A SINA DOS AGACHADOS
Outro dia, aqui no Recife, alguém foi convidado para um café com bolachas na casa de um renomado líder político, consagrado nacionalmente por saber administrar bem os rincões estaduais. Recusou delicadamente, alegando que o seu chefete partidário poderia não gostar, sendo muito provável sua queimação, se comparecesse. E uma amizade sólida quase ficou chamuscada por uma frouxura tamanho família. Um cagaço de entrar pro livro dos recordes. Tal e qual aquele narrado pelo Ariano Suassuna, n’A Pena e a Lei.
Na Semana Santa reli Viicius de Morais. E me extasiei com um dos seus poemas, aquele que dá um baita puxavão de orelhas nos auto-considerados “puros”. Transcrevo duas estrofes suas, encarecendo ao leitor amigo dispensar mais uns minutos de reflexão, para o bem de um Brasil para brasileiros. A primeira: “Ó vós, falsos Catões, chichisbéus de mulheres/ Que só articulais para emitir conceitos/ E pensais que o credor tem todos os direitos/ E o pobre devedor todos os deveres”. A segunda: “Ó vós, homens da sigla; ó vós, homens da cifra/ Falsos chimangos, calabares, sinecuros/ Tende cuidado porque a Esfinge vos decifra…/ E eis que é chegada a vez dos verdadeiros puros”.
O alerta do poetinha tem endereços certos até hoje. Ele recomenda que sejamos mais reflexivos, menos puritanos e moralistas, mais solidários e fraternos. Muito mais unidos com aqueles que ainda ousam sonhar com um Brasil todo arretado no Concerto das Nações Taludas, onde deverá prevalecer menos estrelares análises sociológicas e mais coragem cívica de salvaguardar interesses nativos.
O Brasil como um todo começa a possuir uma consciência coletiva acerca da necessidade de se implantar e de se exercitar, nos setores empresariais e públicos, um amplo conceito de qualidade, abandonando-se aquela ideia de que o conceito se encontra afeto apenas ao produto final. Eficiência na saúde, na educação, nos transportes, no judiciário, na segurança pública e na infra-estrutura como um todo, depende de uma vontade política que somente será exercida para o bem-estar de todos através da ampliação da cidadania brasileira, atualmente ainda em incômodo estágio letárgico.
Tenho muito medo daqueles planejadores que se arrogam no direito de menosprezar opiniões comunitárias. E que fazem ouvidos de mercador para uma oportuna advertência de Stephen Hawking, um dos mais brilhantes físicos teóricos contemporâneos, vítima de uma colossal neuropatia motora: “A Física é muito bela, mas é completamente fria. Como toda gente, preciso de calor, amor e afeto”.
Os agachados, que se auto-classificam interiormente de todofu, descuidam-se das suas habilidades, desamam-se, destroem estratégias e sempre estão vivenciando situações complicadas, transformando lagartixas em jacarés, desesperando-se ao se defrontar com um jacaré de mesmo, ainda que bem pequenininho. Sem conseguir colocar a pedra no topo da montanha, tal e qual Sísifo, estão mais preocupados com o esforço do que com o êxito, não terminando nada que iniciam, sempre reiniciando, planejando quase nunca, nem cumprindo o estabelecido. São destituídos de ritmo, vivem à cata de geniais soluções, procuram sempre sobreviver no quase, não se comprometem com nada, olvidam-se de detalhes fundamentais e desrespeitam os compromissos, por menores que eles sejam. Salvo as práticas puxasaquísticas que atemorizam os bagos dos temporários donos do poder.
Que sejam despertadas as lideranças brasileiras para iniciativas que favoreçam a maioria da nossa gente. Com muito calor solidário, amor fraternal e afeto pelo futuro de todos. Como o Homão da Galileia sempre ensinou, mesmo sofrendo morte de cruz, por dedurismo dos escrotos da sua época.
(Publicada em 16/04/2012, no Portal da Revista ALGOMAIS, Recife – PE)
Fernando Antônio Gonçalves