ALERTA DE POETA


Quem observa os atuais atos de vandalismos praticados nos principais centros urbanos do país, inclusive espancamentos de autoridades militares, percebe que a nação brasileira está a necessitar de uma urgente reformulação das suas estruturas sociais, muito além dos assistencialismos eleitoreiros.

Para os que se sentem existencialmente desconfortados, uma lição primeira do poeta luso Fernando Pessoa, uma admiração de longo percurso: “Se um homem criar o hábito de se julgar inteligente, não obterá com isso, é certo, um grau de inteligência que não tem; mas fará mais da inteligência que tem do que se se julgar estúpido”. Muitos ainda imaginam que o “coitadismo imbecilizante” é o caminho mais curto para se sair dos atoleiros brabos mediante vandalismos desvairados, menosprezando o balizamento magistral do autor de Tabacaria (“Tenho em mim todos os sonhos do mundo”).

E mais disse, o poeta preferido do meu amigo querido José Paulo Cavalcanti Filho, talento pernambucano que bem justifica suas raras manifestações de vaidade, parecendo antever as ações dos mascarados facínoras e dos militares que retiram malandramente suas identificações das fardas: “Passai frouxos que tendes a necessidade de serdes os istas de todos os ismos; passai, radicais do Pouco, incultos do Avanço, que tendes a ignorância por coluna da audácia; passai, gigantes de formigueiro, ébrios da vossa personalidade de filhos de burguês, com a mania da grande-vida roubada na despensa paterna e a hereditariedade indesentranhada dos nervos; passai, bolor do Novo, mercadorias em mau estado desde o cérebro de origem; passai, decigramas da Ambição; passai, cerebrais de arrabalde; passai, senhores feudais do Castelo de Papelão; passai, cabeças ocas que fazem barulho porque vão bater com elas nas paredes; passai, absolutamente passai, porque o que aí está não pode durar, porque não é nada!!”.

Percebia Fernando Pessoa, com um estupendo faro premonitório, que algo bem mais “solto” que a simples razão abriria as portas da criatividade, inventando futuros, construindo efeitos diferenciados dos até então moldados, ampliando utopias e assegurando um “gerenciamento” mais efetivo dos riscos assumidos: “Só uma grande intuição pode ser bússola nos descampados da alma”. E mais: “Frutos, dão-os as árvores que vivem, não a iludida mente que só se orna das flores lívidas do íntimo abismo”.

Numa reunião de aniversário recente, onde estava eu num canto, ainda recheado de muitas saudades, testemunhei um assunto de discussões e imensas gozações, posto que o grupo como um todo, amolecadamente, se dividia entre os que acreditavam no sucesso via conhecimento e os que punham fé nos louros da vitória via a utilização sistemática de outros dois hemisférios, os situados logo abaixo da espinha dorsal, muito conhecidos como “nichos intelectivos da mulher-melancia”. Apesar das “distâncias” entre os dois polos de discussão, todos estavam de pleno acordo com William James, o notável educador norte-americano: “A maior descoberta da minha geração é que os seres humanos, alterando suas atitudes mentais, podem alterar a própria vida”.

Depois de quase duas garrafas de bom escocês, presenteadas por participante financeiramente mais aquinhoado, porque médio empresário, alguns mandamentos foram estabelecidos como requisitos básicos para um caminhar mais consistente na direção de novos cenários, a partir de um 2014 eleitoral que se aproxima numa evolução da gota serena. Decálogo indispensável para todos, alerta maior para aqueles que foram gerados em pé numa rede e que sempre transformam lagartixas em gigantescos jacarés, jamais acreditando, porque dicotômicos, numa saudável terceira via além das atuais posturas ideacionais. Ei-lo:

1. Nenhuma instituição ensina sucesso, posto que a chave para o sucesso está na sua maneira particular de pensar. E com os olhos para os amanhãs, os ontens apenas servindo para não mais repetir certos encaminhamentos. Nunca se olvidando da reflexão de Galileu Galilei, um que quase se lasca nas unhas da Santa Inquisição: “Não se pode ensinar nada a um homem; só é possível ajudá-lo a encontrar a coisa dentro de si”.

2. Todo mal é um bem não devidamente compreendido, posto que “topada só bota pra frente”, já encarecendo o sambão famoso que o melhor remédio é “levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima”.

3. As oportunidades se encontram, no mais das vezes, no meio das dificuldades, jamais sendo menosprezada a advertência voltaireana: “quem se vinga, depois da vitória, é indigno de vencer”.

4. Sozinho, não se chega a lugar algum, o Winston Churchill nunca sendo menosprezado: “Um amigo é alguém que gosta de você, apesar do seu sucesso”.

5. Jamais alimente porcos com pérolas, nem crie pequeninas serpentes que amanhã lhe alfinetarão letalmente. Que sua lápide, após cumprida sua missão por aqui, seja a de quem soube ser sábio: “Aqui jaz um homem que soube ter junto a si homens que eram mais inteligentes que ele”.

6. O que se pode ver não passa de um simples derivado, posto que a verdadeira sabedoria sempre se estrutura solidamente a partir de algo que os olhos não veem.

7. Vencer todas as batalhas não é mérito maior. O maior mérito é quebrar a resistência dos inimigos sem lutar, apenas conhecendo-os e se conhecendo plenamente.

8. Jamais ajudar alguém, fazendo por ele o que ele mesmo pode e deve fazer, pois é assim procedendo que se multiplica a decadência e a pusilanimidade.

9. O que se tira da Vida é o que se coloca na Vida, cada um sempre merecendo os resultados que suas próprias ações criaram.

10. Saber sempre que o sucesso é maior quanto se sabe rir, quando se aprecia a beleza, quando se ganha o respeito de pessoas inteligentes.

Por tudo isso, perceber-se sempre inconcluso já é um admirável bom começo para gregos e troianos, crentes e agnósticos. Admitindo que a escada do sucesso de uma nação jamais tem o último degrau, uma excelente maneira de comprovar a tese de que quem gosta de reviver somente o passado é museu.

(Publicada em 28.10.2013, no Jornal da Besta Fubana, Recife, Pernambuco)
Fernando Antônio Gonçalves