APONTAMENTOS SILVÍNICOS
1. Todo reinício de semestre serve para se redimensionar ações, atitudes e comportamentos, principalmente às vésperas de eleições significativas como as de outubro que vem. Reestruturar é o verbo mais conjugado, ainda que uma minoria prossiga conjugando-o num modo sempre amanhã, como se o agora jamais fosse necessário.
Recordações mil, espocados os últimos foguetes juninos, espelham compromissos devidos e omissões cometidas, os primeiros sempre ineficazmente cumpridos em prol dos mais desassistidos, fiéis de uma balança chamada segurança coletiva. Releituras de um pretérito infaustamente ainda presente revigoram interiores carcomidos pelas decepções e desalentos cívicos: “Não podemos fugir à evidência de que a sobrevivência humana depende do rumo de nossa civilização, primeira a dotar-se dos meios de autodestruição. Que possamos encarar esse desafio sem nos cegarmos, é indicação de que ainda não fomos privados dos meios de sobrevivência. Mas não podemos desconhecer que é imensa a responsabilidade dos homens chamados a tomar certas decisões políticas no futuro. E somente a cidadania consciente da universalidade dos valores que unem os homens livres pode garantir a justeza das decisões políticas ” (Celso Furtado ).
Percebe-se , sem qualquer esforço, que a sociedade civil brasileira, hoje cambaleante entre uma expressividade comodista e uma politização impotente, necessita revigorar-se, como alicerce, para uma nova edificação estrutural, a chicotada do australiano Robert Hughes, consagrado crítico de artes da revista Time, sendo mais que oportuna: ” A velha divisão de direita e esquerda acabou se assemelhando mais a duas seitas puritanas, uma lamentosamente conservadora, a outra posando de revolucionária mas usando a lamentação acadêmica como maneira de fugir ao comprometimento no mundo real “.
2. Uma parábola judaica exemplifica bem como se pode sair do atual bulício nacional. Servirá para os portadores de anéis e dedos que se encontram tonteados, sem saber por onde começar. Mais ou menos é essa a versão: um homem de classe média, profissional liberal, remediado, temente a Deus mais por covardia que por princípio, saiu para uma caminhada na floresta e nela se perdeu. Vagueou horas sem fio, tentando encontrar a saída para o seu sufoco. Para onde ia, nada encontrava. De repente, deparou-se com um outro ser humano. E perguntou de bate-pronto: “Você pode me mostrar o caminho de volta à cidade, pois tenho que receber uns aluguéis ainda hoje, depositando-os de imediato para render alguns porcentos?”. A resposta do outro o intrigou: “Também estou perdido. Mas podemos juntos ajudar um ao outro”. Diante do abismamento provocado, a conclusão recheada de muita esperança: “Vamos agir em conjunto. Cada um pode dizer ao outro os rumos que já tentou e que não deram certo. Certamente isto nos ajudará a encontrar o caminho correto”.
Juntemos as nossas migalhas de esperança. Todos, sem distinção, desarmadamente. Vejamos os caminhos percorridos e que a ninguém já não mais satisfazem. E verifiquemos quais as forças que ainda nos restam, mormente as que fundeiam a dignidade nacional, para que possamos ingressar em novos amanhãs sem humilhação de espécie alguma.
3. Diante de um quadro nacional violentado por acontecimentos que amorteceram os ânimos cívicos de milhões, vale a pena difundir alguns balizamentos que minimizariam os efeitos funestos das iniciativas de alguns atoleimados. Até as eleições de outubro vindouro, ouviremos promessas mirabolantes, declarações bombásticas, denúncias estapafúrdias, histerismos tridentinos e coisas outras que tais. Tudo para angariar adesões dos descidadanizados.
Ouviremos falar em inflação zero, em redentores esticamentos do São Francisco para matar a sede de milhões de sofridos irmãos nordestinos e na defesa radical da intocabilidade de setores produtivos públicos, daqueles que privilegiam “diferentes”, sempre avessos à salutar fiscalização democrática da sociedade civil. Emergirão esfuziantes defensores dos fracos e dos oprimidos, inúmeros deles oriundos de entidades que “fingem” lutar pela erradicação da miséria e da injustiça social, com isso assegurando polpudas remunerações, a maioria delas advindas da generosidade estrangeira não terceiromundista.
Veremos candidatos com criancinhas de colo, outros cercados de eleitores devidamente apetrechados com quentíssimas “palavras de ordem”. E pretendentes com esposas e filhos em fotografias de sofá grande, domingueiramente paramentados. Os mais piedosos, rezando e pedindo a Deus pela paz e felicidade … deles, nas urnas. Outros divulgando listas de entusiásticas adesões e confraternizações com gente humilde, se possível da classe mais desdentada possível.
Por outro lado, complementando o cenário da disputa eleitoral, o festival de denúncias será antológico, tudo devidamente ampliado pelos meios de comunicação menos independentes. Um parrapapá esculhambatório de fazer inveja aos mais especializados escandalizará gregos e troianos.
Para apimentar o caldeirão eleitoral, também pintarão no pedaço dois personagens por demais conhecidos dos mais experientes: o messias e o anselmo. O primeiro, prometendo mundos e fundos. O segundo desejando ver o circo pegar fogo, para nas chamas se esvair a nossa incipiente trilha democrática, edificada por milhares de abnegados. O primeiro, pau-mandado de graúdos, se encarregando de “sujar” tudo que não se encontram sob os tacos dos seu amos, do lado de lá ninguém prestando. O segundo, sempre aparentando ser o mais revolucionário, o mais gota serena, sem jamais transparecer estar a serviço de retrocessos bestiais. Dois manjadíssimos filhotes bastardos de gorila, desservindo à cidadania brasileira.
O jornalista Gilberto Dimenstein, escreveu o livro COMO NÃO SER ENGANADO NAS ELEIÇÕES, oferecendo “dicas”, Eis algumas, escolhidas ao acaso: 1. Eleição é assunto sério; 2. Devemos manter sempre uma atitude crítica; 3. Só aprende quem tem dúvidas: 4. O fundamental é desconfiar; 5. Quanto mais seguro e preparado, mais claras são as ideias do indivíduo: 6. Tentar aprender com outras pessoas é uma demonstração de inteligência; 7. Apenas os desinformados e os tolos caem no conto da varinha mágica; 8. Mais cedo ou mais tarde os truques mandam a conta; 9. Uma das melhores formas de aprender é errar; 10. Desconfie, mas desconfie mesmo, dos donos da verdade, de gente que imagina saber tudo. Regras de ouro para quem deseja assegurar a futura governabilidade nacional, sair de um atoleiro social de muitos anos, neutralizar as histerias dos cavilosos e contribuir para a aceleração do país na direção de estruturas menos aviltantes. Sempre com as duas mãos e o sentimento do mundo, como proclamava o poeta.
PS. Hoje, meu pai saudoso faria 100 anos!! Mas na Casa do Pai ele está, a nos proteger sempre!!
(Publicado em 13.08.2018 no site do Jornal da Besta Fubana (www.luizberto.com) e em nosso site www.fernandogoncalves.pro.br)
Fernando Antônio Gonçalves