AMANHÃS PERNAMBUCANOS
Os dados apresentados sobre a economia de Pernambuco nos últimos anos são entusiasmantes. Somente a Refinaria Abreu e Lima, considerada a maior obra do Complexo Portuário de Suape, está orçada em US$ 13 bilhões, produzindo 22 mil barris de petróleo por dia, a partir da sua inauguração, estimada para 2012. A General Motors instalou em Pernambuco, em julho passado, um Centro Logístico e de Distribuição, enviando carros importados para 14 estados do Norte e Nordeste brasileiros, seu pátio em Suape possuindo uma capacidade de até 25 mil veículos anuais. E o Estaleiro Atlântico Sul, em Suape, entregou recentemente o primeiro petroleiro construído no Brasil em mais de 13 anos, o Antônio Cândido, retomando as operações da indústria naval nacional, já sendo anunciado a construção de mais dois estaleiros em Suape. Estas informações foram extraídas do último número da revista Rent, do Sindicato das Locadoras de Automóveis de Pernambuco, atualmente sob a presidência de Antônio Pimentel Neto, empreendedor de nomeada.
O entusiasmo acima também se estende para o todo brasileiro quando se lê o livro do Marcio Pochmann, atualmente presidente do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, autor de mais de 30 livros sobre temas como desenvolvimento, economia do trabalho e política social. Intitulado Desenvolvimento e Perspectivas Novas para o Brasil, Cortez Editora, 2010, o texto traz como pano de fundo um dito caipira de Guimarães Rosa, de Sagarana: “O sapo não pula por boniteza, mas, porém por precisão”. Significando que o desenvolvimento brasileiro, nunca linear, se encontra permeado de avanços e recuos complexos, nem sempre devidamente previstos, onde “uma elite branca e bem nutrida que se guiava pelo funil da educação para alcançar os melhores postos de ocupação e remuneração contrastava brutalmente com o Brasil real, que naqueles anos de 1960 registrava quase 4/5 de sua população submetida à condição de penúria decorrente da pobreza absoluta”. Numa perspectiva média de vida que não ultrapassava os 55 anos de idade, 18 anos inferior que a atual, com um ensino superior que abrigava apenas 1% da juventude situada entre 18 e 24 anos, diferentemente dos 13% das últimas verificações. E onde 82% das oportunidades educacionais se concentravam no centro-sul nacional.
Na introdução do livro, Pochmann declara sem qualquer subterfúgio: “Mantido o ritmo econômico e social registrado até o final da década de 1970, o Brasil seria hoje a terceira potência do mundo, com carga tributária equivalente a 24% do PIB (e recursos arrecadados quase duas vezes mais do que atualmente) e com nível de pobeza absoluta superada e com quase 85% da força de trabalho submetida ao assalariamento e plena de direitos sociais trabalhistas. Mas não foi isso o que ocorreu. Ao contrário, o Brasil ainda se encontra submetido à condição de nona potência mundial, depois de ter já sido considerada a décima quarta após a mitológica década de 1990.”
Torço para que, no seu segundo mandato, o governador Eduardo Campos continue cada vez mais atento às necessidades educacionais de Pernambuco, incentivando a produção de conhecimentos inovadores, ampliando as fronteiras epistemológicas nos dois primeiros graus de ensino, favorecendo as minimizações das nossas ingenuidades sócio-culturais e técnico-políticas, dinamizando uma crescente profissionalidade-cidadã através de um Ensino Profissionalizante ajustado aos desafios futuros de um Pernambuco Leão do Norte, liderança regional.
Do meu canto de trabalho, ousadamente indicaria ao governador, quando da estruturação da sua futura equipe quadrienal de auxiliares diretos, um seminário sobre os amanhãs estaduais vinculados aos futuros mundializantes, para nunca reduzir as perspectivas econômicas e sociais regionais a condicionamentos estreitos e imediatistas. Um seminário efetivado a partir da leitura tornada coletiva de Vida a Crédito, do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, viria bem a calhar, onde soberania, democracia e direitos humanos se entrelaçam na pós-modernidade, onde também se defrontam fundamentalismos seculares e religiosos, todos em busca de poderes hegemônicos, onde, no pensar de Lawrence Grossberg, “torna-se cada vez difícil encontrar espaços em que é possível se preocupar com algo o bastante, ter bastante fé de que aquilo importa, de modo que se crie um compromisso com aquilo e uma dedicação àquilo”.
No mais, após as conclusões auferidas no seminário, caberá ao governador Eduardo Campos, dentro do mais amplo entendimento com o ministério da muito provável futura presidente Dilma Rousseff, permanecer atento à continuidade das liberações dos investimentos financeiros programados para Pernambuco, fortalecendo o Estado numa caminhada sintonizada com os amanhãs nacionais e planetários. A fazer, por estas bandas, uma nova História do Brasil. Sem depredação ambiental e com um ensino superior onde pontifiquem as autarquias municipais, que irão dinamizar o desenvolvimento cognitivo da nossa gente guerreira.
(Portal da Revista ALGOMAIS, 27/09/2010, Recife – PE)
Fernando Antônio Gonçalves