ARQUITETO DO III REICH


Em 30 de setembro de 1966, abertos os portões da Prisão de Spandau, deles emergiu a figura de Alberto Speer (1905-1981), Ministro de Armamentos da Alemanha Nazista, arquiteto, confidente e amigo de Adolfo Hitler, responsável direto pelo funcionamento da máquina assassina nazista e considerado o Homem nº 2 do III Reich, embora sempre cinicamente se declarasse apolítico. Libertado após 20 anos de prisão, condenado que fora pelo Tribunal de Nuremberg, em 1946, na prisão redigiu o considerado até hoje o maior documento histórico e político do mundo, em 1970. Traduzido em doze línguas, no Brasil foi editado em dois volumes pela editora Artenova, em 1971, sob título Por dentro do III Reich – Os anos de glória e Por dentro do III Reich – A derrocada.

Seu nome completo era Berthold Konrad Hermann Albert Speer, conhecido como “o bom nazista”. Em Nuremberg, ele assumiu todas as responsabilidades pelos atos cometidos durante o período nazista. Ingressando no Partido Nazista em 1931, logo se tornou uma das pessoas mais íntimas do ditador nazista, sendo responsável pela construção da Chancelaria do Reich e pelos planos de reconstrução de Berlim, tendo sido posteriormente nomeado Ministro do Armamento, em muito ampliando a produtividade do setor bélico nos anos finais da guerra.

Speer afirmava ser apolítico em sua juventude, até participar de um desfile nazi, seguido de um discurso de Hitler, em dezembro de 1930 em Berlim. Ele ficou surpreso ao encontrar Hitler em um traje azul ao invés do tradicional uniforme marrom que era visto em propagandas nazistas. Também chamaram a atenção de Speer as propostas de Hitler para a Alemanha e a maneira com que elas eram passadas ao povo. Algumas semanas depois, Speer participou de outro desfile, desta vez liderado por Joseph Goebbels. Speer ficou impressionado com a facilidade que Goebbels tinha para levar a plateia ao estado de frenesi, decidindo entrar para o Partido Nazista em março de 1931.

Hitler procurava Speer e seu assistente quase todos os dias para perguntar sobre os progressos e renovações pretendidas para as obras. Certa feita, após uma conversa, Hitler convidou Speer para almoçar, oportunidade que o arquiteto considerou de grande emoção. Hitler deixou claro o interesse que tinha em Speer, e disse-lhe que estava procurando pôr um arquiteto capaz de realizar seus sonhos e projetos para a nova Alemanha. Com isso, Speer rapidamente entrou no restrito círculo de amizades de Hitler.

Comprovadamente, Speer apoiou a invasão da Polônia e a Segunda Guerra Mundial em 1939, e mesmo sabendo que isto poderia atrapalhar seus planos para a Alemanha, deixou seu departamento à disposição do Wehrmacht . O arquiteto comandou a rápida construção de pontes e estradas, através de uma equipe treinada por ele próprio.

Em 8 de fevereiro de 1942, o ministro dos armamentos Fritz Todt morreu em um acidente de avião em Rastenburg. Speer, que tinha chegado na cidade na noite anterior, tinha aceitado voar com Todt para Berlim, mas decidiu não ir horas antes de Todt embarcar. Segundo Speer, ele estava exausto com a viagem que havia enfrentado e com a reunião que teve com Hitler. No mesmo dia, Hitler nomeou Speer para ocupar o cargo de Todt. No livro Por dentro do III Reich, Speer conta que não tinha interesse em assumir um ministério, e apenas o fez pois Hitler havia ordenado. Speer também declara que Hermann Göring foi direto ao gabinete de Hitler após saber da morte de Todt, esperando tomar o cargo.

Em 15 de maio de 1945, os estadunidenses chegaram e perguntaram para Speer se ele estava disposto a fornecer informações sobre a guerra. Speer concordou, e durante os dias seguintes detalhou ações do governo de Hitler. No dia 23 de maio, após a Alemanha se entregar, os Aliados prenderam todos os membros do governo, levando a era nazista ao fim. Speer foi levado a diversas prisões e interrogado. Em setembro de 1945, foi dito ao arquiteto que ele seria julgado por ter cometido crimes de guerra. Alguns dias depois, ele foi levado para Nuremberg, onde ficou aguardando o julgamento. Speer foi indiciado em todas as quatro acusações: conspiração, crimes contra a paz, crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

Speer foi considerado culpado nas acusações de crimes de guerra e contra a humanidade. Em 1 de outubro de 1946, ele foi sentenciado a 20 anos de prisão. Enquanto dois dos oito juízes (um soviético e outro estadunidense) optaram pela pena de morte, os outros não o fizeram, e a sentença foi confirmada após dois dias de discussão. Doze réus foram sentenciados à morte (incluindo Martin Bormann, in absentia) e três foram considerados inocentes; sete foram condenados a prisão.

A saída de Speer da prisão foi um evento que chamou a atenção da imprensa do mundo inteiro. Todos estavam a espera de ouvir as primeiras palavras de liberdade de Speer após 20 anos. Mas ao se retirar da prisão, Speer disse pouco, e guardou todas relevações para uma entrevista publicada em novembro de 1966 no jornal Der Spiegel. Na entrevista, Speer novamente assumia suas responsabilidades por seus atos no regime nazista e contava detalhes das horas finais da Alemanha de Hitler.

Em 1° de setembro de 1981, Speer sofreu um AVC num quarto de hotel londrino, falecendo a caminho do hospital. Mais de 30 anos após sua morte, historiadores descobriram documentos que comprovam que o “bom nazista” não só encobriu o seu conhecimento sobre o Holocausto, mas também participou do roubo de obras de arte de judeus. Quando os russos se aproximavam de Berlim, ele pessoalmente supervisionou a remoção de quadros para um esconderijo na casa de um amigo que os guardou até que saisse da prisão de Spandau.

Entretanto, o conhecimento do holocausto por Speer se complica com seu status pós-guerra. Ele se tornou símbolo para as pessoas que haviam participado do NSDAP negarem e rejeitarem todas as ações no regime (inclusive dizendo que nunca fizeram parte do Partido Nazi). O diretor de cinemaHeinrich Breloer declarou que Speer criou uma imagem que permitia as pessoas dizer: “Acredite em mim, eu nunca soube nada sobre o holocausto. Basta olhar para o amigo pessoal do führer, ele não sabia de nada também.”

O livro, à parte as megalomanias de Speer e os segredos levados para o túmulo, é leitura recomendada para quem deseja saber mais sobre um Reich que pretendia durar mil anos.

(Divulgado em 25.07.2016, nos sites www.luizberto.com e www.fernandogoncalves.pro.br)
Fernando Antônio Gonçalves