AMPLIANDO SABERES


Qualquer empreendedor que se deseja ver respeitado já ouviu falar de Salman Khan, um engenheiro que se apaixonou pelo ensino quando principiou ensinar álgebra a uma sobrinha ainda criança. E que se transformou num fenômeno mundial, criando vídeos no YouTube.
Um lançamento 2013 da Intrínseca merece ser lido pelos que buscam a qualidade de vida do planeta: Um Mundo, Uma Escola – A Educação Reinventada, Salman Khan. Mostra como é possível obter educação gratuita e de padrão internacional em qualquer região do planeta. Hoje, seus quase 4.000 videos são utilizados por milhões de pais, professores e alunos. Seu modelo de ensino está presente em milhares de salas de aula.
No livro, Khan explicita sua visão sobre o futuro da educação, revisando princípios e propondo revolucionar um sistema que se originou há mais de 200 anos. Abjurando métodos massacrantes e cronogramas rígidos, ele pugna por uma sala de aula tornada espaço para interações múltiplas, sempre valorizado o papel do professor. E comprova a existência de ferramentas tecnológicas capazes de proporcionar um aprendizado de nível para todos, respeitados os diferentes estágios e ritmos de aprendizagem, a criatividade sempre presente na resolução dos problemas.
O livro tem quatro partes: Aprendendo a ensinar; O modelo falido; No mundo real; Um mundo, uma escola. Na primeira, Khan mostra como estimulou sobrinha, reprovada numa prova de nivelamento de matemática. E que imaginou-se de mente insuficiente para aprendizagem da disciplina, fato que deixou o tio preocupado, pois ele ainda não possuía conhecimentos sobre como ensinar ultrapassar os obstáculos epistemológicos enraizados numa mente.
Na segunda parte, Khan questiona a tradição, afirmando que “normal é aquilo a que você está acostumado”. E analisa as inércias que vitimam o ensino, um “sempre fizemos assim” que não leva na devida conta as mutações que acontecem num mundo que se configura com conflitos entre o pós-moderno, o moderno, os ontens e os ante-ontens que persistem em não abandonar o palco da vida. Onde muitos docentes, mais doentes que docentes, não assimilaram reflexão de Platão, continda em A República: “O conhecimento adquirido por obrigação não se fixa na mente. Portanto, não use a obrigatoriedade, mas permita que a educação inicial seja uma espécie de diversão; isso facilitará a descoberta da inclinação natural da criança”. Ele ressalta que a razão principal da tecnologia é a de libertar o professor dos procedimentos mecânicos, favorecendo a ampliação dos contatos humanos.
Na parte terceira, Khan analisa a dicotomia teoria x prática, a primeira como se fosse plenamente rígida, a segunda como se não existisse teoria alguma embasadora. O que me fez recordar ensinamento de John Stuart Mill, economista clássico: “O despotismo do costume é, em toda parte, o obstáculo perene ao progresso humano”.
A última parte provoca os que não estão pedagogicamente doentes. Mostra como a sala de aula tradicional é um dos locais mais solitários do mundo, o professor se transformando numa figura sem apoio, sem benefícios emocionais, obrigando-se “a arrastar os alunos em um ritmo estabelecido num sistema em que as avaliações são usadas para rotular as pessoas”.
O mais é salário decente, paixão desmediocrizada e mobilizadora responsabilidade social.

(Publicado no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco, 12.07.2013)
Fernando Antônio Gonçalves