A LIÇÃO FINAL


Recomendado entusiasticamente pela minha amada mulher Melba, que recebeu da Maria da Paz, uma professora talentosa e amiga querida, PhD de louvor máximo, principiei a ler o livro A Lição Final, de Randy Pausch (1960-2008), editora Agir, 2008, um professor de Ciência da Computação da Carnegie Mellon University, buscando entender melhor as razões de um professor que, em fase terminal de vida e com dez tumores no fígado, resolvera escrever um livro baseado numa palestra de despedida proferida em setembro de 2007, na sua universidade.

Comecei meio desligado e terminei o livro muito emocionado com o exemplo dado pelo autor, que buscava, em sua última palestra, transmitir aos seus filhos e aos futuros alunos da Universidade alguns balizamentos sociais é éticos sobre um trans-humanismo que se agiganta pelos quatro cantos do mundo, favorecendo um futuro da humanidade mais solidário e menos tecnicista através de uma interdisciplinaridade radicalmente interdependente, onde nenhuma saber deveria se sentir sobrepujado pelos demais.

Ao iniciar sua palestra última, Randy foi enfático: “Se houver alguém que tenha entrado aqui e não saiba o que está me acontecendo agora, meu pai sempre me ensinou que, se houver um elefante na sala, trate de apresentá-lo. Se olharem minhas tomografias computadorizadas, verão aproximadamente dez tumores em meu fígado. Pois bem, não podemos mudar. Temos que resolver como reagir. Não podemos trocar as cartas que recebemos, mas apenas pensar como jogar”.

Diante de uma plateia extasiada, Randy principiou a declinar alguns balizamentos que muito deveriam favorecer a vida futura dos seus familiares e os amanhãs dos alunos da Carnegie Mellon University que tanto amava. Eis uma mínima amostra das inúmeras contidas no livro:
– Se você tem uma pergunta, trate de encontrar a resposta.
– Não fique observando o tempo passar. Abra uma enciclopédia, um dicionário, pois somente assim abrirá sua mente.
– Em suas aulas, se você se refere a experiência de outra pessoa, tudo parecerá menos arrogante e mais aceitável.
– O simples fato de estar ao volante não significa ter o direito de passar por cima dos outros.
– Até hoje, se alguém me pergunta como eu era em criança, digo que eu era sempre atento, mas não muito precoce. Aos pais que elogiam os filhos como se fossem gênios, recordo-me da minha mãe que achava que “alerta” bastava como elogio.
– Meu pai não simpatizava muito com as religiões organizadas, preferindo se dedicar a ideais mais nobres. E dizia sempre que a igualdade era o maior de todos os objetivos sociais da humanidade.
– As crianças precisam saber que os pais as amam muito. E os pais não precisam estar vivos para isso acontecer.
– Se seus filhos quiserem pintar os respectivos quartos, façam-me o favor de permitir. Será muito bom. Não se preocupem com o valor de revenda do imóvel.
– O mais importante dos dribles é aquele que ensina as pessoas coisas que elas só se darão conta de que estão aprendendo quando o processo já estiver em pleno andamento.
– Meus pais eram frugais. Diferentemente de muitos americanos, jamais compraram algo com o propósito de impressionar os outros, nem para proporcionar luxo a si mesmos. Mas ficavam felizes em comprar enciclopédias caras, pois ofereciam o dom do conhecimento a mim e à minha irmã.
– Não tenho muita paciência para a incompetência.
– O maior objetivo de um professor é o de ajudar seus alunos a aprenderem a se avaliar.
– Muita gente passa a vida lamentando seus problemas. Sempre acreditei que quando se aplica um décimo da energia das reclamações na tentativa de resolver o problema, tem-se surpresas em constatar que tudo pode dar certo.
– Procure ver o melhor em todos.
– A sorte aparece quando o preparo se une à oportunidade.

Vale a pena ler o livro A Lição Final, de Randy Pausch, um nascido em 23 de outubro de 1960 e eternizado em 25 de julho de 2008, que teve um câncer pancreático, sofrendo posteriormente metástase em outros órgãos. Sua palestra, proferida em 18 de setembro de 2007, na Carnegie Mellon University, ainda hoje repercute intensamente nos meios acadêmicos das universidades da região.

Um professor que demonstrou muita bravura, nunca confundindo afetividade com fricote de religioso fresquelete, que nunca comeu um churrasco para não se entregar aos prazeres da carne.

(Publicada em 10.02.2014, no Jornal da Besta Fubana, Recife, Pernambuco)
Fernando Antônio Gonçalves