AUSCHWITZ INESQUECÍVEL


Em 27 de janeiro de 1945, o campo de concentração de Auschwitz, a mais tenebrosa instituição nazista, ficou livre das atrocidades ali praticadas: o assassinato de mais de um milhão e cem mil homens, mulheres e crianças. Em 2005, a BBC Worldwide Limited, em comemoração aos 60 anos de libertação daquela área ignominiosa, tornou público o livro Auschwitz – The Nazis & The “Final Solution”, do premiado escritor Laurence Rees, editado pela Publicações Dom Quixote, de Portugal, no mesmo ano, sob título Auschwitz – os nazis e a “solução final”, em março de 2010 já em sua terceira edição.

Segundo Rees, ainda persiste, na consciência de muita gente, uma generalizada confusão sobre a verdadeira história daquele campo de extermínio. Durante mais de quinze anos, ele conseguiu comprovar como um dos maiores crimes coletivos cometidos da história tem início e fim concretos. Inicialmente construído para ser um campo de concentração de prisioneiros políticos polacos, logo incorporando a dinâmica de destruição do estado nazista.

A leitura do livro é oportuníssimo na atual conjuntura, quando a Europa e grande parte do resto do mundo buscam superar uma gigantesca crise financeira, talvez mais avassaladora que a Grande Depressão de 1929, dada as interconexões hoje interdependentes entre as regiões do planeta. Através de entrevistas com vítimas e algozes, o autor revela que “o estudo de Auschwitz permite-nos ainda, para além de uma visão profunda dos nazis, compreender o comportamento dos seres humanos em algumas condições mais extremas da história, dele retirando muitos ensinamentos sobre nós próprios”.

Alguns pontos ainda não devidamente analisados foram amplamente esmiuçados pelo Laurence Rees: Como a Alemanha, uma nação culta, no coraçãoda Europa, perpetrou crimes tão hediondos?; Por que os partidários do Exército Vermelho russo eram considerados piores que os nazis?; Quais as explicações historicamente consistentes do anti-semitismo nazista, reconhecendo-se que o fenômeno já existia na Alemanha muito antes de Adolf Hitler?; Como ainda persistem partidários do nazismo e ferrenho anti-semtismo em vários parte do mundo contemporâneo?; Por que os alemães, nas eleições de 1932, livremente conduziram Hitler ao poder?; Que estratégias utilizadas por Josef Goebbels o tornaram o mais eficaz propagandista do século XX?; Quais as estratégias anti-semitistas utilizadas pela articulação Hitler-Himmler-Goering-Heydrich-Hoess, adeptos da “radicalização cumulativa”?

Auschwitz pode voltar a acontecer, sob novos vétices. Basta observar a postura de animalescos soldados norteamericanos urinando sobre cadáveres adversários, para se ter uma noção mínima do que pode acontecer nos amanhãs civilizatórios. Ou tomar conhecimento do canalha paulistano que sacudiu um cãozinho do décimo andar de um edifício, espatifado na calçada do prédio residencial. Ou saber das bandidagens cometidas por parlamentares e magistrados que não souberam honrar os mandatos e as funções que lhe foram outorgadas pela sociedade brasileira. Ou ler os dados revelados pelo SIPRI – Instituto Internacional de Pesquisas da Paz, revelando que as compras de armas pela América do Sul cresceram 150% nos últimos cinco anos, se comparados com o período anterior, enquanto no mundo o aumento foi de apenas 22%?

(Publicado no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco, 29.02.2012)
Fernando Antônio Gonçalves