AMPLIANDO AS ESPERANÇAS


Que minhas palavras primeiras sejam endereçadas aos Senhores Conselheiros desta Casa, que me honraram com a responsabilidade de presidir nossas atividades pelos próximos dois anos. Assumo a missão, encarecendo a infinita misericórdia do Alto, sob três balizamentos. O primeiro, do educador pernambucano Paulo Freire: “Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.

O segundo é de autoria de um pensador que muito admiro, Gilbert Chesterton: “O miserável receio de ser sentimental é o mais vil de todos os receios modernos”.

Do notável Jean Piaget, a terceira inspiração: “A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe.”

Com o entusiasmo sempre prevalescendo, no Conselho Estadual de Educação de Pernambuco continuaremos perseverando nas trilhas apontadas pelo professor Paulo Freire, permanecendo na libertação dos “severinos de maria” definidos pelo poeta João Cabral de Mello Neto, também um dos esteios da conscientização brasileira.

Assim, com todos os “severinos de maria” do país, perseguiremos, lado a lado, o proclamado pelo poeta Fernando Pessoa: “Dá-me alma para te servir e alma para te amar. Dá-me vista para te ver sempre no céu e na terra, ouvidos para te ouvir no vento e no mar, e mãos para trabalhar em teu nome”.

O chamamento à ação-reflexão da tarefa educacional não é o bastante. Temos que retrabalhar nosso entusiasmo pedagógico, sem messianismos, não mais a espera do “homem mágico”. Ainda que sempre buscando a capacidade de pensar das pessoas comuns para um reencantamento conjunto que se faz necessário, a contar com os incentivos e apoios da Secretaria de Educação e do Governo do Estado de Pernambuco.

A hora é chegada de estendermos nossos braços, como Leões do Norte que somos, nos ligando uns aos outros numa perspectiva de sonhos convergentes, sem perda da criticidade construtiva a favor de um Pernambuco de muitos amanhãs promissores.

Mais uma vez Paulo Freire nos inspira: “A data é um convite para que todos, pais, alunos, sociedade, repensemos nossos papéis e nossas atitudes, pois com elas demonstramos o compromisso com a educação que queremos. Aos professores, fica o convite para que não descuidem de sua missão de educar, nem desanimem diante dos desafios”.

Também reverencio outro estupendo nordestino, Celso Furtado, de uma Sudene que não conseguiu sobreviver sob os seus norteamentos originais: “O mercado é um instrumento maravilhoso, mas ele não desempenha todas as funções. Quando se trata de resolver conflitos numa sociedade heterogênea, a saída não pode ser pelo mercado. Tem que ter a mão de quem defenda o interesse público, a solidariedade social. É importante que as duas formas de conceber a organização social caminhem juntas. O mercado baseia-se no heroísmo, na iniciativa, na astúcia, para dar dinamismo ao processo. Já o Estado busca a solidariedade, tem que proteger os fracos. Isso é que forma uma sociedade moderna”.

Recordo-me com muita saudade, pedindo licença a todos, o inesquecível Dom Hélder Câmara, inspirador maior da minha Cidadania Cristã:

“Que importa que ao chegar eu nem pareça pássaro.
Que importa que ao chegar eu venha me arrebentando, Caindo aos pedaços,
Sem aprumo e sem beleza.
Fundamental é cumprir a missão
E cumpri-la até o fim”.

Minha gente amada, aqui presente:
D’ora por diante, cada vez mais de Pernambuco, continuarei honrando hino, bandeira e história de um povo, admirando Joaquim Nabuco e Mestre Vitalino, Paulo Cavalcanti e Frei Caneca, Gilberto Freyre e Josué de Castro, José Mariano e Dona Santa, Mauro Mota e Carlos Pena Filho, Nelson Ferreira e Capiba, Paulo Freire e Gregório Bezerra, Naíde Teodósio e as mulheres de Tejucupapo, todos sempre presentes, nunca esquecidos por seus ideários políticos, exaltações apaixonadas, bravuras libertárias, estudos sociais, carnavais, resistências e muita poesia. Todos eles dotados de extremado amor à gente pernambucana e à sua rebelde caminhada histórica, onde “corre o sangue de heróis rubro veio, Que há de sempre o valor traduzir”, em terras que sempre serão “fonte da vida e da história”, de um “povo coberto de glória, o primeiro, talvez, do porvir”.

Que Deus nos acompanhe! Muito obrigado!

(*) Pronunciamento feito por ocasião da posse na presidência do Conselho Estadual de Pernambuco, em 12 de maio de 2010.

(Portal da Globo Nordeste, 13.05.2010, Blog BATE & REBATE)
Fernando Antônio Gonçalves