BRASIL, VIRTUDES E PECADOS
Batendo papo, outro dia, com meia centena de jovens, tive a oportunidade de testemunhar a ânsia deles em conhecer a História do Brasil, seus ontens e hojes, pecados e virtudes. E recomendei para todos a leitura de Brasil em Alta: a história de um país transformado, recentemente editado pela Geração Editorial, São Paulo. Seu autor, Larry Rohter, é aquele mesmo jornalista norte-americano que irritou o então presidente Lula, quando insinuou que “ele bebia além da conta”, numa das suas reportagens sobre o país.
Para se ter uma ideia sobre Rother, basta que se diga que ele estuda o Brasil há mais de 40 anos, seu livro sendo sendo considerado indispensável para quem deseja, imparcialmente, conhecer as transformações acontecidas nos últimos trinta anos, também não ficando desnorteado diante de algumas questões que atordoam a consciência nacional: “até onde é verdadeira a imagem que o Brasil tem, no resto do mundo, de terra do Carnaval, do samba, do futebol e da permissividade sexual?; será verdade que o povo brasileiro não é racista, como asseguram vários sociólogos?; por que no Brasil e tão difícil afastar políticos corruptos e impedir que continuem a exercer cargos de poder?; de que maneira o famoso ‘jeitinho’ brasileiro acaba sendo mais prejudicial do que vantajoso ao país?; por que, apesar do conceito de igualdade ser tão caro aos brasileiros, a sociedade brasileira ainda é uma das mais desiguais do mundo, com abismos imensos separando as classes, as raças e os gêneros?” Questões que se encontram por detrás de mazelas sociais que se enroscam desde os tempos da colonização, travestidas de clientelismos, fisiologismos, corrupção e forças retrógadas que costumam comandar os destinos nacionais.
Com relação ao “jeitinho” tipicamente brasileiro, um fato aconteceu com o antropólogo Roberto da Matta nos Estados Unidos. Sendo convidado a participar de encontro de Antropologia patrocinado pela Organização dos Estados Americanos, em Los Angeles, ele atravessou uma rua na faixa de pedestre com sinal vermelho. O guarda apitou, já com o talão de multa na mão. Multa lavrada, ele recusou-se a assiná-la. Foi quando ouviu o famoso “You are under arrest! (Você está preso!), imediatamente sendo algemado. Concordando em assinar a multa, foi liberado. E Da Matta aprendeu o que era conviver sem qualquer “jeitinho”, numa terra onde algemas foi feita para todo mundo.
Quando ainda muitos não dimensionam as potencialidades do Brasil, apesar de todos os seus pesares, vale a pena ver o livro do Rother como um retrato sem retoques, onde ele discorre sobre a história, o povo, a economia os recursos nacionais, os costumes, a cultura e a política de um país que vem proporcionando gigantescas e positivas mudanças nas últimas décadas, bem como sua transição de uma ditadura para uma democracia sempre a necessitar de mais densidade e menos desigualdade.
O estudo do Rother é um excelente subsídio para quem deseja conhecer o Desenvolvimento Brasileiro a partir de um crescimento econômico ainda distanciado dos parâmetros mínimos exigidos para políticas distributivas menos vexatórias. Analisa pontos fortes e débeis da trajetória brasileira, identificando os principais obstáculos sociais, sempre oferecendo informações que resultem em cidadania, para que não se perenize o pensar do Rubem Alves: “Em terra de urubus diplomados não se ouve canto de sabiá”.
(Publicado no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco, 27.07.2012
Fernando Antônio Gonçalves