BEM-AVENTURANÇAS EDUCACIONAIS
Certa feita, há quase quinze anos, um padre evangelizador nordestino, também educador, José Ivan Pimenta Teófilo, elaborou algumas reflexões para um evento docente. E um dos jornais que estava cobrindo a solenidade publicou as reflexões do sacerdote com o título de Bem-Aventuranças do Educador.
Numa época onde até bispo confessa ter embilocado, com gravidez e nascimento de rebento, uma adolescente de pouco mais de quinze anos, quando se hospedava na casa de uma madrinha da jovem para exercer, entre outras, as suas funções episcopais no departamento de San Pedro, a releitura das Bem-Aventuranças do Educador favorece o adensamento de uma cidadania que precisa continuar atenta e forte diante das patacoadas praticadas por adultos de todos os sexos e ocupações.
Uma leitura atenta do texto abaixo amplia criticidades, retempera ânimos civilizatórios, agigantando as responsabilidades sociais de todos aqueles responsáveis pela moral e pelos bons costumes de uma América Latina que necessita deixar as hipocrisias de lado.
“Felizes os educadores que tomam consciência do conflito social em que estão metidos e nele tomam partido pelo projeto social dos empobrecidos, porque assim contribuirão para a transformação da sociedade; infelizes os educadores que imaginam que a ação educativa é politicamente neutra porque acabam transformando a educação num instrumento de ocultação das contradições da realidade social e de reprodução da ideologia e das relações sociais vigentes; felizes os educadores que sabem articular o saber sistemático com o saber popular, porque ajudarão as classes populares a afirmar sua identidade cultural; infelizes os educadores que transmitem mecanicamente um saber elitista, porque contribuem para reforçar a marginalização e a dominação cultural do povo; felizes os educadores que aprendem a dialogar com os educandos, porque resgatam a comunicação pedagógica criadora no processo educativo; infelizes os educadores que impedem os educandos de dizer a sua palavra, porque estão reproduzindo a educação do colonizador; felizes os educadores que se tornam competentes em suas ‘disciplinas’ ensinando a ‘desopacizar’ ideologicamente seus conteúdos, porque ajudarão os educandos a se apropriarem do saber como ferramenta de luta na defesa e afirmação de sua dignidade; infelizes os educadores que não se esforçam para ser criticamente competentes, porque enfraquecerão mais ainda o poder cultural das massas oprimidas reforçando o autoritarismo cultural das classes dominantes; felizes os educadores que procuram se organizar para conquistar melhores salários e melhores condições de ensino, porque estão ajudando a conquistar a educação a que o povo tem direito; infelizes os educadores que atuam isoladamente, buscando apenas seus próprios interesses, porque deixarão de contribuir para a conquista de uma escola digna; felizes os educadores que iluminam sua prática com o sonho de um futuro novo em que as pessoas aprendam, através de novas relações sociais, as lições da justiça e da solidariedade; infelizes os educadores que não sonham, porque não terão a coragem de se comprometer na luta criadora de uma nova sociedade a partir de sua prática educativa; felizes os educadores que aprendem a fazer da ação de cada dia a semente da nova sociedade; infelizes os educadores que pensam que as coisas só aparecerão no futuro, porque não perceberão nem farão perceber que o ‘novo’ já está no meio de nós, brotando de nossas práticas transformadoras, solidárias com as lutas dos espoliados da terra”.
Quando, hoje, até um senador do nível intelectual de Cristovam Buarque, diante de um Congresso Nacional enlameado por múltiplos escândalos, intempestivamente propõe plebiscito sobre o seu fechamento, urge, através de uma Pedagogia Libertadora, ressuscitar a esperança num futuro altaneiro para o todo pátrio!
PS. Do Rubem Alves, O sapo que queria ser príncipe é leitura imperdível. Lembrei-me, relendo o livro, do presidente Lugo, do Paraguai. Que mesmo sendo príncipe, não se acanhou de comer umas pererecas jovens. Tal e qual um safadão.