CARAS E URUBUNDAS


Quando o presidente Barack Obama apontou o presidente Lula como um dos eleitos do Panteão dos Caras, levou em conta uma série de fatores, inclusive o dele ser “o maior nome que já tivemos entre 1980 e 2010”, na opinião do cientista político Carlos Matheus, que durante 30 anos esteve à frente do Gallup, um respeitável instituto de pesquisa, atualmente ministrando cursos livres de Ética e Filosofia Contemporânea. Segundo ainda Matheus, “o Lula é um homem muito perceptivo. Ele já entendeu que dizer uma besteirinha ou outra não faz mal, porque, enfim, todos nós dizemos as nossas um dia. … Devemos reconhecer que o Lula não é uma pessoa arrogante. Ele erra e reconhece os erros dele. CARAS E URUBUNDAS

Quando o presidente Barack Obama apontou o presidente Lula como um dos eleitos do Panteão dos Caras, levou em conta uma série de fatores, inclusive o dele ser “o maior nome que já tivemos entre 1980 e 2010”, na opinião do cientista político Carlos Matheus, que durante 30 anos esteve à frente do Gallup, um respeitável instituto de pesquisa, atualmente ministrando cursos livres de Ética e Filosofia Contemporânea. Segundo ainda Matheus, “o Lula é um homem muito perceptivo. Ele já entendeu que dizer uma besteirinha ou outra não faz mal, porque, enfim, todos nós dizemos as nossas um dia. … Devemos reconhecer que o Lula não é uma pessoa arrogante. Ele erra e reconhece os erros dele. Ele chora, reage com irritação e, nele, tudo isso é verdadeiro”. Uma avaliação que não merece reparos, posto que advinda de um profissional que muito entende do riscado, que nunca se distanciou daquele balizamento anunciado pela publicidade de uma aplaudida editora: “Comunicar as próprias convicções sem oprimir a realidade é o maior desafio da contemporaneidade”.

Entretanto, as posturas assumidas pelo presidente Lula, num ano eleitoral como o de 2010, se distanciam léguas das estratégias adotadas por alguns dos seus auxiliares mais próximos, que parecem desejosos de ver o caldeirão ferver, alienados que são – doidivanos talvez ou ansiosos para conquistar uma boquinha num Congresso Nacional já infectado de inúmeros pulhas – das articulações políticas que devem preceder os futuros lançamentos das candidaturas governamentais aos postos majoritários.

Se eu pudesse, presentearia o ministro Paulo Vanucchi com um exemplar do excelente livro Os Três Grandes, de Jonathan Felby, editora Nova Fronteira, 2009, que “recria o clima das conferências aliadas entre Roosevelt, Stalin e Churchill para mostrar quem pressionava quem e quem estava no controle”, segundo jornal londrino. Até para rebater as insinuações dos que o acusaram de ter falado demais quando de sua prisão, em 1971, conforme noticiou o jornalista Cláudio Humberto em sua coluna.

Se o livro acima estiver esgotado, encareceria uma outra leitura ao chefe Vanucchi, aquele que, às vésperas de um evento que aconteceu em dezembro último, ameaçou arroteiramente chamar de “covardes” os chefes militares que a ele não comparecessem, inclusive o ministro Jobim. A sugestão seria uma entrevista concedida em agosto à respeitada revista Cult por Zygmunt Bauman, o sociólogo da chamada “modernidade líquida”, que revela: “em um mundo povoado principalmente por caçadores, não há espaço para a esquerda utópica. Muitas pessoas não tratam seriamente propostas utópicas”. E ressalta com invejável atualidade: “se em uma vida contínua e continuada, a caça é uma utopia, ela é – ao contrário das outras – uma utopia sem nenhum efeito”. E não faz por menos: “a inquietação do compulsivo, obsessivo, viciado caçador de utopias foi impelida e sustentada por um desejo de descanso”.

As utopias proféticas permanecem nas consciência dos evolucionários, políticos e religiosos. Mas as conquistas dos degraus ascensionais de uma escalada utópica não podem ser levadas de roldão, sem uma estratégia orquestrada por lideranças legitimadas, aquelas que não estão buscando alguns minutos de “aparecência” no palco político, tampouco sendo portadoras de uma “enxergância” focada no próprio umbigo, a ressaltar oportunistas “iluminuras” eleitoreiras de baixa voltagem.

A filósofa Hannah Arendt, pensadora política alemã, dizia que “a cidadania é a consciência que o indivíduo tem do direito a ter direitos”, consciência que amplia a repugnância contra os ufanismos eleitoreiros e as ações anti-dialogais camufladas por sorrisos, viagens, palavras de ordem, nhenhenhéns, xiriris, vandalismos, publicidades onerosas e eventos promocionais em busca de sustentações funcionais nas futuras equipes dirigentes.

Uma crise torna-se saudável quando não se contenta em ser apenas uma crítica aos outros, mas quando se torna, muito oportunamente, um julgamento de si mesma. E isso somente advirá com mais capacitação e mais participação, no Brasil, dos severinos de maria, dos que ainda se encontram desvinclados das ONGs socialmente responsáveis, que devem ser diferenciadas daquelas que apenas engabelam os “disleriados”, usufruindo taludos salários e gerando nulas efetividades.

PS. Viva Dra. Zilda Arns, uma cara que vai deixar muitas saudades pelos extraordinários trabalhos realizados !

(Portal da Globo Nordeste, 18.01.2010, Blog BATE & REBATE)
Fernando Antônio Gonçalves
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(Portal da Revista ALGOMAIS, 11/01/2010, Reflexões de Caminhante