ANTENAÇÕES PARA 2012


Ultimamente, o meu NI (Nível de Indignação) tem se acentuado fortemente diante de um QCD (Quociente de Cinismo e Deboche) de senadores, deputados (federais e estaduais), prefeitos e vereadores, para não falar nas descaradas falcatruas ministeriais praticadas pelos que deverian estar atrás das grades, defenestrados dos cenários políticos nacionais.

Infelizmente, a Cidadania Brasileira ainda não despertou com a virilidade devida para algumas manifestações pestilentas disseminadas pelo Serviço Público Brasileiro, já apontadas por José Ayrton Monteiro em trabalho pioneiro. São elas: personalismo (a marquetagem do dirigente é maior que a da instituição), inconsequência (pouca preocupação com os gastos e superfaturamentos), sucateamento (relegar para segundo plano o que não dá ibope, mesmo que cause dolorosas mortes), imediatismo (nenhuma preocupação com o futuro, posto que o nível educacional dos eleitores é demencial), leviandade (desleixo para com a qualidade, valendo apenas a aparência, a exemplo dos trocentos buracos que atormentam o trânsito das estradas e capitais, inclusive o do Recife), politicagem (posturas de amostração voltadas para o eleitor-bestão, renegando-se o eleitor-cidadão, em número ainda reduzido), clientelismo (máximo proveito para si e para o grupo babaovo, na plena certeza da impunidade, no frigir dos ovos, pelo Poder Judiciário) e imobilismo (repetição da mesma cantilena para os abiscoitados, como se nada tivesse evoluído nos quatro cantos do país). Acrescentaria a desedução programada (níveis mínimos de instrução proporcionada aos três níveis de escolaridade, para impossibilitar a criticidade paulofreireana) e o anestesiamento midiático (com aparições e falas arroteiras que apenas tornam mais retardados mentes e corações). Tudo bem temperado com um fundamentalismo religioso dos que, despolitizados, acreditam piamente que só Jesus salva, não sendo preciso nenhuma reação cívica humana).

Os entrantes, os “reentrantes”, os eternos “ficantes” e os “migrantes” das esferas político-partidárias, inclusive os que se intitulam idioticamente “de esquerda”, necessitam apreender o ensinamento gramsciano: “Todo grande homem político não pode deixar de ser também um grande administrador, todo grande estrategista, um grande tático, todo grande doutrinador, um grande organizador”. E nunca menosprezar advertência de Abraham Lincoln, o décimo-sexto presidente dos EEUU e intransigente defensor da preservação da união dos estados norteamericanos, que um dia declarou sem pestanejar: “Este país, com suas instituições, pertence ao povo, que nele mora. Quando ele estiver cansado do governo existente, deve poder sempre exercer o seu direito constitucional de censurá-lo ou o seu direito revolucionário de derrubá-lo”.

Que os futuros dirigentes municipais, muito acima dos procedimentos fisiológicos que apenas camuflam incapacidades direcionais, promovam sensibilizações múltiplas neles próprios e nos seus primeiros escalões. Visando eliminar as paranóias do serviço público brasileiro, externadas através de terríveis “complexos”: o de sair dos padrões dos maiorais, o de perder status perante a chefia, o de não desejar magoar amigos que contribuíram para suas eleições e o de ter rabo de palha descoberto pelas auditorias. Introjetando na consciência de si e de cada auxiliar, preferencialmente não-parente, a lição do poeta Fernando Pessoa, por intermédio de Álvaro de Campos: “Nenhuma época transmite a outra a sua sensibilidade; transmite-lhe apenas a inteligência que teve dessa sensibilidade. Cada época entrega às seguintes apenas aquilo que não foi”.

O norte-americano Tom Peters, californiano por derradeiro, partindo do princípio “tempos loucos exigem organizações loucas”, revela que o principal problema organizacional dos tempos de agora é a ausência de iniciativas sadiamente enlouquecedoras. Segundo ele, no final desta segunda década de século XXI só existirão dois tipos de executivos: os rápidos e os mortos. E ele proclama que o único capital de qualquer instituição, pública ou privada, é a criatividade humana, que demanda soluções rápidas, desburocratizadas, sem os salamaleques de um ontem de características cretinamente procrastinadoras. E a força humana de qualquer instituição, inclusive das educacionais, só poderá ser potencializada a níveis satisfatórios se um conjunto interconectado de fatores for refinadamente emulado: liderança & visão direcionais, composição & competência da equipe; motivação da base logística; qualidade das comunicações internas e externas; nível dos interrelacionamentos pessoais; espaço & liberdade para agir decisório; valorização & reconhecimento da contribuição de todos; pique do ambiente de trabalho; desburocratização progressiva; erradicação da lerdeza física e do comodismo mental.

O Sigmund Freud tinha razão quando evidenciou o contraste desolador entre a radiante inteligência de uma criança e a mediocridade intelectual da grande maioria dos adultos, cujos procedimentos, nas áreas pessoais e profissionais, sufocam a criatividade e a intuição, ampliando o contingente dos aparentemente vivos.

(Publicado em 08.09.2011, no Portal da Globo Nordeste, blog BATE & REBATE)
Fernando Antônio Gonçalves