A VOLTA DO IMBECIL


Por favor, ninguém tome a carapuça. Trata-se de uma revista francesa – L’Imbécile – que retornou às bancas após um breve período de ausência. Um periódico que se inspira num slogan do escritor Julien Green, eternizado em 1998: “Mesmo no homem mais inteligente, há sempre bastante estofo para fazer um imbecil”.
A reportagem sobre O Imbecil, eu a li na revista Primeira Leitura de junho, editada pelo Luís Carlos Mendonça de Barros. E fiquei a matutar com os meus botôes, numa época de pensamento único, onde todo mundo parece seguir a cartilha do Chapeuzinho Vermelho, aquela que bobamente foi enganada pelo lobo mau que traçava até as vovozinhas, hoje cada vez mais portadoras de saborosas carnes, graças aos botox, tirox, enfiox, retirox e eliminox, além das cânulas sanguessugas, as tais que diminuem os bolsões nunca de pobreza, deixando o que era rechonchudo transformado em terreno plano, desamolegante por excelência.
É sempre bem vinda uma revista inteligente, mesmo no continente europeu, que foge das mesmices retrógradas de uma direitona muito estúpida, das messiânicas posturas de uma esquerda dinossáurica, matando a cobra e mostrando o pau, todinho, para aqueles que se fantasiam de PP (pessoas progressistas), enganando os historicamente lesos e os mentalmente abestados. Também distanciada quilômetros das revistas norte-americanas metidas a engraçadas, que deixam os de lá se urinando de tanto gargalhar, mesmo que a partir de um humor construído sobre dez tostões de neurônios.
O segundo número de O Imbecil traz uma definição antológica sobre o que seria um demagogo eleito: “Ele não vem de lugar nenhum. E se dirige para lugar nenhum. Nada é pior do que um visionário, um homem providencial, um profeta. O futuro é pesadelo dos franceses, então, melhor que seu edificador seja inodoro, banal e sorria gentilmente”. E a inspiração desta definição se pauta no pensar do semiólogo Roland Barthes (1915-1980), explicitado no seu livro Mitologias.
Creio quem o Brasil está muito bem servido de inteligências que desconstroem falsidades e besteiróis, imitações baratas e babaquices políticas, para não falar das baboseiras técnicas, dos debates inócuos, dos argumentos e hipóteses asneirentas e das modas que apenas ressaltam o cenário pélvico de adolescentes lindas e coroas nostalgicamente ainda esperançosas.
Para os entendidos em desmontagens das posturas aparentemente sérias, ousaria sugerir alguns temas bastante atuais. Ei-los:
1. Para se comemorar a data natalícia do dominador Maurício de Nassau, por que se olvidam os feitos dos heróis da Restauração Pernambucana? Será que eles não deveriam ter posto pra fora os que nos tinham invadido?
2. O resultado do DNA de uma das jovens assassinadas em Serrambi apontará finalmente o(s) autor(es) do duplo assassinato? Ou apenas provocará mais tristezas e atordoamentos entre parentes, admiradores e amigos?
3. Nos deslocamentos de barreiras e nos casos de despudorados alagamentos, não seria mais adequada uma efetiva política de urbanização RMR que evitasse, sem demagogias nem prevaricações, as quedas e os lagoamentos futuros?
4. Por que, nos programas e novelas televisivas, o erotismo desnecessário e os amassos quase despudorados substituíram a criatividade lúdica e o suspense bem tramado? Ou será que os níveis neuroniais e analíticos dos telespectadores diminuíram dramaticamente?
5. Por que as autoridades educacionais brasileiras não estão se preocupando com os talentos infanto-juvenis das escolas públicas, imaginando todos aptos para os esportes e nunca para as áreas científicas e artísticas, salvando as exceções que são pontuais por excelência?
Cinco pontos, cinco perplexidades sentidas, cinco questionamentos cidadãos. De um professor universitário que seguiu o conselho da Cora Coralina: Aprendi que mais vale lutar do que recolher dinheiro fácil.