ANÁLISES, PRECONCEITOS E VIGARICES


Observei, nos matutinos locais das últimas semanas, duas fotografias que muito me entusiasmaram, ambas relacionadas com a mais sadia das convivialidades políticas. A primeira delas retrata o governador Eduardo Campos em reunião distensionada com o prefeito Elias Gomes e o ativo deputado estadual Betinho Gomes. A segunda explicita a manifestação de afeto recíproco entre a presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Sinais incontestes de maturidade política convivencial entre lideranças que se estimam, ainda que situadas em plataformas ideacionais distintas.

Diferentemente do enobrecedor demonstrado nas fotografias citadas, costumo lamentar as posturas preconceituosas e/ou vigarísticas de bandidosos travestidos de políticos, que denigrem a imagem brasileira, interna e externamente. Vigaristas que apenas desejam levar vantagens em tudo, ignorando análises técnicas e posicionamentos éticos. Dois destes, de imensa significação para os amanhãs nacionais, merecem destaque neste canto de portal muito lido: Edgar Morin e Peter Drucker. Em agosto 8 último, a palestra de Edgar Morin, proferida no programa Fronteiras de Pensamento, entusiasmou os presentes, quando ele ressaltou os principais alicerces dos futuros mundiais: o amor e o conhecimento. Segundo Morin, uma cabeça pensante de 90 anos recentemente completados, a crise econômica eclodida em 2008 colocou em xeque um modo de pensar fragmentado em múltiplas disciplinas tornadas auto-suficientes, impossibilitando uma compreensão multifacetária dos problemas que estão levando nossa civilização a um estágio caótico talvez irreversível, onde reforma e revolução não são mais suficientes para soluções duradouras. Segundo ele, “não sabemos o que se passa e é isso que se passa. A crise econômica atual resulta de uma crise da sociedade moderna, da sociedade tradicional, da democracia, do pensamento, em fim, uma crise geral da humanidade.”

O sociólogo francês propôs uma metáfora que urge ser amplamente analisada e discutida pelos setores ainda pensantes do mundo contemporâneo: “No século XX, um monstro, uma espécie de polvo gigante com muitos tentáculos, amedrontava a humanidade: era o totalitarismo exemplificado no nazismo e no fascismo. Com a queda do comunismo despertou um novo polvo: o do fanatismo e do maniqueísmo, de cunho étnico e religioso. A partir da abertura econômica da China e do Vietnã, ganha força o polvo da economia globalizada, do capitalismo financeiro que é mais poderoso do que o Estado Nacional”. Segundo texto de Edgar de Assis Carvalho, na orelha do último livro do Morin – Rumo ao Abismo? – Ensaios sobre o Destino da Humanidade, Bertrand Brasil 2011 – “imersa no caos, a humanidade tem diante de si uma oportunidade inédita: metamorfosear-se em um metassistema rico em possibilidades ou sucumbir no abismo da insignificância generalizada”.

Proposta ultra-revolucionária de Morin é trocar o desenvolver pelo envolver. O primeiro promove tão somente o crescimento econômico material, destruindo a solidariedade, ampliando a corrupção política e a tecnologia destrutiva. O segundo, diferentemente do poder destrutivo do primeiro, “mantém o sistema unido, fortalece a comunidade, a cultura e a identidade. Aceita o que vem de fora, respeitando os aspectos de cada cultura, fazendo uma simbiose entre o Ocidente e as antigas culturas tradicionais.” Para o francês, a sociedade ocidental está carecendo de hospitalidade, de cortesia e de uma maior harmonia com a natureza: “Precisamos de uma economia solidária e verde que vença o lucro.”

O segundo destaque é Peter Drucker, considerado o inventor da administração moderna, que sempre se preocupou em “favorecer gestores capazes de definir prioridades, alocar pessoas nos lugares certos e demitir e contratar sem envolvimentos emocionais”. Além disso, “concentrar-se nos pontos fortes dos profissionais , aproveitando-os nas funções em que podem dar maior contribuição, definindo o que descartar, adotando a política sistemática de se livrar dos excessos, do obsoleto e do improdutivo, sempre investindo na inovação como pré-requisito para a liderança”.

A editora Sextante, meses atrás, editou A Cabeça de Peter Drucker, do escritor Jeffrey A. Krames, para quem a vida de Drucker “foi baseada no princípio de que para construir é preciso demolir, deixando para trás o que não é relevante”. E ele enumera as principais barreiras predadoras de uma execução eficaz, em todas as áreas estratégicas de um desenvolvimento sustentável, na educação inclusive: 1. Não exercício do descarte consciente; 2. Excesso de burocracia e de camadas gerenciais; 3. Ausência de valores nítidos e de sistemas operacionais eficazes para compartilhar o aprendizado e as ideias; 4. Estrutura gerencial inadequada; 5. Ausência de estratégia clara ou falta de comunicação da estratégia; 5. Cultura organizacional que se concentra em coisas erradas e recompensa comportamentos impróprios.

A primeira leitura faz pensar nos amanhãs planetários. A segunda leitura possibilita a ampliação de uma efetiva atividade gerencial em setores específicos, a Educação por exemplo. Favorecendo consistentes emersões cognitivas que contribuam para iniciativas empreendedoras públicas, a exemplo da gestão profícua do governador Eduardo Campos, liderança pernambucana nacionalmente em ascensão. Um governante antenado na alavancagem para futuros de altos coqueiros, de soberbo estendal. Inclusive muito voltado para a melhoria da gestão educacional pública.

(Publicado em 01.09.2011, no Portal da Globo Nordeste, blog BATE & REBATE)
Fernando Antônio Gonçalves