COMBATE SEM TRÉGUAS


Confesso que ainda me emociono bastante quando leio a respeito daqueles heróis que, anonimamente a la Schindler – “Vi que os judeus estavam sendo destruídos. Eu tinha de ajudar, não havia alternativa” -, arriscaram suas vidas para salvar judeus do Holocausto, uma ignomínia nazista que jamais deve ser esquecida pelos cidadanizados do mundo. E que deve ser com assiduidade relembrada para melhor combater os neo-nazistas dos tempos de agora, de perversidade igual ou maior do que aquela comandada por Hitler e seus apaniguados, inclusive industriais que desejavam levar vantagens financeiras a todo custo.

Com a minha mulher, assisti há alguns anos, no à época muito pimpão cinema São Luiz, o filme A Lista de Schindler, baseado no livro Schindler’s Art, do escritor Thomas Kemeally. Um extraordinário trabalho de ficção baseado na história verídica do industrial alemão Oskar Schindler (1908-1974), que arriscou vida e fortuna para salvar mil e duzentos judeus das câmaras de gás, demonstrando solidariedade e coragem. Pela sua ação, seu nome está inscrito na relação dos Justos entre as Nações do museu do holocausto do Yad Vashem, em Jerusalém, ao lado de outras personalidades, entre as quais se encontram dois cidadãos brasileiros – Luís Martins de Souza Dantas e Aracy de Carvalho Guimarães Rosa – e o português Aristides de Souza Mendes.

No feriadão de 15 de novembro último, data da Proclamação da República para os abiscoitados que apenas se preocupam com sol, cerveja e corpo sarado, recebi a visita de um casal paranaense, Lina e Samuel, amigos nossos de longa data, que veio visitar a Melba, nos presenteando com dois livros que deverão ampliar nossa consciência e o efetivo combate a favor dos direitos de todos os povos e nações por uma vida digna e humana, independentemente de religião, fé, sexualidade, etnia, local de nascimento e conta bancária.

O primeiro livro foi lido de um fôlego só, tamanha a sua atualidade num mundo de individualismos crescentes e oportunismos políticos alibabásticos por derradeiro. Intitulado Os Outros Schindlers, é de autoria de Agnes Grunwald-Spier, especialista em estudos do holocausto, curadora do Holocaust Memorial Day Trust e juíza de paz. E que foi enviada ainda bebê para um campo de concentração em 1944, juntamente com sua mãe, sendo ambas libertadas em janeiro do ano seguinte, às vésperas de embarcar para Auschwitz. E uma pergunta feita pela autora ainda hoje exige explicação: “Por que certos espectadores do Holocausto se dispuseram a resgatar pessoas e por que tantos continuaram espectadores?”

O segundo livro relata a história do diplomata português Aristides de Souza Mendes, acima citado, que desafiou o ditador Salazar, salvando milhares de vidas do holocausto, terminando seus últimos dias numa extrema penúria. Intitulado Um Homem Bom, seu autor é Rui Afonso, nascido na Ilha da Madeira, atualmente radicado no Canadá. O livro é considerado hoje como biografia definitiva do diplomata português, tornando-se referência obrigatória nos estudos históricos contemporâneos sobre holocausto.

Para quem ainda não percebeu a dramaticidade hedionda do holocausto, vale a pena uma visita ao site do Yad Vashem, instituído em 1953 como um memorial vivo das vítimas do Holocausto. Idealizado para ser um ponto de referência conscientizadora, abrange quatro áreas principais: documentação, pesquisa, educação e homenagem às vítimas, além de demonstrar a gratidão do Estado de Israel aos que contribuíram no resgate de milhares de condenados. Ainda hoje, o Yad Vashem ainda agracia com títulos e medalhas novos heróis descobertos. Como aconteceu com Marie-Élizabeth Lacalle (1885-1969), a Soeur Cybard, reconhecida post-mortem em 2009.
PS. Divulgando os crimes nazistas para melhor combatê-los, dou testemunho público de que, como cristão, também sou descendente de Abraão, Isaque e Jacó. E circuncidado apenas por uma questão de saúde preventiva.

(Publicada em 28/05/2012, no Portal da Revista ALGOMAIS, Recife – PE)
Fernando Antônio Gonçalves