ALÉM DESCONHECIDO


Cientistas do mundo inteiro tentam explicar um aspecto perturbador do nosso Cosmo: por que somente 4% dele são feitos da mesma matéria encontrada em nós, nos planetas e na estrelas, em todos os objetos que conhecemos, o restante sendo absolutamente desconhecido ainda?

Num livro de leitura não cientificista, não chatocrática, o premiado jornalista Richard Panek, divulgador de temas astronômicos e cosmológicos, nos proporciona esclarecimentos surpreendentes. Através de uma narrativa ágil, sem frescobolizações que identificam os embromatológicos de todos os tempos, De Que É Feito O Universo?, Zahar, 2014, lançado em abril passado, traz, segundo a Kirkus Reviews, “um relato extraordinário de como os astrônomos descobriram que não sabemos quase nada sobre 96% do cosmo”. Comprovando que, tal e qual na época de Galileu Galilei, aquele que quase se lascou nas mãos da Inquisição, o nosso entendimento do Universo se encontra totalmente errado: que apenas toda a matéria que conhecemos nada mais é que uma parte insignificante da nossa existência, consistindo no maior mistério da ciência.

Na orelha do livro, um esclarecimento: “Baseado em minuciosas pesquisas e em centenas de entrevistas com cientistas envolvidos, Panek expõe com ineditismo uma história vívida, trazendo à tona os segredos escondidos de um mundo específico, muito distante do nosso cotidiano. … Recheado de detalhes de uma corrida científica que levou alguns dos seus protagonistas ao Nobel de Física, o livro oferece um retrato íntimo de rivalidades, colaborações, momentos de descoberta e becos sem saída que construíram um novo desenho da ciência do cosmo e do próprio Universo, um Universo que estamos começando a explorar”.

Segundo Panek, em 1610 Galileu anunciou ao mundo, através de um telescópio por ele fabricado, que o Universo era composto por muito mais do que podia ser visto. E descobriu montanhas na lua, satélites em Júpiter e centenas de estrelas. Mal sabia ele que, quatrocentos anos depois, seriam reveladas “novas luas ao redor de outros planetas, novos planetas ao redor do Sol, centenas de planetas ao redor de outras estrelas, 100 bilhões de estrelas em nossa galáxia e centenas de bilhões de galáxias além da nossa”. E que, em plena segunda década do século XXI, o Universo estaria tão desconhecido quanto o modelo de cinco planetas que Galileu tinha herdado da Antiguidade.

A conclusão de Planek é muito honesta: “O Universo que pensávamos conhecer desde que a humanidade observa o céu noturno é apenas uma sombra do que verdadeiramente existe. Estivemos cegos para o Universo verdadeiro porque ele é feito de algo além do que a vista alcança. Esse Universo é o nosso Universo – um Universo que estamos apenas começando a explorar. Estamos em 1610 novamente”.

Um livro sedutor, o do Panek. Próprio para os talentos nacionais do amanhã brasileiro.

(Publicado no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco, 13.06.2014
Fernando Antônio Gonçalves