COMBATE AO REICH
Numa aula do professor Benjamin Ginsberg, especialista USA em povo judeu, aluno manifestou estupefação diante da não resistência judaica frente à política alemã de extermínio. O questionamento se baseava no historiador Raul Hilberg: “O padrão de reação dos judeus é caracterizado pela quase completa falta de resistência. Medida em termos de baixas alemãs, a oposição armada judaica se reduz à insignificância”.
Respondendo, o professor Ginsberg declarou que os judeu tinham não apenas resistido mas desempenhado tarefas importantes na derrota da Alemanha nazista, a questão maior se reduzindo em saber onde a comunidade judaica lutara e que meios tinha utilizado. Uma resposta que induziu o notável pesquisador na elaboração do livro Judeus Contra Hitler – Destruindo o Mito da Passividade Judaica Perante o Nazismo, SP, Cultrix, 2014. Um trabalho que mereceu a seguinte opinião do historiador Donald M. McKale , autor dos livros Hitler’s Shadow War, Hitler – The Survival Mith, Nazis After Hitler e The Swastika Outside Germany: “Um estudo muito bem escrito e desenvolvido de modo convincente que mostra a resistência vigorosa e eficiente dos judeus ao nazismo. Benjamin Ginsberg fez uma pesquisa abrangente em fontes militares, políticas, econômicas, científicas, de inteligência e culturais. O resultado é uma síntese que conduz a uma leitura fascinante, mostrando como e por que a resistência e oposição judaica aos nazistas manifestaram-se numa série de cenários tanto dentro quanto fora do território de ocupação alemã. Uma análise primorosa de um assunto importante – e uma contribuição original a esse tema”.
A resistência dos judeus se deu em quatro grandes cenários: servindo como membros das tropas soviéticas, como engenheiros, projetando e construindo muitas armas soviéticas, incluindo o famoso tanque T-34; como soldados nas forças armadas dos EEUU, assessorando o governo Roosevelt na construção da bomba atômica; nos serviços de inteligência (na criptoanálise, primordialmente); e assumindo papéis significativos nos movimentos europeus de resistência antinazista.
O autor levanta, na Introdução, dois pontos: a resistência judaica teve ação cumulativa, jamais coletiva, consistindo em múltiplos grupos sem uma mínima coordenação; a “resistência” judaica se manifestou em cenários diversos, também havendo resistências organizadas nos guetos de Varsóvia, Minsk, Vilna e Bialystock, além de revoltas nos campos de extermínio de Treblinka, Sobibor e Auschwitz, embora muito rapidamente sufocadas pelos alemães.
Com honestidade, Ginsberg reconhece que “nos guetos e campos de morte, esperando salvar suas vidas e as de seus familiares, o número de judeus que cooperaram e mesmo colaboraram com os alemães foi maior que o número dos que resistiram. E como poderia ser diferente?”
Histórias sombrias existiram, no gueto de Lodz por exemplo, sem desmerecer as bravuras praticadas mundo a fora. Todas muito bem detalhadas no livro do Ginsberg. Que vale como leitura esclarecedora.
(Publicado em 22.08.2015, no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco)
Fernando Antônio Gonçalves