COERÊNCIA E DIGNIDADE


Como leitor assíduo da revista Carta Capital, cujo editor Mino Carta admiro desde os tempos dos coturnos impiedosos que se imaginavam eternos a partir de 1964, sensibilizei-me bastante com a reportagem Coerente e Otimista, do jornalista Sérgio Lírio, no número 605, 21 do corrente. Em cuja capa estampa quem há muito está merecendo ser amplamente fiscalizado, sendo a própria foto a antítese do entrevistado Armando Monteiro Filho, um pernambucano arretado, autor de Foi Assim, livro resultado de uma série de entrevistas com o seu amigo Mário Hélio, jornalista dezoito quilates.

O título acima reflete muito apropriadamente um empresário pernambucano que relembra, aos 85 anos de muita jovialidade e excelente memória, acontecimentos marcantes da história brasileira, oferecendo ainda diretrizes para os futuros nacionais, a partir de 2011, quando teremos novo comandante maior à frente dos destinos pátrios.

O livro Foi Assim registra fatos e feitos testemunhados e provocados, nos últimos 60 anos, por Armando Monteiro Filho, Dr. Armando como os pernambucanos afetuosamente o chamam. Quando Ministro da Agricultura do governo parlamentarista do ex-presidente João Goulart, propôs um imposto contra o latifúndio improdutivo, favorecendo uma reforma agrária, mesmo integrando uma família de usineiros tradicionais de Pernambuco. Fez oposição à ditadura militar, sendo um dos fundadores do MDB, ingressando posteriormente no PDT de Leonel Brizola, posto que “era aliado das força depostas e não poderia compactuar com o golpe”.

O que mais dignifica a história do empresário Armando Monteiro Filho é a sua coerência política num ambiente nacional que se encontra encharcado de políticos-moscas, aqueles que se entrelaçam sem cerimônia em latrinas-comunicantes, moralmente se abastardando mediante alianças espúrias, em troca de chupamentos fisiológicos, tal e qual os praticadas pelas moscas de vacaria, que migram de monturo em monturo, com o despudor estampado nos semblantes continuamente velhacos e já pútridos.

Segundo testemunha Dr. Armando, “o Brasil nunca teve uma época de tanto equilíbrio em suas contas”. E vai mais além, no seu entusiamo de nordestino politizado: “E temos um governador (Eduardo Campos) moderno, apaixonado, obcecado pelo desenvolvimento econômico estadual. O canteiro de obras mais importante do Brasil é o Porto de Suape. Todos os estaleiros, a refinaria de petróleo, uma infinidade de pequenas e médias indústrias estão lá instaladas. De maneira que Pernambuco vive um alto astral”.

Para os jovens, Dr. Armando tem uma reflexão históricamente correta: “No momento em que houver uma higienização no processo político, uma reforma, ou funcionem leis como essa da Ficha Limpa, os jovens vão se interessar por política, porque é uma coisa agradável. Os estudantes, por natureza, gostam da política. A tendência existe, agora a repugnância prevalece. O sujeito não quer se meter em lugar tão difamado”.

Deste Bate & Rebate, envio ao Dr. Armando Monteiro Filho, o meu mais afetuoso abraço de congratulações. Pela coerência e dignidade demonstradas ao longo de sua vida pública e empresarial. Quando, sem cavilação, declara que “antes, todos tratavam os usineiros como leprosos. Lula veio e apoiou o etanol e o biodiesel e passou a dizer que os usineiros eram patriotas. Não teve preconceito com o passado. Ele foi leal, cumpriu rigorosamente, respeitou os investimentos e os acordos internacionais. Deu uma demonstração de capacidade fora do comum. Sou entusiasta do seu governo”.

Para dar uma lição aos que se consideram imbatíveis, Dr. Armando narra um fato pitoresco do futebol pernambucano, onde ele atuou, na juventude, como jogador de futebol pelo Sport Clube do Recife, seu time de coração. Diz ele: “Nos dois anos que joguei no Sport, fomos campeões. O pior time da tabela era o Íbis. Quatro vezes jogamos com o Íbis, sempre como os primeiros da tabela, e não vencemos nenhuma, empatamos todas. O futebol tem dessas surpresas”.

Fiquei a matutar com Tico e Teco, os meus dois neurônios buliçosos: será que o Íbis eleitoral, em outubro que vem, vai empatar com muitos grandões por esse Brasil de meu Deus? …

Tudo por Pernambuco, Dr. Armando Monteiro Neto!! Como bem diz o senhor na introdução do seu livro, citando Machado de Assis: “O passado é a melhor parte do presente”. Viva nossos feitos históricos passados!! Muito embora “quem só gosta de passado é museu”, como cantarolava o Dr. Tércio Bacelar, um notável coronel-médico, que um dia conheci no Hospital da Polícia Militar de Pernambuco, no Dérby, pai de quem muito admiro até hoje.

(Publicada em 23.07.2010, no Portal da Globo Nordeste, blog BATE & REBATE)
Fernando Antônio Gonçalves