ALERTA DE MUITA VALIA


Passadas as eleições de outubro, uma emergência se impõe: a da reforma política brasileira, para a ampliação da cidadania pátria. O futuro do país está a exigir um quadro partidário mais consistente, com ideários desmitificantes, com pano de fundo que foi definido pelo Herbert de Souza, o Betinho: “Para mim, mais importante que o Estado é a sociedade, mais importante que qualquer governo é a ação da cidadania. Este é o meu credo. Entre o presidente e o cidadão, fico com o cidadão. Meu antiestatismo não tem a mesma origem do pensamento neoliberal. Sou crítico do Estado porque quero democratizá-lo radicalmente, submetê-lo radicalmente ao controle da sociedade, da cidadania. Não quero o Estado no planalto, mas na planície. Não quero o presidente, mas o cidadão. Não quero o salvador, mas o funcionário público eleito para gerenciar o bem comum”.
Na perspectiva do Betinho, todo cuidado é pouco com as leituras tronchas que apontam como positivo tudo aquilo que é proveniente da sociedade civil, as coisas do Estado sendo marcadas como negativas. A expressão “sociedade civil” está sendo utilizada com significados os mais diferenciados possíveis. É preciso perceber que “a formação de uma sólida e autônoma sociedade no Brasil só poderá surgir do amadurecimento das liberdades democráticas, da elevação sociocultural das massas, da vontade coletiva e da iniciativa de muitas forças sociais organizadas, sem recorrer a métodos demagógicos e a mitos totalitários”, segundo Giovanni Semeraro, autor do livro Gramsci e a Sociedade Civil, editado pela Vozes.
Depois de outubro, que se ampliem as alianças contra uma política governamental que, a partir de 1995, mediocrizou a economia, esfrangalhou o social, obsoletou o serviço público e ampliou a vulnerabilidade externa do país. Torna-se imperioso o estudo das causas que favoreceram a inserção internacional passiva do Brasil, diferentemente na China, hoje a economia de maior eficiência dinâmica do planeta. Para exemplificar, no ítem participação percentual no comércio mundial, exportação de manufaturados, anos 1980 e 1999, os dados do Brasil são, respectivamente, 0,70 e 0,61, enquanto os dados da China são, para os mesmos anos, 0,80 e 4,11. E para acentuar a “africanização” brasileira, ressalte-se que a participação da renda do grupo 1% mais rico aumentou de 13,5%, em 1996, para 13,9% em 1997, o número de pobres passando de 50,2 milhões, em 1995, para 53.1 milhões em 1999.
A partir de 1995, o Brasil tem sofrido uma crescente “africanização”, adjetivação dada por Reinaldo Gonçalves, ganhador no Prêmio Jabuti 2001, na área de Economia. No seu livro Vagão Descarrilhado, ele identifica os cinco processsos dessa “africanização” iniciada em 1995: desestabilização macroeconômica (crescimento medíocre da renda per capita, desemprego elevado, degradação das contas públicas, deficit crônico do balanço de pagamentos), desmonte do aparelho produtivo (taxas decrescentes e baixos investimentos, desnacionalização, desaparecimento do sistema nacional de inovações), esgarçamento do tecido social (miséria, pobreza, violênca, aumento do consumo de drogas, tensão e desigualdade), deterioração política e institucional (meios de comunicação, polícia, forças armadas, judiciário, partidos políticos) e perda de governança (incompetência, má gestão, perda de legitimidade e corrupção).
A subsaarização do Brasil, a partir de 1995, não deve ser somente atribuída ao presidente FHC, mas sim a todos aqueles que do seu ministério participaram, pouco adiantando, hoje, se passarem por cordeirinhos de olhinhos cândidos.
Votar bem é contribuir para a cidadanização do todo. Sem ufanismos messiânicos, nem maniqueísmos cavilosos. Voto nulo ou branco é um desserviço ao Brasil, um modo de ser ajumentado com um título de eleitor nas mãos.