, Civilização Brasileira, 2013, resolvi ampliar meus conhecimentos sobre um outro Muro de Berlim construído na Palestina, ainda não destruído pelas forças democráticas. E o livro Um Muro na Palestina, de René Backkmann, RJ, Record, 2012, ele colunista de assuntos internacionais na revista francesa Le Nouvel Observateur, tendo passado 25 anos cobrindo o Oriente Médio, veio bem a calhar, principalmente quando li e reli, rabiscando muito, uma entrevista publicada na Caros Amigos nº 209/2014, envolvendo o filósofo Saad Chedid e Marian Said, viúva de Edward Said, um dos mais notáveis críticos culturais do século XX, professor das Universidades de Columbia, Harvard, John Hopkins e Yale, autor do notável estudo A Questão das Palestina, SP, Unesp, 2012. Ele, Chedid, é professor d filosofia e diretor da Cátedra de Estudos Palestinos da Universidade de Buenos Aires, Argentina; ela preside a Fundação Barenboim-Said, estando presente recentemente em São Paulo, por ocasião da inauguração da Cátedra de Estudos Pós-Coloniais Edward Said, na Universidade Federal daquele estado. Ela ainda viaja com a Orquestra West-Eastern Divan, criada pelo seu marido, se apresentando pelo mundo inteiro, manifestando através da música as teorias de Said sobre a necessidade de se olhar com clareza para tão doloroso conflito.

Segundo o filósofo Chedid, se países como Brasil, Argentina, México, Índia e Austrália se comprometessem com mais ímpeto na questão Palestina, poderiam contribuir para uma solução. Pressionando para que Obama e Putin reconheçam o Estado da Palestina, o que seria a solução politicamente mais duradoura.

Edward Said foi um dos que denunciaram o fracasso do Acordo de Oslo, assinado em 1995 entre OLP e Israel, que previa a retirada israelense da Faixa de Gaza e Cisjordânia , direito a autogoverno e questões sobre os assentamentos israelenses, refugiados e fronteiras, também dividindo o território em áreas. E afirmou que tudo foi uma traição aos palestinos.

O economista Jacques Attali, em seu livro Uma breve história do futuro, apresenta três cenários prováveis do amanhã planetário: 1. Um superimpério, representado pelos Estados Unidos e aliados, conferindo um rosto ocidental à globalização; 2. Um superconflito, o planeta se dilacerando num processo de caos; 3. Uma superdemocracia, através de um contrato social mundial, com instâncias de governabilidade global, inaugurando-se uma nova etapa civilizatória de mais justiça e cooperação.

A entrevista concedida na Caros Amigos merece ser bem debulhada para todos aqueles que desejam um mundo mais justo e mais humano, independentemente de credos religiosos e poderio militar. Caso contrário, “se vocês se calarem, as próprias pedras clamarão”, segundo proclamou o Homão da Galileia.

(Publicado em 21.03.2015, no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco
Fernando Antônio Gonçalves