COMO SAIR DA MERDALHADA 2017
Uma pergunta inquieta meio mundo de gente civilizada, preocupada com os destinos brasileiros, principalmente com os amanhãs de filhos e netos de uma Pátria muito amada, salve, salve: Por que o Brasil é um país atrasado? Em outras palavras: Por que o Brasil está se distanciando cada vez mais das nações ditas desenvolvidas? Ou ainda: Por que o Brasil, até hoje não tornou-se desenvolvido, com um povo cidadão por derradeiro, culto e amplamente democrático, com uma Justiça que impõe respeito e um Congresso cada vez mais representante de um povo que está a merecer uma redistribuição de renda mais justa e sempre cada vez mais dignificante?
A leitura de um livro recente – Por que o Brasil é um país atrasado?, Luiz Philippe de Orleans e Bragança, Ribeirão Preto (SP), Novo Conceito Editora, 2017, 256 p., pode servir de alicerce para uma compreensão mais densa sobre o nosso atual estado de calamidade socioeconômica e política, onde escândalos de corrupção os mais aviltantes agridem uma consciência brasileira que está a exigir uma mobilização geral, independente de partidos políticos e ideologias espúrias extremistas, afastadas as influências nada edificantes das denominações religiosas sempre em busca de dominações comunitárias.
O livro não deseja oferecer soluções mágicas, mas apenas aventar subsídios que provoquem discussões propositivas sadias, que busquem iniciativas que alavanquem todos para patamares anticorrupção consolidadores de sólidas posturas governamentais, onde o trinômio Justiça-Liberdade-Empreendedorismo seja capaz de gerar horizontes desenvolvimentistas que favoreçam uma redistribuição de renda mais justa, acompanhada de uma política educacional capaz de catapultar a criatividade brasileira para cenários internacionais competitivos por derradeiro.
Na Introdução, o autor faz uma reflexão bastante oportuna: “Nossa inquietude advém de falsas premissas. A maioria dos brasileiros acredita viver uma democracia. Um grupo menor de cidadãos acredita que o Brasil seja uma república. Muitos de nós acreditamos ainda que a nação brasileira tenha uma organização política de estados federativos autônomos e que nosso sistema econômico seja capitalista, ou uma variante do capitalismo. Desse conjunto de premissas nasce a percepção que temos um modelo institucional aparentemente comparável àqueles de países desenvolvidos; e tal perspectiva falsa é o que alimenta a eterna dúvida do porquê ainda não conquistamos a prosperidade.”
A partir da reflexão acima, Luiz Philippe ressalta que inúmeros formadores de opinião – sociólogos, antropólogos, historiadores, professores, cientistas políticos, jornalistas e, sobretudo, os políticos brasileiros – “tendem a reforçar a ideia de que há limitações culturais e sociológicas que respondem o que há de errado na nossa política e na economia. Segundo eles, a eterna conclusão é a necessidade de ‘alterar a cultura’ e melhorar a matéria-prima humana da nação para consertar o erro no nosso modelo político-econômico.”
O resultado do pensar dos formadores de opinião acima é uma insegurança coletiva que fincou raízes, “tudo sendo culpa da cultura e da sociedade” sendo replicada pelos meios de comunicação – mídia, classe política, igrejas, escolas, universidades – a induzir que somos um povo que precisa ser guiado, liderado, mandado”.
A linha mestra desenvolvida pelo autor está contida na máxima por demais conhecida: “Quem não sabe o que é, não sabe o que quer. E, quem não sabe o que quer, não chega a lugar algum.” Somente, segundo ele, quando definirmos quem somos, saberemos construir a ideia de um Brasil que queremos.
O livro é constituído de treze capítulos e uma conclusão.
Ultrapassados os burburinhos de mais uma passagem de ano, minimizados os fingimentos, as bundolatrias, as maquiagens, o estresse consumista e as macaquices das que apreciam mostrar os seios, camufladas as mentes equinas, as esperanças por um mundo mais humano persistem solidamente plantadas nos corações dos não alienados. Sempre antenados com o pensamento de Erich Fromm, esse notável autor de Ter ou Ser, um famoso livro de cabeceira, muito pouco lido nos últimos tempos por uma juventude apenas interessada em tutu, careta e outras rimas comestíveis: “Pela primeira vez, na História, a sobrevivência física da espécie humana depende de uma radical mudança do coração humano. Todavia, uma transformação do coração humano só é possível na medida em que ocorram drásticas transformações econômicas e sociais que deem ao coração humano a oportunidade para mudança, coragem e visão para consegui-la”.
Com as minhas leituras de férias programadas a partir de uma releitura de A Bagagem do Viajante, de José Saramago, extraordinárias crônicas de um eterno caminhante, reavalio passos e caminhadas, posturas e compromissos, atos e fatos de pretéritos que jamais voltarão, mas que não deverão ser olvidados, para que não mais os erros se repitam. E me presenteio com uma dose dupla de serenidade, sem perder a capacidade de indignar-me, tampouco deixando de lado meu lado molecal, parte indissociável da minha estrutura existencial, posto que sinto-me cada vez mais livre, “um menino-passarinho com vontade de voar”, relembrando esse Luiz Vieira excelente.
Em 2018, estarei ainda mais comprometido com a Casa dos Humildes, cada vez mais enfronhado nas explanações kardecistas, cada vez mais fiel ao Homão da Galileia, meu alicerce maior, por quem sou apaixonado desde rapazinho, acima de todas as denominações religiosas. E como aprendiz, seguirei as orientações dos espíritos superiores, aqueles que me acompanham em todas as horas, sempre ao lado da Maria, a venerável Mãe do Senhor.
Feliz 2018, gente amada!!
(Publicado em 01.01.2018 no site do Jornal da Besta Fubana (www.luizberto.com) e em nosso site www.fernandogoncalves.pro.br.)
Fernando Antônio Gonçalves