AGENDA BRASILEIRA (2)


Depois dos resultados das urnas, quando muito messianismo se prostrará sem alternativas até a Copa do Mundo de 2014, onde alguns tentarão sair das suas sepulturas sem lápides, seria interessante que a nossa sociedade civil assimilasse mais conhecimento sobre as mudanças que estão se verificando no cenário nacional, deixando de lado o besteirol, as ilusões religiosas, as idiotias ufanosas e as cavilosidades de uma classe média que urge sair das suas frivolidades autofágicas para uma apreensão maior de Brasil, sua mazelas, seu desafios e os obstáculos a serem enfrentados nas próximas décadas, sob a responsabilidade de todos.

Se me perguntassem como deveria ser a ampliação de uma caminhada cidadã, eu recomenaria a leitura de Agenda Brasileira – Temas de uma Sociedade em Mudança, editado pela Companhia Das Letras em 2011, estruturado sob a coordenação de André Botelho e Lilian Moritz Schwarcz. O primeiro, professor do Departamento de Sociologia da UFRJ, a segunda, docente do Departamento de Antropoligia da USP.

Num momento histórico onde o Brasil está sendo visto como nação em plena emergência e liderança latinoamericana, integrante do BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China, os organizadores objetivaram favorecer um maior conhecimento sobre a nossa realidade, sem ufanismos nem denuncismos, favorecendo a ampliação de uma cidadanização crítico-libertadora, seguindo a lição deixada por Rudyard Kipling: “Mostrar seus sentimentos é arriscar-se a se expor; dar a conhecer as suas idéias, os seus sonhos, é arriscar-se a ser rejeitado; amar é arriscar-se a não ser retribuído no amor; viver é arriscar-se a morrer; esperar é arriscar-se a desesperar; tentar é arriscar-se a falhar. Mas devemos nos arriscar! O maior perigo na vida está em não arriscar. Aquele que não arrisca nada, não faz nada, não tem nada, não é nada!”.

Alguns dos ensaios merecem destaque: Campo e cidade: veredas do Brasil moderno; Cidadania e Direitos; Democracia: origens e presença; Desenvolvimento e Subdesenvolvimento; Educação no Brasil; Homossexualidade e movimento LGBT; Identidade nacional; Mandonismo, Coronelismo, República; Partidos Políticos no Brasil; Religiões no Brasil; e Metamorfoses da Velhice, entre tantos temas de muita significação.

Nada irrita mais que conversa de ser humano abestado, aquele que se encontra integralmente desligado de tudo e de todos, como se o tempo estivesse estagnado, aguardando a integração dos que se ficaram nos anteontens. Vez por outra deparo-me com um, de carro zerinho, relógio gota serena, iPad e celular dos mais tampas, olhar de desdém para com o resto da humanidade e frases pré-fabricadas, tiradas geralmente de um senso comum defasado que não bota ninguém pra frente.

Conversei semana passada com um sujeito metido a gente, sentindo a sensação de ter encontrado uma espécie não-rara do atual cenário brasileiro. Que será amplíssima maioria, caso as autoridades responsáveis pelos nossos destinos, juntamente com os demais segmentos comunitários, não binoculizarem estratégias compatíveis com as metas de um desenvolvimento econômico-social que privilegie um saber-fazer-e-acontecer lastreado numa responsabilidade jamais individualista, conservadas as peculiaridades de cada um.

(Publicado no Jornal do Commercio, Recife, Pernambuco, 05.10.2012)
Fernando Antônio Gonçalves