CAPACITAÇÃO DE GESTORES


Sem bajulismos, posto que ele os terá em demasia antes mesmo da posse, cumprimento o prefeito Geraldo Júlio pela iniciativa de instituir um Centro de Capacitação de Gestores Públicos, favorecendo a formação de quadros dirigentes para o Recife e região metropolitana. Quadros binoculizadores que apreendam desafios e superem barreiras bur(r)rocráticas e mesmices procrastinatórias do cotidiano através de efetividade gestora nunca dinossáurica, antenada com as exigências de uma sociedade do conhecimento já taluda em segmentos vários de um agora cada vez mais mutável.

Capacitar gestores é jamais esquecer a advertência de Celso Furtado, cuja Formação Econômica do Brasil, Companhia das Letras, 2009, deveria ser uma das leituras indicadas para a seleção da primeira turma: “Não podemos fugir à evidência de que a sobrevivência humana depende do rumo de nossa civilização, primeira a dotar-se dos meios de auto-destruição. Que possamos encarar esse desafio sem nos cegarmos, é indicação de que ainda não fomos privados dos meios de sobrevivência. Mas não podemos desconhecer que é imensa a responsabilidade dos homens chamados a tomar certas decisões políticas no futuro. E somente a cidadania consciente da universalidade dos valores que unem os homens livres pode garantir a justeza das decisões políticas”. Uma leitura indispensável, que combate dois tipos de comportamentos profissionais predatórios: uma expressividade comodista e uma politização impotente, retratadas na constatação do australiano Robert Hughes: “A velha divisão de direita e esquerda acabou se assemelhando mais a duas seitas puritanas, uma lamentosamente conservadora, a outra posando de revolucionária mas usando a lamentação acadêmica como maneira de fugir ao comprometimento no mundo real “.

Um segundo livro deveria ser lido para a seleção: A História do Homem – uma Introdução a 150 Mil Anos de História da Humanidade, de Cyril Aydon, Record, 2011. Descrição analítica do caminho percorrido pelo ser humano, da Idade da Pedra até a Era Espacial, que questiona por que o Homo Sapiens ainda existe enquanto outras espécies já pereceram e para onde estamos indo? O texto aborda o nascimento das religiões, a ascensão e queda de impérios, as invenções e as revoluções dos pensamentos, governos e tecnologias, ainda denunciando as fomes cruéis, os desníveis sociais crescentes, as doenças degenerativas e as endemias que ainda vitimizam milhões de crianças. Escrito com lucidez e muito bom-senso por um não-historiador que soube coletar informações preciosas de fontes históricas merecedoras de respeito.

Sugeriria ao futuro prefeito, para o Centro de Capacitação de Gestores Públicos, uma biblioteca técnico-humanística que tornasse os gestores públicos desrobotizados, menos contempladores dos próprios umbigos. O Recife necessita combater com paixão, a “cegueira do progresso”, expressão de Adorno, evitando um fazer a gestão pública sem questionamentos.

Um Centro de Capacitação de Gestores Púbicos balizado no que disse o governador Eduardo Campos, no Rio Grande do Norte: “O que faz uma gestão ter apoio político não é a habilidade do governante nem a compreensão dos aliados. Uma administração é bem ou mal sucedida se a equipe que a conduz for bem escolhida e se a ação que desenvolve for focada em objetivos claros para construir melhoria na vida das pessoas”.

(Publicado no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco, 11.01.2013)
Fernando Antônio Gonçalves