BRASIL EM 50 FRASES
Preparando-me para o trabalho cotidiano, reservo tempo para uma dupla higiene mental: leituras e passeios por sites interessantes. Destes últimos merecendo destaque cotidiano a Livraria Cultura, filial daqui e matriz na capital paulista, e o Facebook, onde costumo me entreter, dialogando com amizades, algumas de mais de trinta anos, revelando sonhos, angústias e posicionamentos sobre assuntos variados, inclusive os anedóticos e políticos, estes quase redundâncias dos primeiros.
Vez por outra tenho sido presenteado com livros. Um deles foi A história do Brasil em 50 frases, de Jayme Klintowitz, Leya, 2014. O autor, considerando que a história é feita de fatos e frases, dividiu sua pesquisa em blocos: Dos desbravadores / Das batalhas e revoltas / De reis, príncipes e imperadores / De místicos e visionários / Dos construtores / Dos pensadores / De golpistas e ditadores / De presidentes. Selecionados foram notáveis moralizadores e grotescos moralistas, tribunos memoráveis e canalhas inesquecíveis, leigos e religiosos, para não falar de intelectuais chifrudos e cientistas evolucionistas, políticos e imperador especializado em conquistas amorosas e mil e uma paixões, monarca em dois países.
Segundo o autor, as frases selecionadas traduzem apenas o sentido do drama, da vontade e das situações que marcam a trajetória de um povo, o Povo Brasileiro, ainda minimamente cidadanizado, embora dotado de muita paciência e gosto por futebol, praia, carnaval e bundas femininas, falando uma língua única nos quatro recantos, aqui e ali acrescida de regionalismos que não obstaculizam entendimentos.
A leitura do livro esclarece fatos. Por exemplo, sobre a famosa frase do Imperador Pedro I, “Independência ou morte!”, às margens do Ipiranga. Na verdade, a frase pronunciada, quando declarou rompidas as relações com o Reino foi: “Pois verão quanto vale o rapazinho!”, rebatendo o desdém com que era tratado pelos políticos portugueses que buscavam reconduzir o Brasil à colônia.
Como explica Jaime Klintowitz, “não se trata de uma coletânea do que de melhor ou mais espirituoso foi dito nos últimos quinhentos anos. … Algumas frases foram muito repetidas no passado e agora repousam no baú das expressões em desuso. Aqui são lembradas de forma a permitir uma visita-relâmpago à história brasileira”.
O passeio pela História do Brasil terá o roteiro feito por cada leitor. Eu pelo menos escolhi o de Dom Pedro II: “Se não fosse imperador, desejaria ser professor. Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro”. Que sofreu, quando em 1879, diante de um aumento de 20 réis nas passagens de bonde no Rio de Janeiro, viu uma multidão indignada queimar bondes, arrancar trilhos e espancar motorneiros, a polícia reagindo, matando alguns manifestantes.
(Publicado no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco, 21.03.2014