ANALFABETANUMÉRICOS
Está se tornando epidemia de funestas consequências o mal intitulado pelos peritos educacionais de analfabetismo funcional, que seguramente será vedete no ENEM que será iniciado no próximo domingo. A pessoa sabe, mal ou bem, ler o que se encontra escrito, mas não compreende o que está lá escrito. As sequelas de tal fenômeno estão grassando por toda parte: ministro que classifica a morosidade de uma gestão presidencial de “masturbação sociológica”, sem atentar sequer para o fato do primeiro mandatário ser um senhor quase octagenário, já com “aquilo” em fase involucionária crescente, muito embora sempre se postando ao lado de beldade de muito encantador nível visual, fotogênica por derradeiro, sempre com muita dignidade comportamental, apesar de o marido não ser do mesmo quilate, já tendo recentemente sido agraciado pelos brasileiros com o menor índice de popularidade de nossa história, percentual reduzido a cada amanhecer pela ação de um ministeriozinho chifrim, de invejável porte mediocral, amparado por um Congresso Nacional “bostélico”, de compulsivas inclinações delinquenciais, há muito plenamente identificadas pelos analistas da imprensa livre dos países desenvolvidos.
Outro dia, assistindo com a minha mulher um programa matinal que falava de saúde familiar e outras novidades caseiras, onde era entrevistado uma pessoa que se dizia especialista em área digestiva, ela incentivava o pouco uso de comidas condimentadas, posto que elas poderiam afetar o “pálato”, proporcionando “infelicidades” nasais sem “rúbrica” de qualquer espécie. Impressionou-me a cena televisiva: entrevistador e mais duas personagens que compunham o cenário não emitiram qualquer sinal de espanto, parecendo concordar com a “jumentalidade” oral cometida pelo entrevistado, que continuava com um semblante de eminência impoluta.
Na área quantitativa, por exemplo, encareço uma passadinha d’olhos no programa de televisão do Ratinho, onde um saco plástico de água vai se enchendo sob a cabeça do participante, ele só se livrando se responder corretamente às perguntas formuladas pelo animador. Outro dia, ele perguntou a uma jovem trintona quanto era três dúzias. A desgraceira foi grande, o saco plástico estourando sobre a cabeça dela, que já tinha oferecido umas cinco respostas, absurdas, olhando ansiosa para o público presente em busca de “sopro salvador”. Uma ainda jovem senhora, bem vestida, maquiada, aparentando boa saúde, bunda e seios ainda demonstrando certo grau de sedução, que acabou toda molhada, rindo desbragadamente pelo “banho” tomado, quando deveria sair do programa soluçando fortemente, tamanha a demonstração de ignorância cultural dada a milhares de expectadores ligados na TV, nos quatro cantos do país.
Recentemente, um PhD de mesmo, matemático John Allen Paulos, colaborador do The New York Times e da Newsweek, e autor do aclamado Mathematics and Humor, publicou um trabalho, intitulado Innumeracy, divulgado pela Nova Fronteira como Analfabetismo em Matemática e suas Consequências, onde ressalta o custo social provocado pela inabilidade de muitos diante de mínimos cálculos quantitativos, gerando decisões confusas, políticas governamentais equivocadas e aceitação piegas de raciocínios tortuosos recheados e malabarismos pseudocientíficos. Estilando humor refinado, enaltecendo algumas “cavilações” advindas dos analfabetanuméricos, alguns deles executivos de primeira linha, dirigentes públicos e pessoas até bem dotadas de polpudas poupanças e consideráveis patrimônios, muitos dos quais sugados de inadvertidas comunidades, alguns até buscando eleições majoritárias próximas.
Do instigante trabalho do professor Allen Paulos, dois pequenos trechos devem ser divulgados, favorecendo uma maior eficácia dos procedimentos desbabaquizadores promovidos nas empresas, nas instituições públicas, nos lares e nos sistemas educacionais dos mais diferenciados graus. O primeiro: “O analfabetismo em matemática e a pseudociência estão frequentemente associados, em parte devido à facilidade com que a certeza matemática pode ser invocada para obrigar os ignorantes a uma aquiescência muda”. O segundo: “Equívocos românticos quanto à natureza da matemática levam a um ambiente intelectual que favorece a instrução matemática falha e até a estimulam, quando não incitam à aversão psicológica pelo assunto”.
Mais um exemplo que atemoriza, cada um podendo comprovar sem dificuldade: quando você vai pagar um produto qualquer em dinheiro, as máquinas já se encontram preparadas para declarar qual é o troco a ser dado ao cliente. Proporcionando um embrutecimento mental crescente no vendedor, que se tornará breve mais um “robotizado” eletrônico, enfiador de dedinho em teclado e leitor do que está lhe dizendo o visor da maquininha.
Para quem gosta de contar anedotas bem dotadas de sutilezas, deve observar atentamente o derredor ouvinte. Alguns sorriem de imediato, enquanto outros ficam alguns bons segundos ruminando, deixando posteriormente cair a ficha. Enquanto outros, fingem que entenderam a tirada da piada, rindo com um impressionante sabor de saldo zero.
No mais é refletir dois-mil-réis sobre um pensar famoso de William Cowper, cientista pra lá de prêmio Nobel: ”Seguir precedentes tolos e piscar com os dois olhos é mais fácil do que pensar”.
E o índice inflacionário, óia aqui, bem pequenininho, embora a bandalheira continue bastante taluda, envolvendo gente graúda, muitos ainda escondidos por debaixo dos panos, a la Ney Matogrosso…
(Publicado em 30.10.2017 no site do Jornal da Besta Fubana (www.luizberto.com) e em nosso site www.fernandogoncalves.pro.br.)
Fernando Antônio Gonçalves