1611 – INTUIÇÕES PESSOANAS
Um pernambucano notável, intelectual de primeira, também jurista de nomeada, o José Paulo Cavancanti Filho, hoje integrando a Academia Brasileira de Letras, tem uma especialidade que muito admiro: ser um profundo estudioso da obra do poeta luso Fernando Pessoa, de nome complerto Fernando Antônio Nogueira Pessoa.
Entre as análises eruditas elaboradas sobre Pessoa, o Zé Paulinho escreveu uma que merece toda a atenção do mundo pensante brasileiro, onde conservadores e progressistas sensatos devem dialogar em prol de amanhãs brasileiros mais positivamente correlacionados com uma pós-modernidade dinamicamente humanizante, embora teconologicamente sempre evolucionária.
O livro notável intitula-se FERNANDO PESSOA: O LIVRO DAS CITAÇÕES, José Paulo Cavalcanti Filho, Rio de Janeiro, Editora Record, 2013, 255 p. Sobre o poeta, o José Paulo Cavanti o define na Apresentação do livro: “Há mesmo homens que morrem quando morrem. E os que morrem aos poucos, na lembrança dos amigos ou no que escreveram pela existência. Mas há também os escolhidos pelos deuses. Eternos. Como Fernando Pessoa.”
Do livro aplaudido, escolhi as intuições pessoanas que mais me impactaram, com a classificação feita pelo próprio Zé Paulinho, com o heterônimo utilizado por Pessoa e a fonte do texto escrito pelo luso.
Alma – “A alma é divina e a obra é imperfeita / Da obra ousada, é minha parte feita; / O por-fazer é só com deus.” (Mensagem, Fernando Pessoa)
Aprender – “Isso exigeum estudo profundo / Uma aprendizagem de desaprender.” (O guardador de rebanho, Alberto Caeiro)
Asas – “Quanto mais eu abro as asas / Mais sei que não sei voar.” (Canção com eco, Fernando Pessoa)
Calar – “Quem sente muito, cala / Quem quer dizer quanto sente / Fica sem alma nem fala / Fica só, inteiramente!” (Sem título, Fernando Pessoa)
Deus – “Senhor! Dá-me alma para te servir e alma para te amar. Dá-me vista para te ver sempre no céu e na terra, ouvidos para te ouvir no vento e no mar, e mãos para trabalhar em teu nome.” (Prece, Fernando Pessoa)
Hoje – “Todo hoje tem um amanhã.” (Últimas palavras, Fernano Pessoa)
Ironia – “A ironia é o primeiro indício de que a consciência se tornou consciente.” (Livro do Desassossego, Fernando Pessoa)
Matemática – “A ciência mais exata é a matemática, que vive na clausura das suas próprias regras.” (Liivto do Desassossego, Fernando Pessoa)
Nascer – “Sinto-me nascido a cada momento / Para a eterna novidade do Mundo.” (O guardador de rebanho, Alberro Caeiro)
Obra – “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.” (Mensagem, Fernando Pessoa)
Pessimismo – “Ser pessimista é tornat qualquer coisa como trágica e essa atitude é um exagero e um incômodo.” (Luvro do Desassossego, Bernardo Soares)
Religião – “Não importa como a religião nasce. Importa apenas o que é.” (Conceito de religiçao, Fernando Pessoa)
Ser – “Sou sempre eu, / O mesmo sempre, graças ao céu e à terra / E a minha clara simplicidade de alma.” – O guardador de rebanhos, Alberto Caeiro)
Saber trabalhar – “Saber trabalhar quer dizer: não fazer um esforço inútil, persistir no esforço até o fim, e saber reconstruir uma orientação quando se verificou que ela era, ou se tornou, errada.” – (Elementos de uma vitória, Fernando Pessoa)
Ver – “O essencial é saver ver. / Saber ver sem estar a pensar, / Saber ver quando se vê, / E nem pensar quando se vê / Nem ver quando se pensa.” (O gardador de rebanhos, Alberto Caeiros)
Vida – “Viver é pertencer a outrem. Morrer é pertencer a outrem. Viver e morrer são a mesma coisa. Mas viver é pertencer a outrem de fora, e morrer é pertencer a outrem de dentro.” (Reflexões, Fernando Pessoa)
Leiamos mais Fernando Pessoa, percebendo sempre que a vida merece ser bem vivida, jamais aborrecida, sempre luminosa, jamais ruidosa, sempre bem atenta aos desafios que nos tentam cotidianamente, buscando prejudicar nossa sorte, até a hora da nossa morte.
Fernando Antônio Gonçalves é pesquisador social