BATALHADORES BRASILEIROS
Toda vez que navego pelo site da Editora da Universidade Federal de Minas Gerais – www.editora.ufmg.br -, percebo a contemporaneidade dos seus lançamentos. E um dos seus últimos é da lavra de um sociólogo de bom calibre investigatório, o Jessé Souza (PhD em Sociologia pela Universidade de Heildelber, Alemanha), cujo texto recém lançado – Os Batalhadores Brasileiros: nova classe média ou nova classe trabalhadora? – propõe fomentar um debate dos mais significativos no campo social, econômico e político do país, sobre uma nova classe trabalhadora chamada incorretamente de “nova classe média”. Que se encontra distanciada da incorporação dos dois capitais mais significativos da sociedade moderna: o capital econômico e o capital cultural, o que tipifica o seu não-pertencimento a uma classe média convencional.
O livro do Souza resultou de uma pesquisa realizada nas grandes regiões brasileiras e que foi apoiada pelo CGEE – Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, organização social supervisionada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e pela Fapeming – Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de Minas Gerais, contando com o entusiasmo do professor Roberto Mangabeira Unger, à época Ministro Extraordinário de Assuntos Estratégico do Governo Federal, também autor do prefácio.
O mote norteador para a efetivação da pesquisa se encontra na orelha do livro: “O novo regime de trabalho do capitalismo financeiro em nível mundial encontrou nesses batalhadores brasileiros – assim como em frações de classe média correspondentes em países emergentes como Índia e China – sua ‘classe suporte’ típica. Sem contar com as benesses provindas de uma socialização anterior de lutas operárias organizadas, disponível para aprender todo tipo de trabalho e disposta a se submeter a praticamente todo tipo de superexploração de mão de obra, essa nova classe social logrou ascender a novos patamares de consumo a custo de extraordinário esforço e sacrifício pessoal.Foram esses brasileiros que construíram o fundamento do período de desenvolvimento que vivenciamos hoje em dia. Para onde quer que essa nova e vibrante classe de brasileiros batalhadores se incline, desta inclinação dependerá também o desenvolvimento político e econômico brasileiro no futuro”.
O livro tem uma Introdução – Uma nova classe trabalhadora brasileira? – e três partes: Perfis de Batalhadores Brasileiros, A Economia Política do Batalhador e A Religião do Batalhador. Na introdução, Souza define como maior desafio do pensamento crítico brasileiro o de “perceber mudanças sociais, políticas e econômicas profundas, no contexto de uma época em transição”, num mundo que se encontra em ebulição, bem maiores nos próximos anos depois da tragédia japonesa acontecida em março passado. E ele ressalta que qualquer observador mais atento percebe que todos os analistas estão falando como se o mundo inteiro estivesse prestes a ser regido por uma nova “lei social”, muito embora nada seja definido sobre o “como” exatamente o mundo teria se modificado a partir de novos estamentos.
Na primeira parte são observadas as formalidades precárias da capacitação profissional, os que estão integrados nas unidades familiares dos empreendimentos rurais, a caracterização das famílias, os batalhadores feirantes, inclusive os da Feira de Caruaru, também sendo descritos aspectos de racismo. Na parte segunda, são analisados os populismos e os medos sentidos da maioria, também observados os estoicismos práticos do batalhador e a moralidade do trabalho, interpretando as alternativas existentes entre a glorificação do oprimido e a legitimação da opressão. Finalmente, na derradeira parte, é estudado os entrelaçamentos existentes entre pentecostalismos e os movimentos de classe.
Como Conclusão, busca-se estabelecer um elo orgânico entre patrimonialismo e racismo de classe, a partir dos discursos estruturados por uma classe social caracterizada indevidamente de média, conservadora por derradeiro, fundamentalisticamente quase reacionária.
(Publicada em 28.04.2011, no Portal da Globo Nordeste, blog BATE & REBATE)
Fernando Antônio Gonçalves