1618 – REFLEXÕES SEMEADORAS


Muito gente pensa que inexistem reflexões analíticas civilizadas, imaginando tudo resolver com violências, golpes de estado, fake news, fuxicos e babaovismos internacionais, a la Joaquim Silvério dos Reis, aquele que dedurou os inconfidentes, martirizando Tiradentes.

Atualmente, fazer urgente reconhecimento dos gigantes de fanfarra e dos anões golpistas é dever cidadão, tática primeira para toda estratégia de sobrevivência soberana de um regime democrático, preservando uma salutar sobrevivência política. Urge desenvolver uma Cultura da Cidadania, erradicando os mentalmente ananzados e os granfas grandalhões que apenas fingem ser gente, sem lastro cívico, que apenas encarecem reduções de pena quando se veem de tornozeleira eletrônica e em prisão domiciliar, sem contatos com o mundo exterior.

Em todo sistema político, não deve haver unanimidade, mas variedade na unidade, posto que, quando alguém discorda com bons argumentos, seguramente está complementando.

Em todo ambiente democrático, as partes envolvidas devem se portar com sentimento de ser parcela, percebendo que a Política é uma dimensão interior da própria Fé, explicitada sempre em proveito comunitário. Nunca nos esqueçamos d’Aquele que proclamou um dia que, se tivéssemos fé, faríamos coisas melhores que as feitas por Ele.

Num país onde a ética comportamental é ridicularizada pelos que apregoam que “dinheiro compra tudo” e “quem tem leva vantagem em tudo”, o nosso sistema educacional fundamental deve atentar para consolidar um PD – Pensamento Desalienante, sempre defenestrando em definitivo o que esteja historicamente superado, obsoleto, favorecendo a evolução do que seja contemporaneamente evolucionário e saudável para a maioria.

Permanentemente, é dever de todo pensante não ruminante desconfiar das posturas políticas enganosas, como também das ruidosas esculhambações sectárias dos que se ´portam como fascistas por influência paterna. Um dia, sabiamente, o escritor italiano Umberto Eco proclamou: “a Terra é redonda; não se pode ir à esquerda demais, pois pode-se terminar dando a volta e situar-se na outra extremidade”.

Definitivamente, preguiça, ignorância, violência e incompetência não são armas para quem busca transformações sociais consequentes e duradouras.

A pior praga do setor público brasileiro, depois da corrução, é a burocracia, irmã gêmea da primeira. Todo burocrata acredita em infalibilidades administrativas. Todo burocrata, além de pouco pensante, possui um ideal: o de transformar todos em ninguém.

Todo ser humano alienado é nostálgico, integralmente descompromissado com os seus derredores, sempre praticando os mesmos procedimentos que o vitimaram, sempre buscando outras pessoas para também vitimar.

São quatro os mandamentos da má tecnocracia:

a. Só é justo o poder exercido em nome do saber; b. Saber, só conhecimento técnico-científico; c. O poder é exercido acima das paixões e das ilusões; d. O saber técnico-científico é a única fonte capaz de fornecer os critérios e os métodos de decisão.

Um dia, um amigo meu muito amado chamado Dom Hélder Câmara, nos deu uma lição inesquecível: “Até um relógio parado tem razão duas vezes ao dia.”

No mais, sigamos sempre a recomendação, enviada do Além, pelo sempre amado Arcebispo Metropolitano de Olinda e Recife Dom Hélder Câmara: “Continuemos atentos, vigilantes, diante das falsas justificativas a nós impostas a pretexto do cômodo bem-estar que representa, em última análise, uma sentença de morte anunciada.” IN: NOVAS UTOPIAS, Dom Hélder Câmara (Espírito), psicografado por Carlos Pereira, Belo Horizonte, Editora Luminus, 2007, 292 p. Com um prefácio de Inácio Strieder e Apresentação do teólogo religioso Marcelo Barros.


Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social