BABAOVISMOS E OUTROS ISMOS


O norte-americano chama de yes-man, nós o chamamos de lagartixa, aquele sujeito, sem mínima personalidade, que é praticante contumaz de um puxa-saquismo desenfreado, que se apossa da chefia desde o dia primeiro de trabalho, sempre a imaginando divina e portadora de todas as soluções possíveis e imagináveis para os problemas da instituição, num concordismo execrável, radicalmente diferenciado daquele sistema exegético que, segundo o Aurélio, “consiste em interpretar a Bíblia, o Corão e outros livros sagrados de maneira a colocá-los de acordo com os fatos científicos”.

De continuada intenção exclusivamente orgásmico-bajulatória, o baba-ovo é incapaz de oferecer dois mil reis de criatividade propositiva. Dizem alguns médicos especializados que o espectro de um baba-ovo profissional sai até nas radiografias tiradas das partes pélvicas dos seus superiores imediatos. De mãos e lábios sempre próximos dos bagos reprodutórios dos radiografados.

Todo puxa-saco tem seu dia de festividade comemorada a cada 13 de setembro, quando se celebra o Dia Nacional do Puxa-saco. A expressão “puxa-saco” surgiu na área militar, em ontens distantes, quando os soldados levavam os sacos de pano que continham roupas e pertences dos mais graduados, dada a então inexistência das malas contemporâneas.

O babaovismo tem até seus Dez Mandamentos, cumpridos integralmente pelos mais experientes: 1. Ser o primeiro a dar bom-dia, postando-se à entrada do gabinete da chefia trinta minutos antes da hora prevista para a autoridade apontar; 2. Dizer sempre “saúde” quando o superior espirrar, manifestando entusiasmo em vê-lo sempre em plena forma física; 3. Morrer de gargalhar, se urinando todo se for oportuno, quando o superior contar uma anedota, principiando-se a rir logo quando anuncia a intenção de contar um fato engraçado; 4. Usar o adesivo colante EU AMO MEU CHEFE!! no para-brisa traseiro do carro. Do lado esquerdo daquele outro, igualmente idiota, que declara ser o veículo PROPRIEDADE EXCLUSIVA DE JESUS; 5. Aparentar-se o mais possível com a chefia, usando inclusive suspensórios, repetindo pigarros e meneios outros que o identifiquem de pronto com ela, também utilizando os mesmos perfumes e fixadores; 6. Não sair nunca antes da chefia se retirar, pois assim perderá a oportunidade de ser o último a desejar “boa noite” ao superior; 7. Demonstrar sempre estar atento às possíveis ordens emanadas do superior, mesmo que isso seja considerado por especialistas da área gerencial ataxia bajulatória; 8. Fazer tudo muito rapidamente, mesmo de resultados atabalhoados, para que o chefe sempre o possa considerar um “flodão”; 9. Emitido um “pum” pelo superior, fingir que nada ouviu e nada sentiu, declarando, mesmo que a flatulência proclamada for daquelas negativamente embriagadoras, que o dia está lindo e a natureza ambiental resplandece esplendorosa; 10. Sempre manifestar carinho explícito pelo chefe, vez por outra adentrando em seu gabinete de trabalho para perguntar se ele deseja alguma coisa ou se ele por acaso o chamou.

Os mandamentos acima foram inspirados num trabalho efetivado pela professora Eliene Percília, da Equipe Brasil Escola, que há muito tempo pesquisa se a bajulação é arte ou manifestação fóbica de quem sempre necessita, junto a superiores hierárquicos, estar segurando deles algum símbolo fálico e seus penduricalhos.

Os gozadores do programa Casseta e Planeta costumam proclamar que “saco de patrão é o corrimão para o sucesso”. E ainda fornecem os principais sinônimos do baba-ovo: babão, bajoulo, capacho, chaleira, chupa-caldo, corta-jaca, lambe-botas, lambe-cu. lambe-esporas, lambeta, louvaminheiro, pelego, sabujo, servil, xeleléu, zumbaeiro, não se podendo declinar alguns outros neste canto de site, por radical respeito ao ambiente internético. Uma coisa é certa: para todo baba-ovo impenitente, o melhor chefe é sempre o atual.

Recentemente, numa empresa brasileira de renome internacional, aconteceu um episódio até hoje, lá, motivo de altas risadarias: um estagiário estava saindo do escritório quando viu o presidente da instituição com um documento na mão em frente a uma máquina de picotar papéis. – “Por favor” – diz o presidente – “isto é muito importante pra mim, e minha secretária já saiu. Você sabe como funciona esta máquina?” – “Lógico”, responde o estagiário, já com amplíssimas intenções babaovísticas. Imediatamente tira o papel das mãos do presidente, liga a máquina, enfia o documento e aperta um botão. – “Excelente, meu rapaz!, proclama o presidente. Muito obrigado… Eu preciso de 02 cópias. Onde elas sairão?”

Dizem que, até hoje, o ex-estagiário não assumiu emprego com carteira assinada.

(Publicada em 16/05/2011, no Portal da Revista ALGOMAIS, Recife – PE)
Fernando Antônio Gonçalves