CIDADANIA PARA SOBREVIVÊNCIA


Outro dia deparei-me com uma observação muito oportuna: “o futuro, agora, pertence às sociedades que conseguirem se organizar para aprender.” Um bom mote para gestores públicos e empresariais que estão convergindo para dois pontos considerados indissociáveis. O primeiro: a importância estratégica da educação básica, como pilastra do desenvolvimento nacional, evitando-se, um dos principais, o fenômeno do analfabetismo funcional. O outro: a revalorização imediata do processo de aprendizagem, abandonando-se o chilicoso, para ser possuidor de apenas quinze minutos de fama no tele-jornal do meio dia, concentrando-se efetivamente num efetivo soro caseiro lê-escreve-conta-e-pensa eficaz, fomentador maior do fortalecimento do binômio cidadania-profissionalidade, uma via de mão dupla, interdependente por derradeiro.
O cidadão do século XXI, consciente das profundas alterações tecnológicas, eletrônicas, sociais e econômicas acontecidas nos últimos trinta anos, percebe que um aprender-desaprender-reaprender continuado é indispensável estratégia para um consistente desenvolvimento profissional. Que muito o auxilia a enxergar melhor o seu derredor, tornando-o menos perplexo num mundo cada vez mais admiravelmente novo, aparentemente mais louco e destrambelhado, seguramente a necessitar da mais efetiva justiça social, talvez por meio ainda pacíficos.
Segundo consagrados especialistas em desenvolvimento profissional, no final das próximas três décadas só existirão dois tipos de profissionais: os rápidos e os mortos. Quem deseja manter sua trabalhabilidade afiada, reconhece que a permanência e a mutação são contrários inseparáveis, como já apregoava Confúcio, nascido no ano 551 antes de Cristo, que apontava cinco qualidades para quem desejasse ser bom profissional: gentil sem aceitar subornos, trabalhar ao lado do povo sem dar motivos para ressentimentos, possuir ambições sem ser avarento, ter dignidade sem orgulho indevido e inspirar respeito sem exercitar a crueldade. Com tais predicados, todo ser humano deveria, segundo ainda Confúcio, “estudar como se jamais fosse aprender, como se tivesse medo de perder o que deseja aprender”.
A era pós-industrial, é bem verdade, fez emergir energias ocultas, ampliando lazeres e liberdades, enormes abismos se abrindo entre os que possuem quase tudo e os que não possuem quase nada, nem sequer esperança sadia. Ações levianas e devassas são cometidas pelos que se dizem inclusive cristãos, cada um desejando puxar os óbulos para suas sacolinhas, às escondidas, como se Deus estivesse morto, mortinho da silva. Como conseqüência, a evolução tecnológica, fantástica sem ser global, ampliou desesperos regionais, gerando indiferenças dos impérios econômicos, quase já erradicando do cotidiano primeiromundista o vocábulo solidariedade. O acontecido recente numa universidade americana é sintoma que ultrapassa e muito as fronteiras de uma loucura exclusivamente individual.
No mais, é introjetar com maior coragem a sabedoria explicitada por Miguel Falabella, ator e dramaturgo da Rede Globo: “De uns tempos para cá, comecei a perceber que há uma geografia fascinante no outro. Sempre. A gente não dá muita atenção, porque não temos tempo, não abrimos mão de certas prioridades, não paramos para olhar no espelho, que dirá o olho do próximo! Mas é, igualmente, um jogo fascinante, esse de descobrir gente e seus universos. Amar as pessoas e suas diferenças – esse é o jogo que venho jogando de uns tempos para cá e, acreditem, tenho gostado cada vez mais das descobertas, porque há gentes que são continentes e uma promessa de terra para o navegador solitário”.
Assino embaixo, sem pestanejar, e persistirei proclamando a lição do Falabella, bastando-me a carteirinha de Ser Humano, essa categoria tão vilipendiada pela tão já estupefata pós-modernidade.