BILHETE PARA AHMADINEJAD


Muito embora não tenha qualquer procuração da comunidade judaica do meu país, nem sendo hebreu, ainda que descendente na fé de Abraão, Isaque e Jacó, dada minha condição de cristão militante, expresso minha profunda aversão pela sua presença em solo brasileiro nos próximos dias.
A explicação é simples: negar a existência do Holocausto, onde milhões de seres humanos foram assassinados, é prova cabal de uma estúpida ignorância, característica daqueles que desconhecem os ontens históricos, vivendo ideologicamente anestesiados por um sistema ainda teocrático de governo, nunca batalhando por amanhãs de mínima fraternidade universal.
Além disso, mesmo levando em conta uma postura recentemente mais moderada, seu país continua fechado, mantendo uma força policial secreta orientada para exterminar, sem qualquer preocupação com os Direitos Humanos, as iniciativas oposicionistas mais simples.
O Irã, para quem não conhece, é o nome atual da antiga Pérsia, que foi cenário de muitas histórias bíblicas. Entre as mais famosas encontram-se a história de Daniel na cova dos leões, a luta de Ester e Mardoqueu para salvar o povo judeu e o serviço de Neemias ao rei. Sua principal etnia, a persa, congrega metade da população, o restante se dividindo entre grupos árabe, azeri, baluche, curdo, gilaki, lur, mazandarani e turcomano. São faladas no país 77 línguas, a religião oficial é o islamismo, sendo xiitas sua maioria, convivem conflituosamente com as minorias de zoroastras, bahaístas, judeus e cristãos.
Seria bom que avisassem à sua assessoria sobre a plena liberdade religiosa reinante em nosso território, diferentemente do que está acontecendo em seu país, onde os muçulmanos que se convertem ao cristianismo são rotineiramente interrogados e espancados, acreditando-se que muitos dos homicídios não esclarecidos sejam praticados por fundamentalistas que diariamente ameaçam os cristãos de morte.
Além da violência exercida pelas autoridades do seu país, os ex-muçulmanos são também oprimidos pela sociedade. Eles têm dificuldade em encontrar e manter um emprego, sendo sumariamente demitidos quando se descobre que foram convertidos ao cristianismo. Até aqueles que se estabelecem num negócio próprio têm problemas em manter sua clientela.
Para quem menospreza a História, seria oportuno relembrá-lo sobre o que foi o Holocausto. Quando da invasão da Polônia, Hitler começou a aniquilar o povo judeu, dado viver em solo polonês a maior população judaica da Europa. Para que a sua pessoa tenha noção, durante os seis anos de guerra (1939-1945), foram assassinados pelos nazistas seis milhões de judeus, incluindo 1,5 milhão de crianças, um assassinato em massa que já estava previsto desde 1924, quando Adolf Hitler escreveu Mein Kampf, de título Minha Luta em língua portuguesa, fato plenamente passível de verificação na edição feita pela Editora Centauro, em 2001, quando se lê num posfácio do autor: “Um Estado que, na época do envenenamento das raças, se dedica a cultivar os seus melhores elementos raciais, tem de um dia se tornar senhor do mundo”.
Atualmente, somente grupos racistas de neonazistas e grupos anti-semitas tentam negar o Holocausto. Não sei, com honestidade, em qual dos grupos a sua pessoa se insere. Mas certamente seus seguidores já tomaram conhecimento das leis raciais nazistas publicadas em 1933/35, quando foram erradicados as lojas e os negócios dos judeus, os médicos tornados proibidos de exercer suas funções, nenhum judeu podendo trabalhar em áreas públicas, sendo retirado deles o direito à cidadania alemã.
A sua pessoa e a sua equipe talvez ignorem, por ausência de cultura histórica, o que aconteceu em 1938, por ocasião da Kristallnacht (Noite de Cristal), quando foram destruídas mais de 200 sinagogas, fechadas 7500 lojas, 30.000 judeus do sexo masculino sendo enviados aos campos de concentração. Neste mesmo ano foram construídos os primeiros ghettos na Alemanha, onde se isolavam os judeus do mundo exterior, 600.000 morrendo de fome, frio e enfermidades várias.
Dado o desconhecimento que contamina sua mente, informo-lhe que cristãos, judeus e zoroastras continam sendo retaliados em seu país. Na área cristã é permitido que igrejas ligadas às minorias étnicas ensinem a Bíblia ao seu próprio povo e em sua língua. No entanto, mediante uma determinação sinistra, tais igrejas estão proibidas de pregar o Evangelho em persa, a língua oficial do país. Para que seu governo não permaneça na ignorância, no ano passado, 2008, aconteceu um grande número de ataques a igrejas domésticas e muitos cristãos foram presos, tornando-se um dos anos mais difíceis para a Igreja, desde a Revolução Islâmica de 1979.
Que a sua pessoa, saída recentemente das urnas com 24 milhões de votos, 10 milhões a mais que o seu adversário mais próximo, não mais tente ofuscar a História, igual a muitos que vivem proclamando por aí um “nunca na história deste país”, que beira a uma obsessão messiânica capaz de trágicos finais.