ALERTAS EDUCACIONAIS


Por que, na Educação Brasileira, quase tudo anda a passo de tartaruga, sem preocupação para com os amanhãs nacionais, parecendo até que os executivos da área carregam às costas um pesado fardo, sem compromisso algum para com futuros redentores do país?

O reflexo de todo esse marasmo bur(r)ocrático pode se retratado numa historieta de fundo bíblico. Repasso-a para os leitores amigos:

“Roboão recebeu mensagem do Criador: os habitantes merecem castigo. O castigo: chuva de 40 dias e 40 noites, até deixar coberta a superfície. Só se salvariam os dotados de objetivos sinceros e pares de animais. Roboão percebeu que Ele o escolhera para gerador de uma nova Humanidade! Mas como não conhecia construção naval, contratou um homem prático, o Noé, ficando ele como presidente do empreendimento. Roboão selecionou os carpinteiros, um pouco mais que o necessário por causa das férias, faltas e feriados. E foi dormir tarde, depois da festança comemorando o início do projeto, incluído no noticiário televisivo local e nacional. Arregimentou seis auxiliares de tesouraria, cinco supervisores, dez auxiliares de serviços gerais, além de treze serventes para a copa e o cafezinho, além de oito assessores diretamente a ele subordinados. O empreendimento logo cresceu em instalações físicas e pessoal. As equipes possuíam ambiente de trabalho, oito grandes cabanas, com divisórias e ar-condicionado, sendo erigidas, restando apenas a conclusão do salão de jogos e da sala de vídeo. A sensação da organização era uma recepcionista, sobrinha do Roboão. De saia quase da largura do cinto, que demonstrava uma habilidade incomum em mostrar as coxas. No sétimo adiamento do projeto, percebeu Roboão a necessidade de ampliar o quadro de pessoal, nele sendo inseridos nove arquivistas, sem a exigência de qualquer escolaridade. Aproveitando o otimismo, assinou convênio com a Escola de Carpintaria, objetivando o fortalecimento da Confederação dos Construtores de Barcas de Grande Calado, recentemente instituída, ele na presidência. As preocupações de Noé aumentaram quando verificou que a organização já contava com 12.858 contratados, oitenta e cinco por cento deles lotados na área-meio. Alertado para o desastre, Roboão ensaiou uma desculpa para livrar-se de Noé, contratando mais trezentos auxiliares, com salário acima da média, com sessenta dias de férias anuais, tíquete-refeição, vale-transa, seguro-saúde. participação nos lucros e aposentadoria subsidiada. Uma tática que calou a boca dos descontentes. Encarecendo a vigésima segunda prorrogação, Roboão recebeu uma resposta lacônica: ‘Elevação das águas em andamento. Prazo final improrrogável’. Aturdido, convocou uma reunião geral, inclusive com a equipe de Controle de Qualidade Industrial, recém chegada de um congresso, no outro lado da montanha. A conclusão, unânime, culpou mais uma vez o Noé pelo ritmo do projeto, com o agravante dele jamais ter apresentado diploma de doutorado em instituição de notório saber. Na saída, Noé apenas contou com o apoio de dois companheiros, que lhe fizeram companhia, convencidos da sua idoneidade profissional. Findo o último prazo, uma chuva forte se abateu sobre a região, inundando a área do empreendimento. E quando tudo estava coberto pelas águas, Roboão e equipe trepados em cima de uma árvore aguardando a morte, um barco surgiu no horizonte. E na proa, numa tabuleta toscamente afixada, podia-se ler: Arca de Noé”.

O Stanislau Ponte Preta dizia que o Brasil tem muitas iniciativas e poucas acabativas. E as continuativas? E o Mino Carta, da Carta Capital, explicita com maestria o retrato brasileiro: “A maioria dos brasileiros não possui a consciência da cidadania e até hoje 1% da população é dona das terras férteis. Temos um povo resignado e uma elite, salvo raras exceções, exibicionista, ignorante, mal-educada e terrivelmente provinciana. … Não é por acaso que quaisquer estudos, pesquisas e estatísticas sobre ensino exibem a precariedade do próprio”.

Quando se fará a hora, não mais esperando acontecer?
PS. Num país, onde médico receita por escrito cadeado para paciente emagrecer, está na hora de se reestruturar todo Ensino Superior Brasileiro.

(Publicada em 12.11.2012, no Jornal da Besta Fubana, Recife, Pernambuco)
Fernando Antônio Gonçalves