BOM HUMOR E ENXERGÂNCIAS


1. No encontro que aconteceu, julho último, com os intercambistas do NORBREX, que envolve os clubes rotários de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, bati um papo descontraído com os jovens que irão representar a região pelos quatro cantos do mundo. Além de reabraçar meus queridos amigos Francisco Leandro, Zazá e Rivaldo, tive uma alegria gota serena, após contar uma história ocorrida há alguns anos atrás. E o fato, verdadeiro por derradeiro, foi o seguinte: avô amado, passeando com neto criança pelo pasto de uma pequena granja, em Aldeia, solta um estridente pum, daqueles audíveis a alguns metros. Virando-se imediatamente para o garoto, com ar zombeteiro exclama: Huguinho, você??? Resposta imediata do menino, sem querer denunciar o avô querido: Oxente, voínho, fui eu não. Num tá vendo que um peido deste tamanho não cabe na minha bunda?

Terminado o papo, eis que um dos intercambistas se apresenta, declarando ser o neto da história acima, também me apresentando seus pais. E me prometendo enviar dois livros escritos pelo seu avô, autor do pumzão histórico.

E os Correios me entregaram, sábado passado, um pacote bem embalado contendo os dois livros prometidos: Nós lá de casa e Cascalho. Ambos escritos por Hugo Varella de Matos Brito, o avô do pum, um deles trazendo a seguinte dedicatória prá lá de espontânea: “Professor Fernando, sou o garoto peidão da história citada em sua palestra. Este livro que estou lhe enviando foi escrito pelo meu avô, o protagonista da história. Ass: Peidão Orgulhoso Hugo Melo”.

2. Gosto que me enrosco dos jovens que possuem responsabilidade. E sempre envio para os abilolados pidões e pouco solidários para com os desfavorecidos algumas recomendações fraternais: a. Nunca reclame com aspereza, agradeça sempre!; b. Mesmo quando tudo estiver escuro, seja luz, ilumine!; c. Acostume-se a agradecer e não a obrigar-se. Diga sempre “grato” ou “agradecido”, nunca “obrigado”; d. Peça perdão se achar que a responsabilidade é sua; e. E lembre-se sempre, nos piores momentos, de repetir para si mesmo a reflexão de Lulu Santos: “Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia: tudo passa, tudo passará”.

3. Uma geração com cada vez menor NA (Nível de Abobamento) está emergindo Brasil afora. Dois exemplos curtos: a. Netinha, ao telefone: Voínha, lembra daquela empregada que trabalhou um bocado de tempo na sua casa, a Mirinha? Tá trabalhando agora aqui em casa. Mas não se preocupe, viu? Não acreditei nadica nas leseiras que ela disse que você tava fazendo por causa da idade; b. Netinha com o avô, na porta da Igreja, aguardando a mãe que estacionava o carro. Uma coleguinha se aproxima: – Você não disse que a seu avô mancava? Resposta: – Não é bem assim, só quando ele anda.

4. O talento lusitano Fernando Pessoa, parecia “enxergar” bem as conjunturas de uma nova década de um século que se anuncia repleto de fatos encruzilhadais: a. “Não sou da altura que me veem, mas sim da altura que os meus olhos podem ver”; b. “Cultura não é ler muito, nem saber muito; é conhecer muito”; c. “Alague o seu coração de esperança, mas não deixe que ele se afogue nelas”; d. “Tudo é ousado para quem nada se atreve”.

5. O médico psicoterapeuta Roberto Shinyashiki, aponta as três montanhas que devem ser escaladas pelos que postulam uma existência consciente, repleta de boas ultrapassagens, recheada de realizações pessoais, aureolada por uma auto-estima essencialmente cidadã: a profissional, a afetiva e a da transcendência. A primeira, desenvolve no ser humano as condições necessárias para sua subsistência, ele também contribuindo para que os do seu derredor tornem-se menos infelizes. A segunda, a afetiva, relaciona-se com um relacionamento amoroso estável, sem quaisquer outras intenções, salvo a de promover um harmonioso ambiente doméstico. A terceira, relaciona-se com a necessidade de se sentir parte integrante do Universo, evoluindo do animal para o ser humano, percebendo a lição maior do filósofo: “só existe uma coisa pior do que achar que seu caminho é o único: é pensar que o seu caminho é o melhor”.

6. Meu pai sempre dizia que Gregório Bezerra, seu sargento-instrutor no Tiro de Guerra, atual CPOR, era um dos homens de maior caráter por ele conhecido. E meu eternizado pai era católico apostólico romano sem nenhum traço de esquerdismo. Apenas um homem que dava a César o que a César pertencia. E sempre que ouvia alguém cacarejar, querendo enfiar dedo em fiote de onça morta, meu pai repetia frase de uma contraparente de João Cabral de Mello Neto: “Não liga não, filho, pois quem dá cartaz a bunda é penico”. Lançada nova edição de Memórias de Gregório Bezerra. Um homem de muita bravura e agir coerente. Que mereceu, no cordel História de um Valente, de Ferreira Gullar, a seguinte homenagem: “Mas existe nesta terra / muito homem de valor / que é bravo sem matar gente / mas não teme matador, / que gosta de sua gente / e que luta a seu favor, / como Gregório Bezerra / feito de ferro e de flor”.

(Publicada em 08/08/2011, no Portal da Revista ALGOMAIS, Recife – PE)